Editorial: Campanhas saudáveis

A disputa eleitoral se acerca de seu momento crucial – absolutamente definitivo, para aqueles que pleiteiam o cargo de vereador, e para prefeituráveis das cidades que não terão segundo turno. Neste ano, em quase avesso à repetição, há tradições políticas que seguem pétreas. A do aumento das tensões, às vésperas da votação, é uma que tem se comprovado a cada novo embate de forças que disputam o Executivo e Legislativo, no âmbito municipal.

É compreensivo que os ânimos se abrasem, dado o papel central que a política ocupa na vida de uma sociedade – trata-se da seara onde se define o presente e o futuro da coletividade e de suas instituições. Contudo, há limites a serem respeitados. Há comportamentos que não podem ser tolerados e práticas sob as quais os julgamentos éticos, morais e mesmo judiciais não podem ser flexibilizados, sob pena de se incorrer no estabelecimento de um tempo de exceção, como se para alguns as regras pudessem ser suspensas.

Aceitar tal estado de exceção ou franquear comportamentos de outra forma condenáveis é incorrer num conflito com o que dita a Constituição Federal, Em seu Art. 5º, a Carta Magma assegura que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”. 

Aceitar o contrário é, ainda, incongruente com a missão cívica dos representantes eleitos pelo povo. Devem ser, rigorosamente, exemplares, pois devem resguardar o bem-estar daqueles que se comprometeram representar.

O poder decisivo do voto é o testemunho da capacidade do cidadão de contribuir para a construção da sociedade em que almeja viver, seja mantendo estruturas e práticas já existentes, seja investindo na mudança e na transformação. Vale atentar que, por meio dele, o eleitor escolhe mais do que nomes. Elege projetos políticos e de poder, visões de mundo e de gestão pública, continuidades, rupturas e prioridades.

Nesta campanha eleitoral atípica, é mister destacar, o cidadão tem diante de si outras decisões, a serem tomadas antes mesmo o dia do pleito. Exige-se dele um posicionamento político – e, aqui, mesmo que se trate de uma corrida eleitoral, não pode tomar o político pelo partidário – e mesmo ético. Há uma série de comportamentos reprováveis, por vezes de extrema gravidade, que tentam angariar seu engajamento. Cabe a ele responder-lhes de forma negativa.

Ainda que seja precipitado dar certeza aos casos, por ora, em investigação, o certo é que se têm multiplicado os relatos de violência com motivações eleitorais. Ameaças, agressões e mesmo mortes registradas recentemente podem estar ligadas à disputa por votos e, assim, pelo poder local. Ao mesmo tempo, seguem desafiadoras as aglomerações aberrantes quando o momento exige rigor nos cuidados sanitários; e as velhas calúnias, sob a forma de fake news, se espalham e distorcem a percepção que se tem do real.

O cidadão consciente não pode tomar parte de tais práticas. Deve renegá-las e denunciá-las. São incompatíveis com a lei e com a democracia. E, portanto, com o bem comum.


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