Editorial: Cuidados com a saúde

Desde as primeiras reações do Estado à Covid-19, as restrições impostas pela pandemia levaram à suspensão de serviços e hábitos. Houve uma oportuna tendência a rever atitudes e práticas, relações com o consumo, com o espaço em que se vive e a ligação com familiares e amigos. Atividades produtivas e sociais, consideradas não essenciais, foram interrompidas e houve mesmo uma movimentação no sentido de se evitar até mesmo incursões necessárias. É o caso de acompanhamentos e consultas médicas, de outras enfermidades e condições que não a síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2).

Desde os primeiros movimentos para se conter a pandemia, adivinhava-se uma série de efeitos colaterais oriundos do período excepcional: do agravamento de problemas de natureza emocional à automedicação, como forma improvisada de evitar a ida a clínicas e hospitais por temor ao contágio. Situações do gênero se multiplicaram e o resultado destes desvios é difícil de se mensurar. Não seria mais do que uma miragem se o mal da pandemia parecesse ser a única ameaça grave do momento, como se outras doenças deixassem de afligir a população.

Duas situações, documentadas nas primeiras semanas da pandemia, colocaram-se como desafios a ser enfrentados para além de suas etapas iniciais. Não devem ser negligenciadas ou tomadas como definitivamente superadas.

Uma diz respeito à disponibilidade de insumos necessários para tratamentos médicos diversos. De imediato, máscaras protetivas tornaram-se escassas, impactando pessoas com problemas de imunidade que delas necessitam em seu cotidiano. Caso mais complexo, e que exige atenção das autoridades e medidas previdentes, é a dos medicamentos testados em tratamentos de pacientes diagnosticados com a Covid-19. A prática, claro, é imprescindível. Contudo, divulgações apressadas e o impulso imprudente da automedicação tornam escassas as ofertas de certas substâncias, imperativas no tratamento de doenças crônicas, como o lúpus e a Aids.

Outro caso que requer ações é o da descontinuidade de tratamentos e acompanhamentos médicos. Dois exemplos foram noticiados recentemente: o primeiro diz respeito à redução de consultas de pré-natal durante a pandemia; e o segundo, à frequência de atendimentos das 15 unidades dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) de Fortaleza.

O pré-natal é o acompanhamento médico necessário em toda gestação. Deve ser iniciado tão logo a gravidez seja confirmada e não pode ser interrompido até o nascimento. É medida de extrema importância para garantir a saúde da mãe e do bebê. O temor do contágio fez com que muitas mulheres evitassem procurar o serviço em unidades de saúde, expondo-se a riscos imprevisíveis.

Entre março e maio, os atendimentos na rede Caps caíram 29% na Capital. Nos períodos de isolamento mais severo, alguns serviços precisaram ser descontinuados. Restabelecimento de acompanhamentos e atenção às demandas emergenciais são necessários para evitar que os avanços anteriormente conquistados sejam perdidos.

A retomada das atividades sociais é, também, o momento de se reforçar as atenções à saúde e recuperar o ritmo de ações cuja progressão foi descontinuada em momentos mais graves da crise.


Assuntos Relacionados