Luiz Gastão: Decretos deveriam durar pelo menos um mês para dar previsibilidade ao comércio

Para presidente do Sistema Fecomércio-CE, frequentes mudanças em horários e capacidade de funcionamento dificultam a organização das empresas em busca de sobrevivência. Confira entrevista

Os efeitos da pandemia ainda são o principal fator da amarga queda de 7,6% que o comércio cearense acumula nos últimos 12 meses encerrados em março, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, a imprevisibilidade no processo de flexibilização é um forte agravante de um cenário já complexo, conforme aponta o presidente do Sistema Fecomércio-CE, Luiz Gastão Bittencourt. 

Convidado desta semana do Diálogo Econômico, o empresário defende decretos sobre regras de isolamento com vigência de pelo menos um mês, de forma que as empresas possam se organizar internamente com mão de obra, suprimentos e estoque. 

“Na sexta-feira, eu não sei se contrato mais profissionais, porque vão ampliar o meu horário de trabalho, ou se demito, porque vão reduzir”, argumenta. 

Com a atual estabilidade dos indicadores de saúde, Gastão também acredita que outras atividades já poderiam retornar aos poucos, como os eventos corporativos. Para ele, além das medidas de controle contra a disseminação da Covid-19, é necessário pensar em formas de conviver com a doença, permitindo que a atividade econômica se desenvolva independentemente do cenário. 

Eleito presidente do Sistema Fecomércio-CE para o mandato de 2018 a 2022, Gastão havia se afastado do cargo para assumir a vice-presidência da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Mas no último dia 13 de maio, o empresário reassumiu a presidência da entidade.

De volta ao cargo, pretende acelerar processos definidos no início do mandato, adaptar e ampliar ações já vigentes. Entre elas, o acompanhamento de saúde aos comerciários através do Sesc e os cursos de capacitação ofertados pelo Senac - este deve ofertar o primeiro curso de ensino superior a partir de agosto. 

Em paralelo, a entidade acompanha e busca alternativas para acelerar o processo de vacinação no Ceará, essencial para a retomada do ritmo de crescimento.

Ele defende a compra de doses da vacina por entidades de classe, como a própria Fecomércio-CE, e que os compradores doem metade delas ao Sistema Único de Saúde (SUS). 

Confira a entrevista completa:

O senhor acabou de reassumir a presidência do Sistema Fecomércio. Quais as metas  para o restante do mandato?

Eu fui eleito para o mandato de 2018 a 2022. Não tinha assumido por estar na vice-presidência administrativa da CNC, então me licenciei e deixei que o primeiro vice-presidente, Maurício Filizola, assumisse o mandato. Eu vinha acompanhando o mandato que estava sendo executado, discutindo, trocando ideias, mas não estava à frente da Federação. 

Como a Confederação está trabalhando (em regime de) home office, resolvi reassumir para acelerar alguns processos que eu acho extremamente importantes e para consolidar um planejamento estratégico que tinha sido feito na Federação, além de uma reorganização administrativa que desde o início do mandato estávamos implementando. 

Desde o nosso planejamento estratégico, nós víamos a necessidade da centralização, para que todo o Sistema tenha a parte de pesquisas, pensamento, planejamento e cuidados da estrutura fim, mas de forma que tivéssemos nas duas pontas (Sesc e Senac), e mesmo na Federação, uma ação mais efetiva com relação à execução das nossas ações. 

Na Federação, estamos com um processo de modernização das três instituições. Dentro disso, estamos unificando a parte comercial do Sistema, de ouvidoria, de atendimento, e também a parte de dar a todos um conhecimento pleno de todas as atividades. 

Da mesma forma, aquelas empresas que participam do cartão do empresário, da nossa base, têm que ter uma maior proximidade com as oportunidades de levar e ofertar a seus colaboradores tanto os cursos do Senac quanto as atividades do Sesc.

Como a pandemia afetou este planejamento?

Nós tivemos durante esse período (da pandemia) que nos fez reinventar em várias formas de atendimento, em várias plataformas, tanto de comunicação, quanto de disponibilização de serviços à população.  

Mas nós estamos com os números desta segunda onda baixando, acreditamos que os poderes públicos têm que melhor se planejar para atender a população em caso de necessidade de internação.  

Aqueles casos que não são necessários internação e que podem ser acompanhados em casa, o Sistema deverá também se prontificar para dar assessoria e ajudar com relação aos colaboradores do segmento que representamos.

