Compromisso necessário

Numa democracia, os chefes do Poder Executivo e os cargos do Legislativo são ocupados não apenas por representantes dos eleitores, são também a concretização de suas escolhas. Os eleitos têm responsabilidade para com aqueles que definiram suas posições por meio do voto. O cidadão, por sua vez, é responsável pelas decisões tomadas e vaticinadas perante as urnas.

O papel de uns e dos outros é importantíssimo e, em parte, os próximos quatro anos serão moldados por essa troca e pela forma como cada um honrou seu compromisso social e responsabilidade política. Muito se repetiu a respeito e não será demais se explicitar mais uma vez a importância do rito democrático, manifestação concreta da capacidade de uma sociedade moldar seu destino, seja mantendo um curso que considera acertado ou optando por tomar outra rota. A cada um cabe um quinhão de responsabilidade pela opção coletiva de se enveredar por este ou aquele caminho.

No domingo, tem início a campanha eleitoral em vistas ao pleito de novembro, quando serão então escolhidos os ocupantes dos cargos de prefeito e vereador, de par a par do País. Informalmente, a corrida eleitoral já teve início, e não é preciso rememorar os embates e conciliações dos partidos políticos, em busca de apoio e de formar alianças para reforçar suas candidaturas. Os candidatos confirmados já disputam atenções e holofotes, sendo refreados até o momento apenas pelas regras que os impedem de queimar a largada.

A campanha será atípica e, de certa forma, sem precedentes. A pandemia moldou o ano, conferindo-lhe um aspecto disforme, em todas as áreas. Suas consequências, sanitárias, econômicas e sociais, decerto, estarão presentes nos embates dos projetos em disputa.

Contudo, a influência da Covid-19 nas eleições de 2020 vai além. A crise de saúde obrigou eventos presenciais a reinventarem suas dinâmicas. No caso daqueles que contam com número elevado de pessoas, a própria realização é desestimulada, quando não vetada pelas novas regras instituídas a partir de critérios de saúde pública. Ganhar as ruas, corpo a corpo, expressões tão caras às narrativas eleitorais parecerão estranhas e sua prática deverá ser moldada, para se acomodar aos parâmetros de segurança necessários ao momento.

Não é apenas esse fenômeno que tornará extraordinário o processo que se inicia neste domingo. Na última meia década, em todo o mundo, a influência das redes sociais ganhou corpo nos processos democráticos - em especial, o que trouxeram de nocivo, promovendo discursos de ódio, promovendo campanhas difamatórias e atordoando o cidadão. A questão ainda não foi pacificada: faltam mecanismos eficientes para fazer as sociedades superarem o atraso civilizatório das chamadas fake news.

As duas variáveis são importantes para se compreender o cenário que passa a ser desenhado. Ambas implicam em novas e incontornáveis responsabilidades para eleitores e candidatos. Deve-se estar atento, sempre, para ações que atentem à saúde - de políticos e da população, no caso das infrações aos decretos sanitários; e da democracia, nos casos de desinformação ativa. Compromisso social é imperativo. O resultado se fará sentir nos próximos quatro anos. Que esse sejam auspiciosos.