‘Rampa’ do Mara Hope: entenda riscos de se aventurar na carcaça de navio encalhado em Fortaleza

Mergulhadores experientes indicam que o ideal é manter uma distância segura da embarcação

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Estrutura do navio está bem deteriorada e pode causar acidentes
Foto: Ismael Soares

Um pedaço do navio encalhado Mara Hope desabou na última segunda-feira (4), na orla de Fortaleza, e provocou uma série de reações nas redes sociais. Há quem tenha apontado a deterioração de mais um marco histórico da cidade e o destaque que ele ocupa na paisagem litorânea, mas os principais comentários sugerem possíveis atividades lúdicas no local - embora possam trazer riscos à saúde e à vida.

“Não dou dois dias pra galera fazer disso um escorregador ou pista de skate”, disse uma seguidora do Diário do Nordeste. “Galera do jet ski vai usar essa rampa aí” e “domingo a turma já tá subindo e pulando” foram outras hipóteses levantadas na ocasião.

Brincadeiras à parte, mergulhadores ouvidos pela reportagem não recomendam subir no local pela possibilidade de acidentes graves, principalmente pela fragilidade da estrutura do navio. Atualmente, ele está coberto de ferrugem e continua sendo corroído pela maresia.

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Além do perigo da própria estrutura à vista, existem riscos submersos, como alerta o mergulhador Régis Freitas, que afirma conhecer o Mara Hope mais do que a própria casa.

“Ali, onde ele arriou, na maré seca, tem muita chapa rasa. Com 1 metro e meio ou 2 metros, na maré baixa, aparecem ferragens expostas. É bem perigoso para a galera fazer alguma brincadeira dessas aí”, entende.

Experiente, Henrique Coimbra diz que ainda não ouviu boatos concretos de que algum grupo vá até o local, mas logo emenda: “não duvido”. Segundo ele, até para quem costuma se aventurar no mar, o ideal é ir de barco e manter uma distância segura.

A aproximação não é recomendável porque lá existe o risco de colapsar, o risco de desabamento total daquela placa que formou a ‘rampa’.  Se alguém tentar mergulhar por lá, como um mergulhador de apneia (sem equipamentos), pode acontecer um enrosco, pode ficar preso às ferragens que se encontram lá.
Henrique Coimbra
Mergulhador

Para Coimbra, a aproximação máxima para apreciação do navio sem nenhum problema deve ser a uma distância de cerca de 100 metros dele. “Menos do que isso, pode ser arriscado por conta dessa possibilidade de desabamento. Se alguém está embaixo pode sofrer um grave acidente, ou quem estiver mergulhando pode ficar enroscado nas ferragens que já desabaram em outra época”, completa.

Cuidado com doença

Os profissionais também alertam para o risco de contágio por tétano acidental, doença infecciosa grave causada pela toxina de uma bactéria que pode estar presente em objetos de metal (enferrujados ou não), de madeira, de vidro ou mesmo no solo.

Conforme o Ministério da Saúde, as pessoas podem adoecer quando, acidentalmente, sofrem lesões na pele (ferimentos, cortes ou perfurações) por objetos deixados no ambiente e contaminados pela bactéria.

Na ocorrência de lesões de pele ou mucosas, é importante que o local seja higienizado, inicialmente com água e sabão e, caso a pessoa não seja imunizada, deve procurar uma unidade ou equipe de saúde mais próxima da sua residência. 

Sintomas do tétano

  • Febre baixa
  • Alterações locais do ferimento da pele e mucosas
  • Contrações espontâneas ou provocadas por estímulos táteis, sonoros, luminosos ou alta temperatura ambiente
  • Espasmos musculares: faciais, do pescoço, do maxilar ou do abdômen
  • Dificuldade de engolir alimentos
  • Insuficiência respiratória
  • Alterações neurológicas

A melhor forma de prevenção da doença é a vacinação, disponível gratuitamente em toda a rede do Sistema Único de Saúde (SUS). No caso da vacina dupla adulto (dT), há recomendação de doses para crianças a partir de 7 anos de idade, adolescentes e adultos. Quem possui o esquema vacinal básico completo deve tomar uma dose a cada dez anos.

Quando o Mara Hope encalhou?

Em março de 1985, o rebocador do petroleiro espanhol Mara Hope teve problemas mecânicos em águas brasileiras e foi obrigado a ancorar no estaleiro da Indústria Naval do Ceará (Inace). Com a maré alta durante uma tempestade, as amarras do navio se romperam e ele derivou até encalhar em um banco de areia perto da Praia de Iracema.

Ocorreram várias tentativas de recuperação e reflutuação do navio, mas nenhuma teve êxito, principalmente por causa dos danos no casco. Em 1989, uma empresa comprou a embarcação e iniciou a desmontagem das peças possíveis de serem vendidas.

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