Para isso, acabamos de lançar o programa Clique Saúde, que quem estiver com algum sintoma de Covid-19 pode ter, através de uma consulta online, um acompanhamento inicial e até um encaminhamento para a rede de saúde pública ou particular.

E nossa ideia é expandir esse serviço, dando suporte maior, mas sem deixar de ver o papel do Estado e da Prefeitura com relação a isso. 

Mas também, por conta dessas questões, novas profissões, novas atividades surgiram no mercado. E nós estamos buscando fazer com que o Senac possa estar mais próximo a isso e direcionar não só a recolocação dessas pessoas que perderam o emprego no mercado de trabalho, mas também direcionando-as a uma possível incubadora de empresas que vamos lançar no Panorama, aquele empreendimento do Governo do Estado cedeu à Fecomércio.  

Vamos acelerar o processo de implantação lá de startups e de incubadoras de novas empresas para profissionais treinados pelo Senac possam começar a desempenhar o seu papel e poder ser recolocado na sociedade. Seja como colaborador, trabalhando em alguma empresa, mas também empreendendo, montando seu próprio negócio, até porque nós temos vários profissionais autônomos e muitas dessas ações hoje vão ser feitas em casa.
 

Como vai ser feito este acompanhamento dos negócios?

Por exemplo, a questão de moda e beleza, tem muita gente que hoje está cortando cabelo, fazendo as unhas, maquiagem em casa. Então, tem profissionais que estão montando seus salões de beleza itinerários. Isso precisa de um plano de negócios, de um acompanhamento, e nós deveremos assinar com o Sebrae, já na próxima semana, para colaborar com essas ações. 

E também as levando ao interior. Essas ações não precisam ficar restritas a Fortaleza e Região Metropolitana. Nós queremos que o Cariri também implante concomitantemente a isso. Temos já um departamento que tem trabalhado com as prefeituras de todo o Estado buscando projetos e ações, mas vamos trabalhar através dos polos regionais. 

Também vamos trabalhar no atendimento à saúde, principalmente através do Sesc com relação ao acompanhamento, porque muitas pessoas estão abaladas com a pandemia e até com medo. O pânico hoje tomou conta de muita gente.

Nós estamos também querendo atuar com essas ações com oficinas motivacionais, voltar a trabalhar com o nosso grupo de idosos, a questão do turismo social. 

Como está a atuação do Senac durante a pandemia? Há metas específicas para este braço, como novos cursos e aumento de turmas?

O Sistema se reinventou e buscou alternativas. Nós estamos fazendo aulas online, aulas híbridas presenciais com teleconferência. O Sistema não parou durante esse período.  

Mas estamos agora querendo ampliar ainda mais essas ações e buscar outras formas dentro da legislação que nos permite hoje. 

Inclusive, deveremos lançar agora no segundo semestre nossa Universidade do Senac com o primeiro curso de Gestão Comercial que deverá iniciar em 1º de agosto com a aula inicial desse curso, que foi aprovado pelo MEC com nota 5 em todos os quesitos. 

Vamos também ofertar novas oportunidades de cursos, tanto na área universitária, mas também na área tecnológica e de itinerário formativo. 

Quais as principais dificuldades que o setor enfrenta?

Eu não diria que são as medidas de isolamento social. São as imprevisibilidades que elas trazem. Imagine o seguinte: eu não posso ficar à mercê de toda semana ter um decreto que vai aumentar ou diminuir a minha jornada de trabalho. Já pensou? Na sexta-feira, eu não sei se contrato mais profissionais, porque vão ampliar o meu horário de trabalho, ou se vou demitir, porque vão reduzir. 

É você viver na imprevisibilidade. Isso tem causado um nervosismo e uma instabilidade emocional na mão de obra. Nós precisamos fazer decretos que tenham durabilidade de pelo menos um mês. E durante esse um mês, trabalhar com essas ações. E nós temos que buscar criatividade para que possamos ajudar a economia. 

Por exemplo, o setor de eventos, quando se fala de eventos profissionais, eu acho que já deveriam ter tido a volta autorizada. Porque esses eventos podem contar com agendamento, com salas híbridas de visitas e podem fazer um evento misto, como muita gente tem feito. Acho que já pode flexibilizar, até para dar utilidade a grandes equipamentos, como o Centro de Eventos do Ceará. Essa é uma das propostas que vamos apresentar ao governador.  

