A saúde pública e os jovens

Os indicativos promissores registrados no Brasil, como um todo, e no Ceará, especificamente, apontam para a estabilização do número de contágios pela Covid-19 e até mesmo para uma tendência de queda, como reconheceu a Organização Mundial da Saúde.

Contudo, se a média sugere um quadro positivo, uma leitura minuciosa dos dados revelará certas inconstâncias, descompassos que exigem atenção, para que correções e melhorias possam ser providenciadas, em vista do bem comum.

Com o início das operações do Plano de Retomada Responsável das Atividades Econômicas e Comportamentais do Estado do Ceará, no começo de junho, os casos da Covid-19 no Estado não apresentaram crescimento médio de casos.

A tendência, já confirmada, é de retração dos números de contágio, o que já permitiu alguns avanços evidentes, em Fortaleza, primeiro epicentro da doença no Ceará, como a descontinuidade dos serviços Centro de Acolhimento no CFO e o fato de Hospital de Campanha do PV não ter, por ora, pacientes infectados com o coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2).

Há de se notar, contudo, que o plano governamental foi aplicado levando em conta as especificidades regionais, com algumas regiões seguindo um ritmo mais lento na passagem de uma fase a outra. A razão é evidente: se na Capital e na Região Metropolitana de Fortaleza os casos começaram a ser menos numerosos, no Interior algumas cidades registraram curvas ascendentes de contágio.

As medidas protetivas são indispensáveis para todos, enquanto uma superação definitiva da pandemia, cientificamente reconhecida, não chegar para todos; mas é evidente que os lugares mais afetados, ou que ainda caminham para o pico de infecção, demandam uma atenção especial e estratégias apropriadas ao desafio que enfrentam.

O desafio, por vezes, não está inscrito num território, mas num segmento populacional. No Ceará, conforme dados disponibilizados na plataforma IntegraSUS da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), um grupo etário se destacou, negativamente, entre os demais, por, proporcionalmente, ter apresentado um número maior de novas contaminações pela doença do que os demais. Entre junho e agosto, o segmento mais atingido foi o de pessoas entre os 20 e os 29 anos.

Não é possível precisar com exatidão a razão dessa diferença. O destaque pode mesmo ter sido provocado por uma confluência de fatores, como o fato de jovens nessa faixa etária estarem mais expostos, em decorrência da idade ativa para o mercado de trabalho; e a redução de cuidados sanitários entre o segmento populacional mais jovem, eventualmente por algumas parcelas dele se acreditarem menos vulneráveis aos efeitos da doença - e as imagens recentes das praias cearenses sugerem isso.

Tal vulnerabilidade, por contingências produtivas ou de costumes, não é exclusiva desses tempos de pandemia. Ações especiais, e urgentes, voltadas para esse segmento populacional são impreteríveis. Sabe-se, desde o início da pandemia, que o enfrentamento à doença é solidário. Que mesmo que fosse possível se atestar que certa parcela da população está livre de riscos, deveria-se se preocupar com a disseminação da Covid-19 em seu meio, sob pena deste se converter em perigoso vetor da doença.


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