Primeira medalha para o Brasil na Olimpíada de Tóquio vem do Skate

Hexacampeão mundial, bicampeão do X-Games e considerado o principal nome do país na modalidade, Kelvin figurou no primeiro pódio olímpico do Skate

Legenda: A medalha que inaugurou a participação do Brasil no quadro das Olimpíadas de Tóquio foi conquistada na estreia do skate nos Jogos, com Kelvin Hoefler
Foto: MARTIN BERNETTI / AFP

O skatista paulista Kelvin Hoefler, de 27 anos, conquistou a primeira medalha para o Brasil na Olimpíada de Tóquio e figurou no primeiro pódio da História do skate em Jogos Olímpicos. Neste domingo (25), ele faturou a prata na categoria street, com 36.15 pontos na soma de suas quatro melhores notas na final.

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brasileiro Daniel Cargnin, de 23 anos, conquistou a segunda a medalha para o País na semifinal da categoria até 66kg do judô. 

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Desafios da competição

Após duas boas voltas, que colocaram Kelvin Hoefler na liderança da decisão, ele tinha cinco tentativas para acertar manobras, e precisava conseguir pelo menos duas. Acertou a primeira com uma boa nota (8.99), errou a segunda e a terceiras.

A pressão aumentou, mas ele respondeu com uma tentativa mais segura, que lhe rendeu 7.58, e finalizou com sua melhor manobra: 9.34.

"Se não fosse o vento, a gente poderia ter levado [o ouro]. Infelizmente, eu errei duas manobras por conta do vento, tive esse empecilho", disse. Mas a prata não significou descontentamento.

"Essa medalha aqui [olhando para ela], eu acredito que é um ganho para o skate em geral do Brasil. A gente vem batalhando. É bem difícil a modalidade no Brasil, então eu cresci tendo muitas dificuldades. Isso aqui não é só meu, é de todos os skatistas do Brasil, de toda a galera que vem torcendo pela gente", afirmou.

A final, com oito skatistas classificados após as eliminatórias, foi disputada sob sol forte e temperaturas acima de 30ºC no parque de esportes urbanos de Ariake, no início da tarde no Japão.

Outros brasileiros na disputa

O Brasil também tinha outros dois atletas na competição, Giovanni Vianna e Felipe Gustavo, que terminaram a etapa de classificação em 12º e 14º, respectivamente.

Felipe Gustavo, 30, natural de Brasília, foi responsável pela inauguração do skate nos Jogos, como primeiro atleta a dar uma volta na primeira bateria. Ele disse que normalmente acharia melhor ficar mais para o final, quando os critérios dos juízes estão mais claros, mas que nesse caso recebeu a notícia com muito prazer.

"Eu me senti honrado de ser o primeiro skatista da história a dropar. E eu tinha na minha cabeça que precisava acertar as primeiras manobras, porque todo o mundo ia ligar a televisão, nunca viu o esporte na TV, aí vai ligar e o cara erra uma manobra?", brincou.

"Depois que acertei a primeira linha, falei 'nossa, que felicidade'. Foi um sentimento que nunca tive antes e só tenho a agradecer o skate por ter me proporcionado isso. Fizemos história. O skate salva."

Conheça Kelvin Hoefler

Kelvin, 28, natural de Itanhaém, que cresceu no Guarujá e hoje mora na Califórnia, tem um histórico de sucesso na modalidade (campeão da Street League em 2015) e conseguiu ampliá-lo no ambiente totalmente novo para o skate nas Olimpíadas.

Ela começou a andar aos 9 anos, quando o pai, Eneas de Souza, policial, e a mãe, Roberta Hoefler, dona de casa, deram um skate de presente para o garoto e montaram uma pequena rampa na garagem, já que no Guarujá não havia locais adequados para a prática.

Ele também surfava até a adolescência, mas as águas geladas o afastaram do mar e o fizeram se firmar nas pistas, ou nas ruas.

Desde cedo, Kelvin queria se estabelecer nos EUA em busca da carreira profissional. A competição que mudou tudo ocorreu em 2014, na África do Sul, quando ele faturou um na época inimaginável prêmio de US$ 100 mil. Isso lhe permitiu fincar raízes na Califórnia.

Polêmica

Letícia falando
Legenda: Letícia comentou a situação no Instagram
Foto: REPRODUÇÃO/INSTAGRAM/@LETICIABUFONI

O nome de  Kelvin Hoefler ficou no centro de uma polêmica quando a skatista brasileira Leticia Bufoni não fez referência à prata conquistada por ele. Nas redes sociais, ela explicou o motivo. 

"O Kelvin, pelo que vocês perceberam, nunca está com a gente nos roles. Nunca faz parte das nossas atividades. Por uma opção dele, ninguém aqui tem nada contra ele, muito pelo contrário. Está todo mundo aqui comemorando, muito feliz que o Brasil ganhou uma medalha, a primeira [do país]", começou

Após a conquista da prata na disputa do street nos Jogos Olímpicos, Hoefler abraçou sua amiga antiga, Pâmela Rosa, que também não é muito próxima de Leticia e da outra brasileira no topo do circuito, Rayssa Leal.

Ele também deu sua versão sobre a origem do desentendimento

"Eu cresci junto com a Leticia, a tia dela morava na rua de casa. A gente era muito próximos, mas ai ela foi para os Estados Unidos, perdemos um pouco do contato. Então quando a gente se encontrou de novo, a gente não era mais aqueles amigos", afirmou em entrevista após a sua conquista. 

"Respeito muito a história dele, o moleque anda muito de skate, não tem nem o que falar, mas infelizmente ele não gosta de estar com a gente. Um exemplo grande, a CBSk, a confederação brasileira de skate, não pode nem marcar ele nos stories, porque ele bloqueou", continuou Leticia sobre a história.

Leticia, contudo, também comemorou a conquista. E ainda postou uma foto do pódio olímpico. "Independentemente de qualquer coisa, o skate é uma família [...] A gente está torcendo por todo mundo e sempre quer que o Brasil esteja no ponto mais alto do pódio", completou.

Leticia, Rayssa e Pâmela estreiam no skate na noite deste domingo (25).