Na hora que eu faço um evento, por exemplo, o Tecno Alimentos, que vou trazer empresas do mundo todo com novos equipamentos. Se o Governo nos permitir que os expositores que trouxeram esses equipamentos para cá, ao final da feira, possam vender sem o custo do ICMS para os empresários e conseguirmos com os bancos o financiamento para isso, vamos conseguir modernizar as empresas locais, dar-lhes melhor tecnologia e competitividade. 

E esses eventos podem ser feitos de forma híbrida. Você pode ter os stands de visitação. Hoje, as academias funcionam via agendamento. Por que não eu agendar a visita a esses stands? Então, eu posso ter a visita, evitando aglomerações, tendo a segurança sanitária, mas não preciso estar parado. Essa paralisação, essa imobilização da economia tem sido extremamente danosa, não só para o Ceará, mas para o Brasil. 

Acho que temos que buscar formas de conviver com essa pandemia. Essa questão de lockdown, fica em casa, fecha tudo, já se mostrou no mundo que não é a única nem é tão eficaz para baixar o número de doentes. Acho que nós temos que aprender a conviver com a doença. Vai vir uma terceira cepa, uma quarta, e nós não podemos ficar à mercê dessas situações.

Temos que ter criatividade, ousadia e coragem para enfrentarmos essas questões com soluções que possam vir a ser feitas de maneira segura, mas que possam retomar e dar um novo fôlego. 
 

Quais seriam estas alternativas?

Estamos fazendo parceria com o Governo do Estado em várias áreas e com a Prefeitura. Vamos lançar 600 cursos em parceria com a SDE (Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico) e com o Governo do Estado para recuperação de empresas. Já estamos visando dobrar esse número. Quero ver se a gente consegue chegar a 1,2 mil a 2 mil empresas participando desses cursos.  

Já na Prefeitura, nós temos em torno de 6,8 mil pessoas que deverão, em convênio entre a Prefeitura e o Sistema Fecomércio-CE, serem formadas para retornarem ao mercado de trabalho. E nós devemos também ampliar esse número com recursos próprios do Sistema. E queremos levar esses projetos para o Interior e todo o Estado do Ceará. 

Vamos também atuar junto ao Governo Federal, já conversamos com o Roberto (Tadros, presidente da CNC), com o superintendente da Saúde no Ceará, estamos entrando com o pleito de tentar conseguir mais vacina para o Ceará.

Vamos usar também o apoio dos nossos deputados federais, senadores e do próprio Governo Federal para tentar ampliar a busca que todos nós temos que fazer com relação à vacina, para trazer imunidade para a população. 

Mas enquanto não conseguirmos vacinar todos, nós temos que buscar meios de convivência e meios para que essas pessoas tenham sustentabilidade e possam viver e sobreviver a isso tudo. 

Os pacotes de apoio que o Estado lançou até o momento são suficientes? O que mais o setor reivindica?

Eu acompanhei muitas coisas (durante o licenciamento da presidência), mas não acompanhei tudo. Estou fazendo uma nova pesquisa e consulta com todas as empresas, com todos os setores, e estamos fazendo uma reavaliação de todos os setores. Mas o que nós somos favoráveis é à volta ao trabalho.

O que nós somos favoráveis é que não seja só ajuda. Acho que essas ajudas são necessárias para recompor, como o Governo do Estado está ajudando agora o setor de eventos, como está ajudando outros setores, mas acho que a maior ajuda que o Governo pode dar é fazer ações integradas que ajudem não só o setor, mas a economia como um todo. 

Que seria permitir a volta plena das atividades?

Que seria principalmente a volta ao trabalho, de forma organizada e de forma controlada para minimizar os efeitos da pandemia. 

De modo geral, como está a saúde financeira das empresas do setor no Estado, passado mais de um ano dos efeitos da pandemia?

Varia setorialmente. O setor de supermercados vai muito bem, obrigado. O setor de farmácias vai muito bem, obrigado. O setor de serviços vai bem, não vai tão bem. Tem alguns serviços que foram mais e outros menos afetados pela crise.  

Nós estamos fazendo justamente esse levantamento, vendo os setores que estão mais afetados pela crise e nosso foco vai ser ajudar esses setores.

A adesão à MP de redução de jornada e salário está alta no comércio cearense?

Sem sombra de dúvida, essas medidas têm facilitado tanto que se preserva empregos enquanto a empresa se reorganiza. Agora, você tem que ter uma previsibilidade. Não pode toda semana estar mudando essas questões. É preciso ter uma previsibilidade maior. 

