Hoje, o Brasil enfrenta a Venezuela, jogo válido pela 11ª rodada das Eliminatórias para a Copa do Mundo. No elenco, Arthur Cabral, que, de 2014 a 2018, atuou pelo Ceará. Do Vozão para o Palmeiras. Do Palmeiras para o Basel da Suíça, onde explodiu de vez como goleador na Europa. Aos 23 anos de idade, Arthur realiza seu sonho, que um dia pareceu impossível. A pergunta é: se tivesse ficado aqui, mesmo com todas as suas qualidades de artilheiro, teria sido convocado para a Canarinho principal? Duvido muito.
Acompanho o futebol cearense desde 1956. Jamais vi um jogador, atuando em clubes cearenses, ser convocado para a Seleção Brasileira principal. É um tabu. Na década de 1950, Canhoteiro, que atuou no América cearense, foi convocado. Entretanto, já estava no São Paulo. Na década de 1960, Babá (Mário Gadelha), que jogou no Ceará, foi chamado, mas já estava no Flamengo. Em 1959, na Seleção Cacareco (representada pela Seleção Pernambucana), atuaram os cearenses Zé de Melo e Geroldo. Mas não era a seleção principal do Brasil. Jardel e Osvaldo, quando jogaram na Seleção Brasileira principal, já não atuavam no futebol cearense. Incrível.
Quero ver se algum dia alguém quebrará esse tabu. Acho difícil. Se alguém sonha com a Seleção Brasileira principal, a primeira providência é buscar outros centros como Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte. Isso como etapa transitória, pois só na visibilidade do eldorado europeu as possibilidades são maiores.
A vida muda muito. Nas décadas de 1950 e 1960, o jogador que saísse daqui para atuar fora, quer em países da Europa, quer em outro país qualquer, dificilmente seria convocado para a Seleção Brasileira principal. Foi assim que Mazzola e Orlando, campeões do Mundo pelo Brasil em 1958 na Suécia, não foram chamados para a Copa de 1962 no Chile.
Quando o jogador ia jogar fora, já sabia que dificilmente seria chamado porque aqui, nos clubes brasileiros, havia uma abundância de craques para cada posição. Vavá, por exemplo, que tinha sido campeão pelo Brasil em 1958, teve de deixar o Atlético de Madrid e vir para o Palmeiras, pois, se lá tivesse ficado, teria perdido sua vaga na Canarinho. Voltou e foi bicampeão mundial pelo Brasil.
Há um menino cearense, Gustavo Gouveia, que recentemente foi convocado para a Seleção Brasileira sub-15. Os pais dele, Heraldo e Manuela, há muito estão investindo no garoto que desde criança demonstrou qualidades de artilheiro. De sete para oito anos de idade, creio, ele foi levado para a escolinha do Grêmio em Porto Alegre. E lá ficou. Já foi visto. E chamado. Se aqui...