Greve dos Roteiristas inicia nesta terça-feira (2) nos Estados Unidos
As manifestações iniciaram em Los Angeles e Nova Iorque
A Greve dos Roteiristas iniciou, nesta terça-feira (2), quando piquetes cercaram as imediações dos estúdios em Los Angeles e Nova Iorque. Milhares de roteiristas deram início a uma greve para exigir melhores salários e condições de trabalho na era das plataformas de streaming.
Os programas de entrevistas noturnos de Jimmy Kimmel, Seth Myers e Stephen Colbert devem ser os primeiros sacrificados desta primeira paralisação do sindicato em quinze anos.
"Nós, roteiristas, não recebemos o suficiente", disse à AFP Louis Jones nos arredores da Netflix, em Los Angeles. "Trabalhamos longas horas e não vejo os direitos residuais nos episódios recorrentes na televisão", acrescentou. "Acho que queremos apenas um pouquinho mais do que nos ofereceram".
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A greve, que poderia atrasar a produção de séries e filmes se perdurar, começou após o fracasso dos diálogos entre o sindicato de roteiristas dos Estados Unidos (WGA) e a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP).
As respostas aos pedidos foram "totalmente insuficientes, dada a crise existencial que os roteiristas enfrentam", informou o WGA, acrescentando que a greve tinha começado.
Os roteiristas exigem salários melhores e maior participação nos lucros gerados pelas reproduções nas plataformas de conteúdo, enquanto os estúdios afirmam que precisam reduzir custos devido às pressões econômicas.
Danielle Sanchez-Witzel, do WGA, disse que o sindicato acredita que os estúdios podem melhorar sua oferta. "Tudo o que pedimos é menos de 2% do lucro que eles têm (...) pelo produto que criamos para eles", afirmou a escritora em um piquete nos arredores da Netflix.
Apresentadores de 'talk shows'
Os apresentadores de 'talk shows' noturnos Stephen Colbert e Jimmy Fallon, ambos membros do sindicato, apoiaram os roteiristas.
Colbert chamou suas demandas de "razoáveis", enquanto Fallon expressou apoio à sua equipe. "Apoio meus escritores, temos muito pessoal que seria afetado por isto, mas eles devem ter um tratamento justo", indicou Fallon à AFP durante o Met Gala, em Nova York.
Salários estagnados
Os roteiristas afirmam que seus salários estão estagnados ou desvalorizados pela inflação, enquanto seus empregadores lucram e aumentam os salários de seus executivos.
Além disso, alegam que nunca houve tantos roteiristas trabalhando pelo salário mínimo estabelecido pelos sindicatos e denunciam que as redes de televisão contratam menos pessoas para escrever séries cada vez mais curtas.
Quando as conversas naufragaram, na última segunda-feira (1º), o WGA acusou os estúdios de tentarem criar uma economia de contratos ocasionais, na qual ser roteirista se tornaria uma "profissão totalmente independente".
Segundo a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão, a demanda do Sindicato dos Roteiristas de que os estúdios contratem um número determinado de roteiristas "por um período de tempo específico, sendo necessário ou não" é um dos principais pontos de divergência.
Reproduções no streamings
Outra controvérsia é como os roteiristas são pagos pelas reproduções nas plataformas de streaming, que em serviços como a Netflix costumam ficar disponíveis por anos.
Há décadas, os roteiristas cobram "direitos residuais" pela reutilização de suas obras, um percentual da receita dos estúdios por filme ou programa, ou uma tarifa fixa toda vez que um episódio é reproduzido.
Mas com a reprodução sob demanda nas plataformas, os roteiristas obtêm um pagamento anual fixo, mesmo que centenas de milhões de espectadores vejam os produtos.
O Sindicato dos Roteiristas pede uma reavaliação destes valores. Também quer discutir o impacto futuro da inteligência artificial na profissão de roteirista.
Acabar com o impasse
A Aliança dos Roteiristas afirma que os "direitos residuais" pagos aos roteiristas alcançaram um recorde de 494 milhões de dólares em 2021 (cerca de 2,78 bilhões de reais em valores da época), contra 333 milhões dez anos antes (cerca de 620 milhões de reais em valores da época).
Após os gastos elevados dos últimos anos, quando plataformas de streaming concorrentes tentavam a todo custo aumentar seus assinantes, os estúdios agora estão sob intensa pressão dos investidores para cortar gastos e gerar lucro. As plataformas negam que as dificuldades econômicas sejam um pretexto para não atender às reivindicações dos roteiristas.
"Há uma única plataforma [de 'streaming'] que é lucrativa neste momento, e esta é a Netflix. A indústria cinematográfica também é um setor bastante competitivo", declarou uma fonte à AFP.
Na segunda (1º), os estúdios argumentaram que estão "dispostos a iniciar discussões com o WGA em um esforço para acabar com o impasse".
Mas a indústria teme um efeito dominó. Outros sindicatos de Hollywood expressaram solidariedade aos roteiristas, como o SAG-AFTRA, de atores, e o DGA, de diretores. Ambos devem iniciar diálogos com os estúdios em meados do ano.
Greve dos Roteiristas de 2007
A última vez que os roteiristas de Hollywood pararam de trabalhar foi em 2007, em uma greve que se estendeu por cem dias e custou 2 bilhões de dólares (R$ 3,5 bilhões em valores da época) à indústria do entretenimento.
Séries como The Office, Breaking Bad e outras foram afetadas pela crise daquele ano.