Eu estou fazendo um levantamento com relação a isso. Alguns setores estão contratando mais pessoas e não estão fazendo uso dessa MP. Outros setores estão fazendo uso parcialmente da MP. E outros estão fazendo uso maior dessa MP. 

Eu não tenho esses dados agora para informar com confiança. Gosto de primeiro verificar para dar algo que realmente seja a realidade. 

Com a ampliação do horário de funcionamento há duas semanas, já dá para observar um ritmo de recuperação melhor?

Para os lojistas melhorou muito e isso já tem atendido. Hoje, um dos maiores prejudicados ainda é o setor de bares e restaurantes. Porque o horário de fechamento de 21h é praticamente proibitivo para o jantar.

Porque muita gente trabalha até 18h-19h, quando vai sair para jantar, não dá tempo até 21h. E o faturamento maior desses estabelecimentos ocorre justamente no horário do jantar. 

Além do que, não é um setor especificamente do comércio, mas eu diria que é um setor extremamente importante para a saúde mental que são as igrejas. Igreja com 35% da capacidade é um número extremamente baixo e isso tem trazido uma grande dificuldade para esse segmento.

No caso das igrejas, já deveria ter sido ampliado a quantidade de pessoas por estabelecimento, até porque 35% é muito baixo, acho que já poderia estar sendo trabalhado com no mínimo 50%. 

Hoje, nossos números estão praticamente iguais aos da primeira onda e, com esses mesmos números hoje, com relação ao ano passado, nós estávamos com funcionamento pleno. Então, não vejo razão (para mais restrições). 

Tudo bem que nós temos que nos prevenir do que poderá acontecer, mas eu acho que cabe também nos prevenirmos aumentando as condições de atendimento às pessoas que porventura precisem vir a se internar. 

Esse eu acho que é o grande problema que se tem. Não é que você não vai contrair a doença. Desde a primeira onda, o discurso que se tinha era que nós precisávamos ganhar tempo para construir hospitais, para aumentar o número de leitos, para termos condição de atender a essa população.

Construímos no PV (Estádio Presidente Vargas) um hospital de campanha que infelizmente foi desmobilizado, que se hoje estivesse funcionando poderia estar prestando um grande serviço à população cearense. 

No processo de reabertura no ano passado, observamos um crescimento das vendas impulsionado pelo auxílio emergencial. Com a redução do valor e maior rigor nas regras de concessão esse ano, essa recuperação acaba sendo mais lenta?

Tem um volume meio circulante que é a composição de todos os salários e toda a renda do povo cearense. Quanto maior a renda da população, maior vai ser o consumo. Quanto menor a renda, menor o consumo.

O mercado imobiliário foi muito afetado no primeiro momento e, por exemplo, material de construção cresceu muito. Muita gente começou a ficar muito tempo em casa e começou a aproveitar e consertar e resolver alguns problemas que tinham dentro de casa em detrimento a se mudar para outros imóveis. 

Mas acho que isso é um movimento natural da economia. Eu acho que estamos aí com uma inflação ainda muito baixa, com a taxa de juros e o acesso ao crédito para as empresas muito bom e com juros que facilitam e você precisa ter ações que possam mitigar aqueles que tiveram problemas de pagamento de impostos, liberando essas empresas para tomar crédito para poderem se recuperar. Isso é que nós vamos analisar setor a setor como está isso. 

Estamos acompanhando no Congresso um Refis que deve ser aprovado ainda essa semana para que a gente possa também buscar a recuperação daqueles que porventura não conseguiram pagar os seus impostos federais. 

Como está a confiança do setor para o segundo semestre?

A minha expectativa, e nós vamos trabalhar para isso, é que a gente possa retomar o crescimento e voltar a crescer. O processo de vacinação é fundamental para isso. Acho que quando a gente conseguir vacinar 100% da nossa população estaremos mais tranquilos e poderemos acelerar essa retomada.  

Mas eu acho que temos que buscar alternativas para, independente de termos os 100% da vacinação, já estarmos começando a nos prepararmos para isso (retomada).

Se você tiver 60%-70% da população vacinada já terá sem sombra de dúvida uma retomada mais forte. Porque algumas pessoas, mesmo já vacinadas, estão reticentes em sair de casa, principalmente os mais idosos.  

Acho que, desde o princípio, nós realmente devemos proteger a população mais vulnerável, não só os que têm mais idade, como os que possuem comorbidades.  

