QUE NEM TU: Marcelo Paz revela o que faz ele repensar em permanecer como CEO do Fortaleza

No comando do Leão, ele diz que se tornou mais frio perante as vitórias e derrotas e revela que comportamento fora de campo de atletas e comissão técnica são importantes na hora das contratações

Marcelo Paz está de 2015, quando assumiu o primeiro cargo como diretor de futebol, até hoje, CEO do Fortaleza Esporte Clube, reunindo histórias de vitórias, superação e derrotas. São nove anos de trabalho dedicados a duas paixões: o futebol e o clube que o fez torcedor. Alguns desses bastidores, o gestor conta no seu recém-lançado livro "Da C à Libertadores", e no episódio desta quinta-feira do Que Nem Tu.

Paz revelou que, apesar de apaixonada pelo Laion, já pensou em abandonar o clube por conta da violência que sofre com comentários nas redes sociais. Ele conta que, com o tempo, se tornou mais frio com as vitórias e derrotas. Mas, garante que nunca deixa de doer quando alguns torcedores desconsideram o trabalho e o resultado conquistado nesse tempo quando o Fortaleza perde.

"A gente passa a saber que só é bom quando ganha. No começo, sem dúvida nenhuma, eu lembro de 2015, era outro Marcelo. Hoje eu me sinto muito mais maduro, mais preparado. Mas ainda assim a gente se chateia com uma coisa ou outra. Mas a gente fica mais frio. Nem se empolga tanto na vitória, nem sofre tanto na hora difícil. Mas aprende a valorizar as pessoas que estão conosco em todas as horas".

Marcelo Paz, Karine Zaranza, Alan Barros e Martha Negreiros
Legenda: Marcelo Paz conta alguns bastidores que estão no livro "Da C à Libertadores" aos jornalistas Karine Zaranza, Alan Barros e Marta Negreiros no Que Nem Tu
Foto: Fabiane de Paula

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O CEO do tricolor conta que ofensas, injúrias e difamações que chegam até ele quando o Fortaleza não vai bem impactam a família. O filho mais velho, Marcel, já chegou a sofrer ameaça nas redes sociais. "É doloroso. O dirigente realmente pensa se vale a pena. É difícil. Não dá pra dizer que isso não importa, não vale. Não é verdade. Importa, vale. E eu vou continuar me importando porque eu sou ser humano e acho que a gente tem que trabalhar para uma sociedade melhor", disse Paz.

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Entre as estratégias que usa para não se impactar tanto com o que vem das redes sociais, ele diz que passou a usar filtros e não costumar ler comentários. Mas, de uma forma ou de outra, algumas mensagens acabam chegando até ele e sua família. "A  Jade (Romero, esposa de Paz) talvez seja a que mais sofre comigo. Ela está ao meu lado todos os dias. Eu converso tudo com ela. Ela acompanha. E ela às vezes sofre mais do que eu. Ela acompanha mais que eu. Eu coloquei o filtro de não ler muito as coisas".

O dirigente, o treinador, o jogador recebem crimes permanentes nas redes socais. Existe calúnia, injúria, difamação com nossos nomes porque as pessoas acham que podem falar o que quiser, que é terra sem lei, que pode agredir, maldar. E é preciso muito equilíbrio, primeiro, pra não responder. É o famoso apanhar calado. É injusto porque ninguém merece ficar sendo agredido porque o time perdeu um gol, um jogo ou um campeonato. Tem hora que cansa. No meu caso eu já me perguntei de que se é que serviu tudo o que foi feito?
Marcelo Paz
CEO do Fortaleza

Profissionalização do futebol

Marcelo Paz, CEO do Fortaleza Esporte Clube
Legenda: CEO do Fortaleza Esporte Clube, Marcelo Paz, disse que o comportamento fora de campo de jogadores infuencia na hora de decidir pela contratação do atleta
Foto: Fabiane de Paula

Um reflexo das conquistas em campo é a mudança na gestão. Paz se orgulha em dizer que dos 15 campeonatos que o clube disputou com ele, venceu 11. Mas também brilha os olhos quando elenca o resultado financeiro do Fortaleza e o que implementou em termos de gestão do Fortaleza Esporte Clube. Ele sabe que futebol é paixão, mas é um negócio poderoso, que movimento milhões em recursos e impacta muitas áreas.

Por isso, ele diz que não se pode pensar o futebol apenas com resultado dentro de campo. Marcelo Paz afirmou que  na hora de contratar atletas e equipe técnica, há uma preocupação com o comportamento fora dos gramados. "Importa muito o que se faz fora. Estamos falando aqui do Fortaleza. Fortaleza tem 2 milhões de torcedores, inúmeros patrocinadores, é acompanhando no estado do Ceará, no Brasil, na América do Sul. Então a gente representa uma imagem. E essa imagem tem que ser representada por cada um que veste a camisa. Assim como o dirigente tem que ter a sua postura, o treinador e o jogador também. Então importa muito o que se faz fora de campo".

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No entanto, ele pondera que é preciso ir além do estereótipo. Citou até nomes que foram muito criticados por "serem problemas", mas dentro do Fortaleza sempre tiveram atitudes muito profissionais.

"A gente pra contratar faz esse tipo de investigação. Mas às vezes também tem falsas ideias que se passam de algumas pessoas. Vou citar aqui. Lucas Lima quando chegou no Fortaleza todo mundo "Ah, o Lucas Lima tem problema". Nunca deu um problema dentro do Fortaleza. Zero. Marinho a mesma coisa. É profissional, corre, se doa, acerta, erra, mas é extremamente profissional. A gente pesquisa, não vai só no estereótipo. Vai mais a fundo, mas rejeita atletas que não vão agregar pra nossa imagem"
Marcelo Paz
CEO Fortaleza
              

Marcelo Paz também elencou o que era comum no futebol do passado e que é impensável no modelo de gestão profissional. De atraso de salários de jogadores a dirigente que saia com o dinheiro da bilheteria após o jogo. 

"O atleta se apresentar para um treino ou jogo bêbado. Isso aconteceu muito e hoje não tem a menor possibilidade. Se acontecer, ele não vai nem entrar no clube, vai voltar pra casa, ser punido, pagar multa. Antes se romantizava isso. Isso não existe mais em futebol profissional de alto nível. em jogador que fugia de concentração. Dia de concentração o cara ia beber e o dirigente ia lá pegava ele e levava de volta. Eu não vi, mas ouvia muitas histórias no Fortaleza. Do salário que não era pago e a mulher ia cobrar o salário do cara na diretoria. Tinha dirigente mesmo que saia com saco de dinheiro do estádio. Não que ele fosse fazer algo errado, mas ele tratava tudo tão pessoal que ele levava o uniforme no carro, o dinheiro da renda. São coisas assim que não cabem mais", defendeu.

Durante a conversa com os jornalistas Alan Barros, Karine Zaranza e Marta Negreiros, Paz ainda falou sobre momentos difíceis à frente do Fortaleza, a pressão da torcida, o tempo que investe na equipe para superar o erro ou derrotas, sua história antes de entrar para direção do clube e também como enxerga seu futuro profissional.

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