Editorial: O fronte do saber

Diante de uma pandemia, formam-se diversas frentes de combate. Assim se dá por necessidade. A crise é, primeiramente, de saúde pública. Seus efeitos, contudo, se fazem sentir em todas as esferas da vida social, bastando citar o caso mais evidente, da economia. Como num conflito bélico, a situação exige organização e alinhamento dignos de um exército. Requer compromisso e disciplina de todos; por parte das lideranças, clareza das ideias e transparências das ações, tendo em vista não exclusivamente a finalidade última do conflito, mas também o bem-estar daqueles que integram as linhas de frente.

O momento exige a observância do que dizem as autoridades, não apenas políticas, mas em suas diversas áreas de expertise. A classe científica, por exemplo, tem que trabalhar de forma harmoniosa com as administrações públicas e com os poderes políticos. Estes, por sua vez, têm a obrigação ética de ouvir atentamente aqueles que são dotados dos recursos intelectuais especializados para compreender, do ponto de vista sanitário, o comportamento da pandemia.

Não se vê grandes divergências quanto aos alertas e recomendações médicas. O discurso da categoria não se ancora em "achismos" individuais, mas naquilo que já é saber assentado, postulado pela bibliografia especializada. Segue protocolos, baseados em pesquisas e na observação histórica de situações, de alguma maneira, semelhantes.

A hora exige maturidade e confiança nas instituições. O saber científico, ponto comum que transcende línguas e culturas, exerce papel de protagonista nos principais frontes desse embate. Dispensa amadorismo, vaidades e hierarquias inoportunas. O que pesquisadores e profissionais de saúde fazem no momento requer a perícia adquirida por meio do estudo específico de suas áreas de atuação. É sabido que, em diversos países, pesquisadores têm atuado em parceria em busca de vacinas capazes de imunizar a população contra a doença; de criar métodos mais ágeis de detecção da Covid-19; e de tratamentos eficientes para minimizar os efeitos noviços do coronavírus sobre os grupos mais vulneráveis da sociedade.

Nada disso é conduzido sem observar normas e padronizações estabelecidas e reconhecidas pela classe científica. A ciência trabalha com a certeza, buscando graus elevados de excelência, atenta não apenas aos efeitos benéficos de uma substância sobre o organismo, mas também sobre seus efeitos colaterais. A medida exata precisa ser testada, não de forma apressada e imprudente, e estabelecida para que, de fato, sua eventual ação benéfica seja garantida.

O remédio mais eficaz contra o coronavírus não será descoberto e processado de forma amadora, nem sua receita chegará por mensagens distribuídas em redes sociais, sem fontes confiáveis. Pensar dessa forma é ignorar a realidade dos fatos e sustentar que, numa ameaça à saúde pública mundial, iniciada ainda em 2019, esforços para descobrir como debelar a doença não estão sendo feitos por quem está capacitado a realizá-los.

O esforço de laboratórios e cientistas não será superado pelas convicções de leigos. Patrimônio humano, conquista coletiva, o saber científico e o uso da razão são instrumentos impreteríveis diante da crise que o mundo enfrenta. Saibamos respeitá-lo.