Agora, eu acho particularmente um absurdo que você priorize vacinar presidiários e pessoas no sistema penitenciário antes de vacinar as pessoas que estão trabalhando no comércio de atendente, na frente do balcão, atendendo as pessoas. Acho que esses pontos devem ser revistos inclusive pelos governos. 

O ritmo da aplicação da vacina acaba frustrando o otimismo do setor?

Você tem que ver qual o estoque de vacina que o governo tem e a capacidade de vacinação. Eu sei que a capacidade do governo é grande, tem que ver o estoque que tem. Pelo menos até agora, o que me consta, é que as doses estão chegando dentro do previsto.

Assim como nós precisamos ter previsibilidade em relação ao funcionamento do comércio, os governos também precisam ter a previsibilidade das cotas que vão receber de vacina para a partir daí fazer as ações necessárias. 

Nós estamos tentando fazer também, é um movimento empresarial, com que as entidades de classe, como a nossa, e as empresas possam comprar vacinas para ampliar o número de vacinas para a população. O problema é encontrar vacina para comprar, porque todo mundo está querendo, não é tão fácil.
 

Essas doses seriam doadas ao SUS ou seriam aplicadas pelo próprio setor privado?

Eu defendo que você faça uma a uma. Por exemplo, que eu possa comprar vacinas e o próprio Sesc aplicar nos comerciários. Agora, eu tenho 400 mil inscritos nos Sesc.

Se eu tiver a possibilidade de comprar essas 400 mil vacinas para vacinar aqueles que são clientes do Sistema, eu teria que comprar o dobro, 800 mil, daria 400 mil para o Governo e ficaria com 400 mil.  

Eu acho que isso é justo e óbvio que essas pessoas sairiam do plano nacional de vacinação. Então, isso poderia acelerar. 

Agora, a dificuldade que se vê é que você não está conseguindo comprar vacinas no mundo, mas acredito que no segundo semestre os laboratórios vão começar a conseguir ampliar a fabricação de vacinas bem como alguns países vão começar a ter estoque de sobra. 

A pandemia mudou o setor definitivamente aqui no Ceará, sob a perspectiva da aceleração digital e do e-commerce? O comércio em loja física tende a enfraquecer mesmo quando essa crise passar? 

Essa é uma mudança definitiva no mundo. Hoje em dia, você vê principalmente entre os mais jovens a compra pelo ecommerce. Essa é uma tendência que a pandemia só fez acelerar, mas que já vinha acontecendo no mundo. Ela acelerou esse processo.  

De toda sorte, ainda vamos conviver com algum tempo com o mix. Você terá que ter a sua loja física, aonde você vai experimentar, vai ver, vai escolher.

Mas acho que o ecommerce vai se ampliar cada vez mais e no futuro, em um futuro muito breve, o modelo de loja que nós teremos serão outros, como já tem acontecido com algumas marcas e tipos de compra.  

E é isso que nós temos buscado através do Sistema ajudar nessas transformações desses segmentos.

O turismo e o setor de eventos, pela própria natureza da atividade, devem demorar mais para superar os efeitos da pandemia? Quais as perspectivas para essas duas atividades?

O turismo interno cresceu muito por conta da pandemia. Como não se pode viajar para fora, muitos têm buscado viajar dentro do País. O turismo interno, com a pandemia mais ou menos sob controle, tem crescido muito. 

Acredito que assim que tiver, em alguns lugares, uma facilitação maior, uma liberação desse segmento, acho que terá uma velocidade maior para se recuperar.  

Está havendo uma mudança do perfil. Muitas pessoas que iam habitualmente para os Estados Unidos ou para fora estão viajando dentro do Brasil. Agora, existem zonas e regiões que estão ainda sob um controle maior da doença e, por conta disso, ainda tem uma restrição muito maior.  

Esse segmento sim acredito que ainda vai retomar com maior fôlego a partir de quando tivermos um índice de vacinação maior. E daqui a pouco você vai começar a identificar e a liberar aqueles que já estão vacinados, que eu acho que essa é uma liberação que já poderia estar acontecendo.

Aquele que já está com as duas doses da vacina, ele tendo essa comprovação da vacina, a esse público já poderia ser permitido que ele pudesse se deslocar e começar a fazer mais turismo. 

O setor de eventos profissionais segue a linha do que falei anteriormente e vamos elaborar no máximo semana que vem uma proposta de atuação desse segmento ao governador.