Ergonomia na hora de estudar

Postura e qualidade do mobiliário influenciam na preparação para concursos públicos, estudo e trabalho. Especialistas apontam aspectos que merecem atenção.

Foto: Foto Banco de Imagens

Ergonomia é uma ciência cujo nome vem do grego (“ergon”, trabalho e “nomos”, normas ou leis), que visa estudar o ambiente de trabalho e o ser humano, seu corpo e sua antropometria, no sentido de gerar um posto de trabalho ou um ambiente que seja adaptado àquela pessoa. Quem explica é Lia Costa Mamede,  arquiteta, urbanista e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor).

Kaila Mendes Lima, arquiteta e urbanista que já lecionou nas disciplinas de ergonomia, conforto ambiental e ateliê na Unifor, lembra que essa ciência multidisciplinar, por envolver engenheiros, arquitetos, fisioterapeutas, médicos, entre outros profissionais, vem ganhando destaque, sendo aplicada em situações diversas. “Desde a análise de uma planta fabril e maquinário industrial, ao desenvolvimento de mobiliário, objetos dos mais diversos, até o design de ícones de aplicativos. Isso tudo para tornar a experiência humana mais adequada, confortável, segura e prazerosa”, sinaliza Kaila Lima.

São horas de estudo diário se preparando para o tão sonhado concurso público e o ambiente de estudo é fundamental nessa preparação. A arquiteta Kaila Lima garante que soluções fáceis e acessíveis podem tornar esse espaço melhor para o usuário. As vantagens de investir em ergonomia são significativas e importantes, defende a profissional, pois a produtividade está muito ligada ao conforto e à adequação desses ambientes ao ser humano.

“O nível de concentração, o desempenho, o conforto e, acima de tudo, a saúde, podem ser diretamente afetadas por essas circunstâncias. Cansaço, dores,  letargia, fadiga, lesão por esforço repetitivo (LER), entre outros males, podem ser ocasionados por uma má postura e por um ambiente de trabalho mal adaptado para o ser humano”, afirma a arquiteta. 

Iluminação e leitura
Lia Costa ressalta que não é necessária muita sofisticação para melhorar o seu ambiente de estudo. A primeira medida que ela sugere é na hora de ler, em que a posição da cabeça  voltada para baixo, lendo,  pode gerar muito desconforto na cervical e na região do trapézio. Se a pessoa estiver lendo sentada, numa mesa, por exemplo, ensina a profissional, é interessante visualizar em que base ela vai estar lendo, se é um livro ou uma tela digital. “Sendo uma tela digital, ela deve aumentar o contraste e diminuir o brilho. Ela também deve buscar fontes diferentes de iluminação. Exemplo: não estudar com o quarto escuro e o computador ligado, mas sim procurar colocar uma luminária de mesa próxima, de forma que o bulbo da lâmpada esteja embutido e não fique à vista, e aquela fonte de luz sirva como coadjuvante na iluminação”, alerta Lia.

Ainda sobre a tela do computador ou dos objetos de leitura, Kaila Lima indica que esses objetos devem ficar posicionados na altura do seu olho (quando  sentado), para que seu pescoço não sofra demasiado esforço. 

Ela destaca que a iluminação deve ser suficiente e confortável para que não demande esforços excessivos aos olhos. “Não deve ser muito intensa para não ofuscar, nem pouca que provoque dificuldade, pois em ambos os extremos, o olho sofre. Uma vista cansada ocasiona uma série de desconfortos, inclusive dores de cabeça. O ideal é aproveitar a luz natural do dia sempre que possível, pois ela tende a ser mais agradável aos olhos”, pontua. 

Objetos
Kaila diz para observar a altura das coisas: a mesa deve ser de uma altura (cerca de 75cm) que permita ao braço ficar repousado em 90° em cima dela. É  importante também conseguir repousar o braço todo em cima da mesa e não apenas o antebraço, oferecendo maior apoio e alternativas de descanso e menos sobrecarga no ombro, frisa a arquiteta.

Posicionar a mesa de forma que não fique de frente para uma janela, mas sim de lado, para que a luz não venha a ofuscar sua vista, é uma solução simples que pode fazer uma grande diferença.

A indicação de Kaila Lima para a cadeira é que esta fique numa altura tal que seus pés encostem no chão totalmente (cerca de 45cm), e sua perna fique dobrada também em um ângulo de 90°. O encosto da cadeira deve oferecer amparo para toda a coluna, com uma forma cuja curvatura se adapte ao corpo e proteja a região lombar.

Ela argumenta ainda que é confortável imaginar que a cadeira possa também ser móvel e possibilite algum tipo de movimento, como reclinar um pouco. “Por mais adequada e correta que seja sua posição, nunca é recomendado permanecer nela por um longo período. Portanto, cadeiras que se movem e reclinam  oportunizam essa mudança de postura de maneira confortável”, reforça. 

Lia Costa chama atenção para os pés, que não devem estar suspensos quando a pessoa estiver sentada.

Postura
Se a pessoa tem o costume de estudar deitada, Lia Costa Mamede diz ser interessante que ela observe a posição do pescoço, para que ele não fique muito inclinado. “Se estiver deitado, o interessante é que seja meio sentado. Pode estar com as pernas esticadas, e é interessante um apoio nas costas, um travesseiro também na lombar e atenção à iluminação”, comenta a profissional.

Ela também evidencia como é importante respeitar as pausas, de pelo menos 15 minutos a cada duas horas. Nessas pausas, a pessoa precisa se movimentar, se alongar, de preferência caminhar, olhar para longe e deixar o olho relaxar. “Tem que ser uma pausa mesmo. Não adianta você parar de ler e ir ver um vídeo. Realmente a pessoa tem que se mover e hidratar a coluna, se deitar um pouco no chão, de cinco a dez minutos, para que a coluna possa ser hidratada e a pessoa consiga manter uma saúde melhor dessa coluna e também da parte muscular”, sinaliza a profissional. E isso não dispensa a pessoa de fazer atividade física, ressalta Lia Costa.

Atenção
“As pessoas podem, de imediato, colher alguns benefícios de pequenas melhoras ergonômicas, como colocar um apoio para os pés, levantar a tela, ter uma  cadeira que tenha apoio para os braços proteção na lombar. E é muito importante investir nisso. Uma cadeira, por exemplo, que leva em consideração a ergonomia, vai trazer um conforto muito maior do que a cadeira que é só barata”, argumenta Lia Costa Mamede.

Por isso, ela sugere que, na hora de montar o seu ambiente de estudo ou quando for trocar uma mesa ou uma cadeira deste ambiente, você opte por mobiliários  que já levem isso em consideração, que valorizem a ergonomia e que permitam ajustes. “As coisas que são fixas, que não têm como mudar a altura, são mais  difíceis de funcionar”, opina. Lia finaliza lembrando que “não é só se atentar à questão do mobiliário que vai resolver, mas todo um pensamento, que envolve a rotina, que envolve essa parte física e também a percepção, a forma como a pessoa reage e faz a leitura do mundo e das coisas”, diz.