As lives de música terão fôlego para surpreender depois de Ivete?

A trilha sonora tem sabor saudosista, por meio das redes sociais, em transmissões ao vivo de cantores e bandas de apelo popular.  

Abril, definitivamente, não foi um mês de muitas alegrias. Faltaram motivos até mesmo para aqueles que não viveram, na pele ou nas cercanias, o drama da doença ou os infortúnios da crise econômica.

Os que podem escolher ficam entre um lá fora, com o risco do inimigo invisível; e um aqui dentro, sob as investidas daquilo que reside no interior de cada um de nós. Por contraste com a realidade, tanto quanto pela falta de alternativas, as lives de nomes da música se tornaram um sucesso tão grande neste mês.  

O fenômeno tem lá suas simetrias com a pandemia. Cresceu em ritmo exponencial, chegou em toda parte e parece ter atingido o platô - com dezenas de lives diárias. Hoje, são listadas em sites como uma versão contemporânea da programação de TV ou do line-up de um festival (e, no fundo, estão mesmo entre uma coisa e outra).  

Um festival de música em lives para todos os gostos

A performance de Xand Avião - com 3 horas de música e falatório, arrecadando toneladas de doações - não completou um mês ainda, mas já parece ser um acontecimento de décadas atrás. O fenômeno, então, ainda dava conta de coberturas individuais e o tema se sustentava como pauta do dia.

Gostando ou não da música, o tema era incontornável. Hoje, com cardápio vasto e serviço à la carte, o impacto é mais modesto. 

As exceções precisam fazer valer esta condição. É aí que entra a live de Ivete Sangalo

Bem, sei que não é o mais preciso dos indicativos, mas a última semana do mês avança e a matéria mais lida do site do Diário do Nordeste é a do relato da performance da baiana. Publicada no domingo (26). O que pegou no caso da artista foi, não apenas seu bem conhecido carisma, mas uma subversão do formato – pensando nos exemplos brasileiros, pelo menos. 

De pijama, em casa, com a assistência informal do marido e do filho, Ivete foi na contramão das superproduções.

Do primeiro escalão do pop brasileiro, só ela poderia bancar uma proposta como essa, sem parecer artificial. A fórmula também tem fôlego curto, as imitações da baiana sempre sofreram com as acusações de plágio de tudo o que Ivete inventou e até do que não inventou.    

Em dias cada vez mais conectados, o prazo de validade dos produtos de entretenimento está cada vez menor. Nem bem fez mesversário e o formato live já pede reinvenção e autenticidade.  

Se ainda tem fôlego, se dá pelo falo de investir pontos caros ao público:

  • a acesso gratuito (as FMs nos ensinaram a ouvir assim a música pop);
  • a baixa expectativa quanto ao material audiovisual (o YouTube nos ensinou a encarar vídeos pixelados, feitos com câmera parada e com outras tranqueiras);
  • o apelo dos repertórios antigos, com ligações afetivas fortes.

Numa temporada tão difícil, melhor do que embarcar no triste hit da pandemia, é reacessar as canções de dias mais felizes. Mesmo que elas possam ser terríveis.