A endometriose afeta diversas pessoas com útero, reduzindo a qualidade de vida ao provocar dores, muitas vezes, incapacitantes. Existem várias terapias para tratar a condição, que incluem desde uso de medicação a, até mesmo, intervenção cirúrgica. No entanto, especialistas defendem que um estilo de vida mais saudável, com prática de exercícios físicos e alimentação balanceada, também podem auxiliar no combate aos sintomas.
O ginecologista e obstetra Alexandre Silva e Silva destaca o papel de um cardápio balanceado na melhora da rotina de pacientes com a doença, mas frisa a importância dessa mudança de hábito ser acompanhada por um profissional especializado.
"Uma alimentação equilibrada pode ajudar no manejo dos sintomas da endometriose, especialmente ao reduzir alimentos inflamatórios e aumentar o consumo de alimentos ricos em nutrientes e antioxidantes. [No entanto,] sempre é recomendável discutir quaisquer mudanças na dieta com um profissional de saúde", recomenda o médico.
A nutricionista especializada em Saúde da Mulher, Érika Paula Farias, detalha que estudos científicos descobriram que uma dieta pobre em nutrientes pode incentivar a atividade inflamatória no corpo, aumentando o estímulo doloroso e a produção de estrogênio em pacientes com a condição.
Já uma alimentação rica em gorduras saudáveis (como o Ômega 3), em fibras (por exemplo frutas, verduras, leguminosas e grãos integrais), além de fontes de vitaminas e de minerais (com ênfase nas vitaminas A, E, C e magnésio), e alimentos antioxidantes, aumenta a qualidade de vida nesses indivíduos.
Estudos mostram que uma alimentação saudável tem a capacidade de amenizar dores e fadiga central – o cansaço em mulheres com endometriose. [...] Já alguns outros mostram que mulheres com alimentação monótona, baseada em pães, carnes, laticínios e produtos alimentícios, tendem a ter sintomas piorados, como dor, fadiga, aumento dos focos endometriais, intolerâncias alimentares, alergias e sintomas gastrointestinais."
O que pode piorar e melhorar os sintomas
Pesquisas indicam que a endometriose é uma doença inflamatória estrogênio-dependente. Apesar desse hormônio ser produzido pelo organismo e naturalmente abundante em corpos biologicamente femininos, em níveis elevados pode agravar o quadro e os sintomas em pacientes com a patologia. Érika Paula Farias explica que diversos fatores podem influenciar o aumento da concentração desse componente, e a alimentação desequilibrada é um deles.
Uma dieta desbalanceada também pode estimular a atividade inflamatória natural do corpo e o metabolismo das prostaglandinas – responsáveis, entre outras coisas, pela hiperalgesia, que é o aumento do estímulo doloroso. Ou seja, hábitos alimentares não saudáveis podem incentivar esses mecanismos e reduzir a qualidade de vida de pacientes com o diagnóstico.
O fato é que não só mulheres com endometriose, mas como pessoas com qualquer doença inflamatória, se beneficiam de uma alimentação mais saudável, pois ela possui nutrientes importantes para o bom funcionamento do corpo."
Abaixo, a nutricionista cita alimentos que devem ser consumidos com cautela e quais são benéficos para pessoas com endometriose.
Alimentos que inflamam a endometriose
- Leites e derivados lácteos, em formato integral, quando consumidos com frequência, podem favorecer a piora dos sintomas, pois são proteínas ricas em ácido palmítico (presente na gordura trans);
- Carne vermelha, que também tem elevados níveis de ácido palmítico, quando consumida rotineiramente, pode reduzir a qualidade de vida de pessoas com endometriose e até mesmo, em indivíduos saudáveis, aumentar as chances de desenvolvimento da doença;
- Embutidos, linguiças, salsichas, presuntos e carnes processadas, assim como o insumo citado no item anterior, estimulam os sintomas e elevam o risco para a condição.
- Cafeína vem sendo associada por estudos à piora dos sintomas. No entanto, a especialista explica que não é necessário a exclusão dela na dieta, mas evitar o consumo exacerbado. No caso do café, a indicação é não consumir duas ou mais xícaras por dia. A nutricionista ainda destaca que suplementações a base de cafeína também são desaconselhadas.
"É importante ressaltar que não existe recomendação de exclusão de nenhum alimento ou grupo alimentar no tratamento da endometriose. Quando é falado de glúten e de lácteos tem mais a ver com o excesso desses alimentos na rotina e a falta de alimentos que são importantes para uma boa saúde gastrointestinal e imunológica. A exclusão só é orientada em casos de alergia e intolerâncias alimentares", reforça a especialista.
Alimentos que podem aliviar sintomas
A nutricionista explica que insumos ricos em fibras, gorduras boas – poli e monoinsaturadas –, minerais e compostos antioxidantes (principalmente polifenóis) auxiliam no combate aos desconfortos provocados pela endometriose. Por possuírem propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e reguladoras do metabolismo, agem nas citocinas inflamatórias (prostaglandinas) e no estrogênio. São exemplos desses:
- feijão;
- aveia;
- psyllium;
- frutas;
- vegetais;
- folhosos;
- sementes;
- algas;
- peixes.
A melhor dieta para a mulher com endometriose é um misto de mediterrânea baseada em plantas, exceto para quem possui síndrome do intestino irritável, pois precisaria de cuidados específicos quanto aos vegetais. [...] Pacientes com a doença devem garantir o consumo mínimo de 300 gramas de frutas e de vegetais por dia, sendo muito importante chegar à recomendação de 500 gramas."
Chás ricos em polifenóis, como uxi amarelo, unha de gato, artemísia e chá verde, são classificados por Érika Paula Farias como grandes aliados no tratamento da doença. Ela recomenda o consumo de 2 a 3 xícaras por dia, mas frisa que em casos de pessoas com doenças renais é necessário, antes de incorporar as bebidas à dieta, consultar um profissional de saúde.
Alimentos alaranjados, vermelhos, verdes escuros e roxos também têm nutrientes importantes para o tratamento, conforme a especialista em Saúde da Mulher.
Em relação à suplementação de substâncias, ela cita ômega 3, magnésio, resveratrol e as vitaminas E e A, pois são capazes de diminuir a hiperpermeabilidade intestinal – melhorar a saúde da barreira gastrointestinal –, reduzindo a exacerbação da produção de citocinas inflamatórias e equilibrando o perfil dietético do paciente.