Lá estava eu, no meu momento de tédio, lendo sobre tédio. No auge dos meus 35 anos, posso falar algo que nunca achei que diria: o tédio, em seus devidos momentos, me faz muito bem.
Essa história tem um começo: sempre achei estranho ver pessoas que ocupam suas mentes de afazeres 24 horas por dia como se fosse muito doloroso encontrar a si mesmo.
Sim, porque quando estamos no tédio, não há pra onde a gente se jogar que não pra dentro de si e vagar na própria mente. É uma visita aos nossos estímulos quando não temos exatamente pra onde olhar.
Atualmente, é pecado falar que está, nem que seja por algum momento, desocupado. Quando eu era mais nova jamais falava “não estou fazendo nada”. Jamais! Passaria uma imagem de inútil. A romantização da vida ocupada e corrida... Eu mesmo, com medo de morrer, argumentava: nossa, mas o que tem pra fazer depois que a gente morrer? Imagine!
Dizem que Einsten não era um aluno ruim, era entediado, pois não se sentia desafiado. O mesmo começou a defender o tédio quando passou a considerar o mais elevado estado mental: foi na monotonia que criou a teoria da relatividade.
Não precisamos ir tão longe. Ausente da existência da tecnologia, passei a infância ocupada da natação, das bonecas, do castelo rá-tim-bum e quando tudo terminava e eu não tinha mais nada pra fazer? Eu desenhava.
Não que eu amasse desenhar. Era o que tinha nos momentos de tédio. Papai enviou um desenho meu pra um concurso da revista Barbie e foi publicado na revista. Ele até hoje acha que sou uma grande desenhista e as memórias mais forte que tenho da minha infância são dos meus desenhos.
Não pela revista mas porque, em seus momentos de tédio, papai guardava nossos desenhos nas finadas agendas telefônicas (lugar perfeito pra não amassar e caber mil desenhos).
De onde viria tal ideia magnífica se não do tédio?
Sei que muitos não terão tempo suficiente para ler ou digerir sobre o tédio. Então me explico caso não tenha sido clara: o tédio não é o que nos move ou o que deve ocupar nossa mente por completo. Mas aquela fração de tempo, entre um turbilhão de afazeres e ocupações, que nos carrega e nos leva a pensar: por que não guardar esses desenhos numa agenda telefônica?
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.