A despedida do narrador Galvão Bueno

Legenda: Galvão Bueno narrou dez Copas do Mundo
Foto: João Miguel Júnior/TV Globo

O cantor Sílvio Caldas, o Caboclinho Querido, foi um dos mais importantes seresteiros do Brasil. Gravou pérolas como Chão de Estrelas, No Rancho Fundo, Serenata. Na década de 1990, eu o entrevistei no Bom Dia Ceará. Foram dois blocos. Ele foi o cantor que mais se despediu. Não sei quantas vezes. Mas sempre voltou. Agora é o Galvão. Despedida no Maracanã. Depois despedida na Copa. Depois, quando a saudade apertar... Muitas vezes estive com Galvão Bueno. Sempre me atendeu com muita distinção. A melhor entrevista que ele me deu foi no estúdio da Verdinha. Sou admirador do trabalho dele. Galvão é do tipo amado e odiado. Mas acho que bem mais amado. Há quem o critique pelo ufanismo. Tudo bem. Ufanismo à parte, ele tem o poder de emocionar, de envolver. Dá vida aos espetáculos. Quem não vibrou com ele nas vitórias de Ayrton Senna, do Brasil? Quem não gritou com ele “É Tetra!” na Copa de 1994 nos Estados Unidos? Que não se segurou ao ouvir “Sai que é Tua Taffarel!”. Conheço gente que detesta o Galvão. Conheço gente que o idolatra. Estou na turma que o admira. Reconheço seus exageros, mas suas virtudes são muito superiores. 

 

Preferido 

 

Conheci pessoalmente os maiores narradores do Brasil. Na televisão, meu preferido foi Geraldo José de Almeida, que deu show na Copa de 1970, tri brasileiro no México. Dele: “Vamos meu Craque Café”, referindo-se a Pelé. “A patada atômica”, Rivelino. “Canhotinha de Ouro”, Gerson. “Por pouco, pouco, muito pouco, pouco mesmo”. “Olha lá, olha lá, no placar!” Geraldo, inesquecível. 

 

Rivalidade 

 

Na década de 1980, os rivais na televisão eram Luciano do Valle, já falecido, e Galvão Bueno. Detalhes: sempre considerei melhor, mais potente e mais aguda a voz do Luciano. Mas Galvão sempre foi mais criativo. Galvão soube chegar mais aos anseios do povão brasileiro. Galvão tem o poder de levar o público para dentro do espetáculo. Poucos narradores conseguem fazer isso. 

 

Avaliação 

 

Somente depois que Galvão Bueno encerrar a carreira será possível uma avaliação isenta do que seu estilo representou para a televisão brasileira. Vamos ver que novos narradores serão capazes de empolgar como Galvão empolga. Até agora não vejo nenhum com a mesma capacidade de envolvimento que o Galvão tem. Só o tempo definirá. 

 

Eu, narrador 

 

Passei muitos anos da minha vida narrando futebol apenas pelo rádio. Na televisão, fiz poucas narrações para a TV Verdes Mares e uma só para TV Globo de Recife. Com a inauguração da TV Diário, assumi a condição de titular. No Youtube tem várias narrações feitas por mim, cobrindo decisões do Campeonato Cearense. Eu não guardo nada. Sou desleixado nessa parte.  



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