Leia entrevista com a artesã Francisca de Brito Carvalho, esposa de Espedito Seleiro

Em agosto de 2019, ela falou com exclusividade ao Verso sobre a importância do mestre da cultura em sua vida, por ocasião da comenda Sereia de Ouro e do aniversário de 80 anos do companheiro

Escrito por Roberta Souza , roberta.souza@svm.com.br
Legenda: Dona Francisca no ateliê da família, em 2009
Foto: Foto: Reprodução/ Patricia Araujo

De pés calçados com uma sandália de couro marrom que não tirava nem para ir ao hospital, e a tomar um vento na porta da casa que dá para a rua mais visitada de Nova Olinda. Foi desse jeito que a artesã Francisca de Brito Carvalho, companheira do mestre da cultura Espedito Seleiro, deu, talvez, a última entrevista sobre o amado, em agosto de 2019. No diálogo rápido, mediado pela nora Irenilda Carvalho, ela declara seu amor pelo artesão, que se despediu da esposa na última quinta-feira (9), em virtude do falecimento da matriarca.

— Bora conversar? 
— Vamo!
— A senhora conheceu seu Espedito, era bem novinha, não era? 
— Era. Era uma adolescente…Tu ouviu dizer, foi? Quem foi que disse, foi ele? 
— Ele mesmo que disse. A senhora achou bonito foi o homem? 
— É gaiato! (risos) Eu achei. Eu gostei dele!
— De cara logo? 
— De cara.
 E como foi isso? Ele pediu pra casar? 
— Foi, pediu casamento e meu pai deu. E eu gostei. 
— Gostou que é o que importa, né?
— É!
 E começou a ter filho logo? 
— Foi. E é gente boa, gente boa até hoje. Graças a Deus!
— Sempre tratou a senhora bem? 
— Graças a Deus!
— O que a senhora gosta mais nele? 
— Muié, eu gosto é de tudo. De todo jeito que ele fizer pra mim tá bom.
— E os filhos? 
— Do mesmo jeito. Se eu disser uma coisa, tudo aceita. Tudo obediente. É tudo, tudim. Essa aqui é nora, mas é do mesmo jeito, mesmo jeitinho com nós, parece ser filho… tem os netos!
— A senhora gostava de fazer os pontos ali na oficina? 
— Gostava, gostava, e ainda gosto. Ainda hoje eu fiz essa chinela aqui fechada que era pra eu calçar quando eu fosse pro hospital. Espedito, tá bom assim? E eu avexada fazendo os pontos que era pra calçar quando fosse pro hospital. 
— Gosta mais da sandália, das bolsas, de quê? 
— De tudo eu gosto!
— E dele, a senhora gosta mais dele trabalhando ou dele como pessoa? 
— Não gosto dele trabalhando não, que ele trabalha demais mulher, ele trabalha demais.
 Sempre foi assim? 
— Sempre foi assim, desde o começo.
 Aí virou famoso, a família toda famosa.
— É, dizem que é tudo famoso, eu não sei, né? Deus é quem sabe se é…
— É sim, tudo famoso, é um artista.
— É, um artista mesmo. Graças a Deus.
— Ele vai fazer aniversário em outubro, 80 anos. 
— Ai vai! Tô sabendo não...
— Qual melhor presente que a senhora queria dar pra ele? 
— Fazer uma festinha pra ele, né? 
— A família sempre muito unida, né? 
— Tudo, graças a Deus. 
— Então vamos bater os parabéns!
— Seu Deus quiser, nós vamos...
— E quantos anos a senhora tem? 
— E eu sei, mulher… Lembro não…
— A senhora é muito feliz aqui? 
— Eu sou, graças a Deus, graças a Deus! Eu acho bom demais… Família tudo unida, tudo em casa, tudo gosta do trabalho, tudim. A nora que entrou gosta também, e assim vamos, até o dia que Deus quiser!
— E aqui tá tudo bonito, rua bonita? 
— Aqui ficou bom demais, né?
 E nunca tira essa sandália dos pés? 
— Eu tiro quando vou me deitar somente. Quando vou me deitar, jogo fora. Mas quando vou me levantar, já calço de novo, é o dia todim.
— A senhora gostou dessa minha? 
— Gostei e vou mandar Espedito fazer a minha assim… Se ele não tiver, ele faz, né?
— É igual a sua, só muda a cor.
— E é, pois então já tá bom, do mesmo jeito, só falta a cor. Tá bom, tá linda.
(...)
— Deus lhe dê muita saúde e ano de vida pra vir ajudar nós.

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