Olimpíadas em Marte (ou as desventuras do COI no mundo da Lua)

Enquanto o mundo se defronta com as incertezas do futuro impostas pela Covid-19, o Comitê Olímpico Internacional ainda terá quatro semanas para avaliar se é preciso mesmo adiar os Jogos Olímpicos de 2020

O clima apocalíptico do mundo submetido a uma pandemia é o alimento perfeito para uma infinidade de transtornos emocionais. Nessas horas, rir é importante - claro, se você conseguir e as más notícias que chegam nas notificações do celular deixarem. 

Uma boa opção, que você encontra no próprio noticiário relacionado ao coronavírus, é o dia a dia do Comitê Olímpico Internacional (COI). O que vai ver por lá tem algo semelhante com a programação esportiva destes dias de isolamento social, com reprises de grandes jogos, disputados quando suor e saliva entravam em campo e nenhum atleta tinha medo de uma doença que ainda não existia. Por ora, a entidade internacional sustenta a data dos Jogos Olímpicos de Tóquio: de 24 de julho a 9 de agosto de 2020. 

Eu conto ou vocês contam? 

Até o momento, a pessoa mais razoável do COI – e está é uma suposição - foi seu membro mais antigo, o canadense Dick Pound, de 78 anos, ex-presidente da Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês). Ao jornal americano USA Today, ele disse que "o adiamento foi decidido.” “Os parâmetros daqui para frente não foram determinados, mas os Jogos não começarão em 24 de julho, pelo que sei”. Razoabilíssimo, não fosse a dúvida que se insinua neste “pelo que sei”. 

No fim da semana, o COI – de sua sede na Suíça – se deu uma data-limite para apreciar um possível adiamento do megaevento esportivo.  O prazo autoimposto é de quatro semanas.

Ou seja, o mundo ainda tem chance de se redimir com o COI e, ao melhor estilo MacGyver, improvisar uma cura para afastar esse fantasma que ronda as Olimpíadas.  

Muitos grandes eventos mundo afora estão sendo adiados, sem demora, buscando uma agenda otimista, em que possam ser realizados no último trimestre do ano. Ok, as Olimpíadas não são um grande evento qualquer, envolvem milhares de pessoas, entre atletas e profissionais de todo gênero. Mas não deixa de ser cômica a relutância em se reconhecer que, ali no fim de julho, vai ser difícil rolar algo nas proporções dos Jogos Olímpicos. 

A disposição do COI diante da realidade lembra a cena de um filme – e essa é outra dica para quem quer tirar uma folga momentânea das notícias sobre a Covid-19. No filme “Monty Python em Busca do Cálice Sagrado” (1975, disponível na Netflix), o Rei Arthur (Eric Idle) é confrontado pelo Cavaleiro Negro (John Cleese). No duelo, o rei bretão arranca o braço do rival de um único golpe. “Foi só um arranhão”, desdenha o Cavaleiro Negro. E seguem mais golpes e uma progressão de multilações. No fim, o vilão foi reduzido ao tronco e a cabeça. A avaliação do Cavaleiro Negro? “Tudo bem, podemos dizer que foi um empate”.