O fim da impressão de conteúdos

Quando fui incluído no rol de colunistas do Diário do Nordeste, alguns leitores perguntaram se eu iria mesmo escrever para um jornal sem conteúdo impresso.

Ora, leitores, sei que ainda há pessoas que resistem ou sentem dificuldade de adaptação aos conteúdos digitais. Mas como sou um otimista veterano em relação aos avanços tecnológicos e mais ainda em relação aos seus benefícios em todas as instâncias da vida, não tenho a mínima preocupação com o fim dos conteúdos impressos.

É verdade que li textos de jornalistas, escritores, editores e leitores manifestando suas preocupações diante das perspectivas que antecipam o fim dos conteúdos impressos em gráficas, com tinta e papel.

Eu jamais me preocupei com essas transformações, porque sei que a história da impressão é uma história longeva de avanços sucessivos, de técnicas e de formatos.

Apenas para ilustrar, bastaria dizer que os primeiros conteúdos da humanidade foram gravados em pedras; um século depois, foram gravados em argila moldada e, com o advento da tinta extraída da madeira e dos minerais, passaram a ser escritos em pergaminhos e no couro curtido dos animais.

Como sabemos, do couro ao papiro egípcio se passaram séculos, e até serem prensados em papel, na máquina de Gutenberg, a humanidade esperou pelo menos dois mil anos.

Com os avanços da Internet, os conteúdos foram encontrando uma nova forma de serem publicados, vendidos, transportados, lidos e até preservados, não só nas bibliotecas imensas, mas nas memórias que flutuam em nuvem.

É evidente que o jornal digital veio para ficar, porque é uma forma limpa, leve, econômica e rápida de ser disponibilizada, sem contar que é ecologicamente benéfica, já que dispensa não só uma pesada e onerosa cadeia produtiva, mas também dispensa madeira, tinta, transporte e todo o aparato industrial e logístico que tanto tem afetado o meio-ambiente.

Quem poderia calcular os zilhões de árvores que são cortadas por ano no planeta, apenas para atender à demanda mundial de jornais, revistas, livros e outros bens de consumo intelectual?

Aos que sentem dificuldade de adaptação à tela digital, eu diria que tal dificuldade pode ser superada com uma simples mudança de hábito, afinal, o hábito ou o apego aos formatos tradicionais nunca resistiram às inovações. Tanto é verdade que as crianças, jovens e velhos de hoje já estão muito bem adaptados à telinha de celular.

Atentos aos avanços contínuos, podemos antever que a década em curso será marcada por transformações dos paradigmas editoriais vigentes, dos métodos produtivos, informativos, comerciais, logísticos e de marketing, e tais mudanças implicarão avanços importantes, não só nos métodos pedagógicos ou nas políticas públicas culturais e educacionais, mas também nos comportamentos e hábitos individuais.

Há pouco tempo era impossível imaginar um estudante situado em um município pobre do Ceará, acessando livremente os acervos das mais importantes bibliotecas do mundo. Atualmente isso é perfeitamente possível, graças às tecnologias que possibilitaram os acessos aos formatos digitais, que são formatos irreversíveis, indestrutíveis, de facílimo manuseio e de baixíssimo custo.

Nessa dinâmica, os formatos digitais de hoje já podem incorporar inclusive as demais linguagens: audiovisuais, infográficos com sons e imagens cinéticas, como partes integrantes ou complementares de um jornal, revista ou obra literária.

O texto digital com suas variantes são apenas o início de um novo ciclo que vem modificando radicalmente tudo o que atualmente continua sendo impresso no formato convencional (jornais, revistas, livros), tornando esses bens acessíveis aos povos, em todas as línguas e linguagens, a um custo mínimo para o bolso dos leitores e menor ainda para a natureza.

Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.