Editorial: Maus hábitos no trânsito

Janeiro ainda não chegou a seu fim, mas o ano já adotou seu ritmo natural nas vias da Capital cearense. Com a progressiva volta às aulas, de creches, escolas e faculdades/universidades públicas e particulares, o trânsito vai perdendo a relativa tranquilidade de dezembro e das primeiras semanas do ano. Observar a diferença destes dois períodos oferece a oportunidade de ter material apropriado à reflexão acerca dos impasses e necessidades da metrópole, no que toca o ponto da mobilidade urbana.

Há muito que os congestionamentos urbanos não se restringem aos horários de pico – ou, para ser mais preciso, não se limitam àquelas horas em que se tem um maior número de pessoas se deslocando para o trabalho e para as escolas. Quem transita pela cidade – em especial, pelos bairros centrais e de trabalho e residência de habitantes com maior poder aquisitivo – se acostumou a ser surpreendido por engarrafamentos difíceis de se entender.

A popularização crescente de aplicativos de celular – que traçam, em tempo real e considerando as condições do trânsito local, os melhores caminhos para os condutores – é um bom termômetro das dificuldades de circular por ruas e avenidas de Fortaleza – como acontece com todo grande centro urbano. 

Há, claro, razões e explicações para o problema. Não se pode ignorar, por exemplo, que na cidade em que vivem 2,6 milhões de pessoas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existe pouco mais de 1 milhão de veículos motorizados registrados. Quase 600 mil são automóveis. Enquanto isso, o detalhamento da pesquisa não deixa esquecer, as motocicletas vêm em segundo lugar, com próximo de 300 mil unidades. No entanto, transportes apropriados ao coletivo – caso de ônibus e micro-ônibus – contabilizam pouco mais de 10 mil.

Não à toa está em curso uma série de políticas públicas municipais que objetivam promover a adoção de meios de modais alternativos, bem como incentivar o uso de meios de transporte coletivos. Ideias do gênero vão ao encontro de novos hábitos em ascensão entre a população, que valorizam a bicicleta e as caminhadas, por exemplo, e o compartilhamento de veículos. Desacreditada no passado, a tendência é inconteste.

É, aliás, no campo do hábito, dos costumes e da cultura que muito pode e deve ser feito. Cite-se o exemplo dos congestionamentos comuns às áreas escolares, justamente nos horários de entrada e saída de estudantes nas instituições de ensino. Por conta da própria concentração de pessoas nestes espaços, esses engarrafamentos são, em certa medida, esperados e difíceis de serem eliminados. Contudo, há o dispensável incremento da imprudência, daqueles que desrespeitam regras para chegar o mais próximo possível de seu destino. Ao pensar exclusivamente na própria comodidade, atrapalham o fluxo de vias e prejudicam seus pares.

O problema não é caso isolado; há outros catalisados pelos maus hábitos. É, por isso, importante que, para além das sanções, os órgãos responsáveis se comprometam com ações educativas, buscando o esclarecimento e a conscientização de pedestres e condutores. Está aí o caminho para uma convivência mais aprazível e saudável nas ruas e avenidas da cidade.