Quem volta às aulas

Mesmo com a suspensão do retorno das escolas, antes previsto para o início da quarta fase de retomada das atividades no Estado, é unânime que a volta ao ensino presencial terá de acontecer aos poucos.

A realidade de retomada das aulas é complexa, envolve adequação de ambientes, medidas de distanciamento e de segurança sanitária, estratégias de transporte de alunos e novos modelos de rotina, dentro e fora das salas de ensino, que reduzam o contato físico e o risco de exposição ao coronavírus. Nessa perspectiva de retorno gradual, há ainda outras questões como de quem é a prioridade de retorno.

Há argumentos a favor da preferência à educação infantil (até 5 anos) por aspectos educacionais, mas principalmente por questões sociais e econômicas. Vê-se, desde o início da pandemia, que a rede particular já perde alunos dessa idade pela crise financeira e também porque a educação a distância não funciona nem é recomendada para essa faixa etária.

A decisão passa, inclusive, pela preocupação com as mães trabalhadoras. Pesquisadores falam numa geração inteira de mulheres prejudicadas por causa da pandemia. São elas que acabam faltando ou deixando de trabalhar quando a escola não volta e os filhos são jovens demais para cuidar de si mesmos.

Há argumentos nobres também de quem defende primeiro a volta dos mais velhos, principalmente dos que estão no 3º ano do ensino médio, às vésperas de prestar vestibular. Há que se pontuar que, se estão na camada mais pobre da população, são também os mais vulneráveis à evasão escolar, desde antes do cenário de pandemia.

A um passo do ingresso no ensino superior, quanto antes voltarem a ter aula diante de seus professores, sem depender da mediação de telas para estudarem, mais chances têm de entrar numa faculdade. A desigualdade na educação acentuou-se diante da necessidade de tecnologia. Além disso, adolescentes, teoricamente, compreendem melhor a necessidade de cumprir regras sanitárias.

Um estudo do Instituto Unibanco que analisou iniciativas de retomada no exterior mostrou que países como China, Portugal e Alemanha, que já controlaram a Covid-19 e reabriram os colégios, priorizaram os alunos dos anos finais do ensino médio. Já Dinamarca, San Martin e Curaçao abriram os centros de educação infantil. Há decisões, como no Peru e no Paraguai, de manter as escolas fechadas até o fim de 2020. Não é possível saber os resultados ainda.

Pesquisas mostram que haverá múltiplos impactos nos alunos e nos educadores, independentemente da faixa escolar, exigindo um esforço do poder público por um planejamento de volta às aulas articulado entre Educação, Saúde, Economia e Assistência Social. É necessário pensar junto o trabalho dos pais e a escola dos filhos para que se estabeleçam critérios de retorno e protocolos de segurança que precisarão ir além do distanciamento, do uso de máscaras e da higienização rígida.

A urgência maior ainda é garantir a saúde de crianças, adolescentes, jovens e adultos, sem deixar de lado as evidências que mostram que a Educação, especialmente a pública, é um pilar fundamental para a reconstrução de um país após tão profunda crise.