Revival de ‘Sex and the City’ retoma discussões de problemáticas da série; entenda

Ambientada em Nova York, a continuação do clássico terá 10 episódios e as gravações começam ainda este ano

Escrito por Lívia Carvalho , livia.carvalho@svm.com.br
Sarah Jessica Parker, Cynthia Nixon e Kristin Davis estarão de volta
Legenda: Sarah Jessica Parker, Cynthia Nixon e Kristin Davis estarão de volta, sem Kim Cattrall.

Desde que o retorno de ‘Sex and the City’, grande sucesso da televisão do final dos anos 1990 e início dos anos 2000, foi anunciado, o burburinho nas redes sociais tem sido intenso. O revival da série, intitulado ‘And Just Like That...’, terá 10 episódios e vai acompanhar as personagens agora na faixa dos 50 anos com presença de parte do elenco original, exceto por Kim Cattrall, que dava vida à Samantha. Mas, porque essa continuação tem causado tantas discussões? 

O que se sabe até agora da continuação é que as gravações devem começar ainda este ano em Nova York e cada episódio terá 30 minutos de duração. Produção da HBO Max, não há detalhes sobre a disponibilização da série no Brasil, já que o serviço ainda não funciona no país. 

A novidade também tem trazido à tona discussões sobre a falta de representatividade da série, bem como outras problemáticas da sociedade atual. Para muitos, a narrativa da produção foi revolucionária à época, já que escancarou temas do universo feminino ainda pouco abordados na televisão. Sexualidade, aborto, carreira, independência e, principalmente, o protagonismo feminino a partir da amizade entre quatro mulheres com pensamentos diferentes. 

É o que enxerga Carla Correia. Para a atriz, a série é bastante assertiva e “um marco de empoderamento, embora 20 anos depois pareça excludente".

"As personagens juntas formam uma mulher complexa, com suas questões e experiências de vida em uma trama existencial, texto maravilhoso e reflexões inspiradoras”, diz Carla.  

Já o publicitário Gabriel Monteiro, fã da série,  pondera a romantização de diversas temáticas. "O consumismo da Carrie, por exemplo, essa vida cosmopolita, em que tudo é muito fácil, acessível... é uma vida fácil porque elas são ricas. Fora a gordofobia, retratada pela imposição de padrões de beleza como a busca excessiva pela magreza". 

Atual para seu tempo?  

A autônoma Naira Oliveira pontua que é preciso ter flexibilidade com o tempo. “Quando a série foi lançada, já estava quebrando vários paradigmas pra época. Não dá pra exigir que questões despertadas na atualidade fossem abordadas. Foi muito significativa e, considerando o propósito que é quebrar essa noção de que a mulher precisa de um homem pra ser validada, ainda é muito atual”, argumenta. 

O pesquisador e crítico de cinema Diego Benevides, cujo trabalho de conclusão de curso em jornalismo abordou a série, reitera que é preciso analisar a produção na época em que foi lançada.

“Não é justo ignorar a sua relevância cultural, sobretudo ao trabalhar o empoderamento dessas mulheres e de sua relação com os outros e com a incansável e devoradora Nova York”, aponta.  

“Um provável envelhecimento de ‘Sex and the Citynão configura um fracasso. Pelo contrário. Se hoje alguns temas são vistos e oferecidos de forma mais madura e transgressora é porque foi preciso que, lá atrás, alguém tentasse localizar essas questões e começar a discuti-las. E a série faz parte desse processo”, acrescenta o Mestre em Comunicação.  

Legenda: A série quebrou paradigmas ao abordar temas do universo feminino
Foto: Reprodução

Estereótipos no audiovisual 

Além da falta de atores negros no elenco, outra problemática da série é a retratação de LGBT’s. Para Gabriel, os personagens desse grupo são bastante estereotipados em ‘Sex and the City’.  

“As aparições são muito curtas. Os gays são colocados na função cômica e a bissexualidade também não é representada de uma forma positiva, elas abordam como se essa pessoa fosse indecisa, mas isso é um reflexo do tempo em que foi feita”, reforça. 

Redenção com o revival? 

Se a época é justificativa para tais abordagens (ou mesmo a falta delas), ‘And Just Like That...’ pode ser a oportunidade para que Carrie, Miranda e Charlotte se redimam com esse público que foi deixado de fora do enredo. Pelo menos é isso que espera Letícia Arraes. A estudante de psicologia acredita que “a série pode trazer discussões sobre temas contemporâneos, além de ter um elenco mais diverso”. 

Embora aguardado por diversos fãs, o revival não agradou a todo mundo. Naira, por exemplo, acredita que a série, finalizada em 2004, já teve uma ‘conclusão redonda’ para os personagens. 

“Todos estavam muito bem encaminhados dentro da narrativa no final, não vejo necessidade de estragar nossa imaginação trazendo o que aconteceu depois. Acredito que perde o propósito da série. A saída da Samantha, por exemplo, é um forte indício da continuação ser desnecessária”, comenta.  

Já para Diego, a nova produção deve garantir boas novas histórias. “Ela responde a um mercado e se compromete com a nostalgia dos fãs e com a nova forma de se consumir audiovisual pela geração atual. A maturidade pode ser uma questão central da temporada porque pode nos apresentar novos olhares sobre essas mulheres que têm outros sonhos e objetivos”.  

Clássico que conquistou  

Com direção e produção de Michael Patrick King, ‘Sex and the City’ é baseada no livro homônimo de Candace Bushnell e foi exibida entre 1998 e 2004. Nomes de peso que são até hoje lembrados pelos marcantes personagens integram o elenco, entre eles: Sarah Jessica Parker (Carrie), Kristin Davis (Charlotte), Cynthia Nixon (Miranda), Kim Catrall (Samantha) e Chris Noth (Mr Big). 

Legenda: Na continuação, apenas três das quatro protagonistas retornam
Foto: Reprodução

O seriado conquistou uma legião de fãs e o sucesso foi tanto que a franquia virou filme em 2008 e 2010. Além do spin-off ‘The Carrie Daries’ (2013), que contava a história de Carrie na adolescência e início da fase adulta. 

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