É sempre um momento muito delicado a demissão de um técnico de futebol. O assunto geralmente gera polêmica. No Brasil, o que segura é resultado em campo. E, às vezes, nem isso. Agora mesmo Rogério Ceni foi campeão brasileiro Série A, campeão da Supercopa e campeão da Taça Guanabara, mas grande parte da torcida e a maioria da crônica vêm pedindo a demissão dele. Motivo: apesar das conquistas, entendem que o time não está jogando bem ou que não voltou a jogar como no tempo do português Jorge Jesus. Há que se observar um detalhe: o relacionamento do técnico com o elenco nem sempre é fácil, máxime quando o time é cheio de estrelas milionárias.
O Fortaleza vive o hiato entre as glórias da “Era Ceni” e os tropeços que vieram depois. O novo técnico do Leão terá de buscar uma nova fórmula, adequada ao material humano disponível. A torcida também terá de cair na realidade do tempo presente. Aquela máquina montada por Ceni não existe mais. Passou. Outras máquinas poderão ser montadas, mas nenhuma da noite para o dia. É trabalho pensado, que exige prática continuada até à exaustão. Portanto, de imediato não há como pensar numa rápida composição. A médio prazo, sim.
Na história de um time de futebol, há momentos que são celebrados porque inesquecíveis. O Fortaleza resultante da “Escolinha do Moésio Gomes” foi notável. O Fortaleza montado pelo saudoso presidente Ney Rebouças foi fantástico. O Fortaleza de Ferdinando Teixeira, no auge de Ronaldo Angelim, a todos encantou. O Fortaleza, de Ceni, o maior de todos.
O maior Flamengo de todos os tempos eu entendo ter sido o de 1981, com Raul, Júnior, Adílio, Zico, Nunes... Campeão do mundo. Dava show de bola. Vejam só: de 1981 a 2019, o logo tempo de 38 anos. Aí veio o timaço de Jorge Jesus, vice-campeão do mundo. Isso confirma o que venho dizendo. Times excepcionais são coisa rara. Nada acontece da noite para o dia.
O melhor Ceará que eu vi foi o tricampeão de 1961, 1962, 1963. Vozão de William Pontes, Alexandre Nepomuceno, Gildo. Foi a base da Seleção Cearense, terceira colocada no Campeonato Brasileiro de Seleções de 1962. Depois o Ceará que Dimas Filgueira montou e que foi vice-campeão da Copa do Brasil. Não conquistou o título porque foi roubado.
Todo time passa por transição. E tem mais: as notáveis formações são exceções que duram de seis a oito anos ou um pouco mais. O Barcelona de hoje nem de longe lembra o timaço do tic-tac. E observem que lá ainda estão alguns remanescentes, inclusive Messi. A Laranja Mecânica durou duas Copas (1974 e 1978). O Brasil de Garrincha e Pelé durou duas Copas (1958 e 1962). É assim.