Transtorno alimentar, as dores que uma balança não releva

Culto a magreza, modismo de dietas e estímulos de redes sociais são as grandes iscas para desenvolver problemas de saúde mental

Legenda: Os transtornos de comportamento são mais comuns do que imaginamos e perturbam a nossa saúde mental”, assegura a nutricionista Jana Gradvohl (@janagradvohl)
Foto: Reprodução

As pessoas que lutam contra transtornos alimentares (TA) costumam esconder seus comportamentos e seus sintomas para os que podem ser seus maiores aliados: familiares e amigos. Os transtornos de comportamento são mais comuns do que imaginamos e perturbam a nossa saúde mental. 

Quem fala mais para você sobre o tema é a nutricionista Jana Gradvohl (@janagradvohl), especialista em comportamento e transtornos alimentares. Workaholic, apressada, ansiosa, foi empresária, gestora por 14 anos de grandes equipes, empreendedora do mundo da moda, negociadora e uma super conquistadora de metas, mas foi na nutrição que encontrou o seu propósito de vida e, hoje, contribui e compartilha com seus seguidores uma sugestão de uma  jornada saudável   

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Foto: Arquivo pessoal

O distúrbio, explica Jana, não escolhe idade, peso ou tamanho. Porém, pesquisas demonstram que o acometimento maior é entre as mulheres. Os tipos de TA são: anorexia, bulimia, obesidade, vigorexia, síndrome do gourmet, transtorno alimentar noturno, picacismo e o comer compulsivo. O mais comum é o transtorno compulsivo alimentar (TCA).

Jana Gradvohl faz uma breve listagem para ajudar identificar sinais do que poder compulsão e não o simples exagero: 

  • Os episódios de compulsão por comida, geralmente, são marcados por uma ingestão muito rápida de uma quantidade excessiva de comida; 
  • São seguidos de culpa, sofrimento emocional e/ou tristeza, sensação de perda de controle; 
  • A pessoa só para de comer quando sente desconforto físico, comendo qualquer coisa que estiver na frente: sem pensar no sabor, sem sentir prazer e nem fome física. 
  • Normalmente, o episódio inicia-se com gatilhos emocionais (lutos, perdas, problemas pessoais e/ou emocionais) 

Como tratar? 

Acredite: essas pessoas não devem fazer dieta. "Isso pode levar ao aumento dos episódios”, confirma a nutricionista. 

O tratamento de TCA precisa ter o apoio da família, como, também, é fundamental o acompanhamento de uma equipe de profissionais da saúde integrada, comprometida e multidisciplinar. É o tratamento de ouro! 

Jana Gradvohl alerta que para os casos de pacientes com TA, o acompanhamento deve ser com um nutricionista especialista (processo sem dieta), porque o tratamento é baseado na conduta nutricional no comportamento, na psicoeducação nutricional, em estratégias comportamentais na mesa e hábitos saudáveis. “Não existe dieta! Existe uma nutrição gentil e, normalmente, o processo é de médio a longo prazo, o tempo é algo bem individualizado”.  

“O psicólogo vai acessar quais os conflitos emocionais e compreendê-los, para então, serem tratados. A percepção distorcida do próprio corpo, a necessidade de controle e a carência afetiva são alguns exemplos”, complementa a psicóloga Carla Nogueira. 

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Legenda: Carla Nogueira é psicóloga e super parceira da SiSi
Foto: Arquivo pessoal

A psicóloga aconselha que é “somente conhecendo a história de vida e as defesas que se organizaram sob 'o transtorno alimentar' que poderemos ajudar a atravessar esse problema. Temos que acolher o indivíduo, respeitar sua dor e ir, aos poucos, alcançando conquistas no caminho”. 

Quem resolveu quebrar esse tabu existente entre as jovens da sua faixa etária, foi a caloura de nutrição, Marcela Dias Branco. Aos 20 anos, foi corajosa e abriu uma live no IG @ma.reallife com uma amiga onde revelou suas angústias e o seu caminho de superação contra o transtorno alimentar.

"Nunca tinha tido transtorno alimentar, mas desenvolvi algumas crises compulsivas durante meu período de emagrecimento. Na minha cabeça, seguia tudo tão direitinho do meu plano alimentar, que quando comia alguma coisa fora da dieta, já achava que era a perfeita abertura pra eu comer tudo! Não pensava no momento. Meu impulso era muito forte. Mas, no outro dia, acordava me sentindo a pior pessoa do mundo por ter feito isso comigo. Sentia culpa e remorso. Daí, vi que isso não era saudável e que precisava mudar meu jeito de pensar. Hoje, quando quero comer alguma coisa, como com controle e tento ter a consciência de que não é uma vez que vai jogar todo meu esforço no lixo!", disse.

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Legenda: Marcela Dias Branco antes da reeducação alimentar
Foto: Arquivo pessoal

Esta é uma imagem de Marcela Dias Branco
Legenda: Uma nova Marcela surgiu em 2021 com 20 kg mais magra e mais confiante em si
Foto: Arquivo pessoal

Então, se você perceber que, na hora de comer, estiver passando por um processo ansioso, doloroso e estressante que vem com muita culpa e ansiedade, consulte um especialista. E for um distúrbio, é ele quem pode te ajudar mais! 

Além disso, não esqueça que uma mulher editada em filtros de celulares não existe. O que existe mesmo é uma mulher real, com suas histórias e, biologicamente, diferentes umas das outras. Entenda que a balança não pode te representar no mundo!