Huawei espera uma maior 'abertura política' do presidente dos EUA Joe Biden

A empresa entrou no alvo do governo do ex-presidente americano Donald Trump, que a acusou, sem apresentar provas, de possível espionagem para Pequim

Legenda: A empresa esteve nos últimos anos no centro da rivalidade China-EUA, em um contexto de guerra comercial e tecnológica entre as duas potências
Foto: AFP

O diretor executivo e fundador do grupo chinês de telecomunicações Huawei, que é objeto de sanções americanas, solicitou nesta terça-feira (9) à administração do presidente dos Estado Unidos, Joe Biden, uma "política de abertura". A declaração foi feita durante um encontro com a imprensa, no qual o CEO se mostrou confiante a respeito da "sobrevivência", da empresa. 

A empresa esteve nos últimos anos no centro da rivalidade China-EUA, em um contexto de guerra comercial e tecnológica entre as duas potências. 

A Huawei entrou no alvo do governo do ex-presidente americano Donald Trump, que a acusou, sem apresentar provas, de possível espionagem para Pequim. 

Por este motivo, em 2019 o governo dos Estados Unidos incluiu a Huawei na lista de empresas que não podem adquirir tecnologias americanas, algo essencial para seus produtos. 

"Esperamos que a nova administração tenha (com a Huawei) uma política de abertura que será benéfica para os Estados Unidos", afirmou Ren Zhengfei, que criou a empresa em 1987. 

A pressão de Washington afetou a gigante chinesa no ano passado. Em 2020, as vendas mundiais de telefones da Huawei caíram 22%, enquanto as de sua compatriota Xiaomi cresceram 19%, segundo a consultoria Canalys.  

Em consequência das sanções dos Estados Unidos, a Huawei não tem mais acesso às atualizações do Android, sistema operacional do Google, dominante nos smartphones vendidos no exterior. Devido ao bloqueio a empresa criou um novo sistema operacional para equipar seus celulares.

Tecnologia 5G

A empresa também enfrenta a crescente pressão no 5G, um novo sistema para as tecnologias mobile que deve revolucionar a internet.  

A administração Trump afirmou que os serviços de inteligência chineses poderiam utilizar os equipamentos da Huawei para vigiar as comunicações e o tráfego de dados de um país.  

Nos últimos meses, Washington pressionou os aliados a renunciar à participação do grupo chinês em suas redes 5G.  

No Brasil, devido à influência do ex-presidente americano, o presidente Jair Bolsonaro estaria, em dezembro do ano passado, planejando excluir a empresa chinesa da negociação da implantação do 5G no País, informou a agência Reuters. Porém, conforme o jornal Estado de S. Paulo, fontes do Palácio do Planalto e do setor de telecomunicações informaram que o Governo Federal não deve mais barrar a Huawei do leilão das frequências de 5G no Brasil. 

Em mais um passo da ofensiva para impedir o avanço da Huawei no futuro mercado brasileiro de 5G, o governo de Trump chegou a oferecer crédito por meio de agências oficiais para as gigantes de telecomunicações brasileiras adquirirem componentes de concorrentes da empresa chinesa.

Sobrevivência

Mesmo com os problemas, o fundador da Huawei, 76 anos, afirmou que acredita no futuro da empresa. Apesar das sanções americanas, ele disse que a "capacidade de sobrevivência de Huawei aumentou" e afirmou, sem apresentar números, que o faturamento e o lucro líquido aumentaram em 2020. 

Também afirmou que a Huawei poderia "aumentar a produção", apesar das restrições americanas. 

"Ainda esperamos poder comprar grandes volumes de materiais, componentes e equipamentos americanos", admitiu o fundador da empresa.  

Inclusive na China, em seu mercado, a Huawei foi muito afetada pelas sanções: no quarto trimestre de 2020, as vendas desabaram 44% em ritmo anual, consequência das dificuldades de abastecimento com tecnologias americanas, segundo a consultoria Canalys.  

A desconfiança com empresa procede, em parte, do passado militar de Ren Zhengfei e sua filiação ao Partido Comunista chinês, o que alimenta as suspeitas sobre a suposta influência do regime no grupo. 

A Huawei é atualmente um grupo gigante, presente em 170 países e com 194.000 funcionários. 

O grupo deve sobreviver à tempestade desde que "repense o seu modelo econômico" e faça mudanças importantes, afirmou a analista da Canalys Nicole Peng.