Arquitetura antiga do Ceará e Maranhão é contemplada em livro
A publicação "Arquitetura, Memória, Registro - Levantamentos gráficos da arquitetura antiga no Ceará e no Maranhão", orientada pelo professor e arquiteto Liberal de Castro, será lançada hoje (23), em Fortaleza
Entre os anos 1968 e 1983, os mais de 200 estudantes que passaram pela antiga Escola de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará encontraram uma tarefa comum quando submetidos às aulas do professor Liberal de Castro. Realizar levantamentos gráficos de velhas edificações no Ceará e no Maranhão era trabalho didático da disciplina de História da Arquitetura ministrada por ele.
Ao longo de 16 anos de produção, esses documentos foram encaminhados à diretoria de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, às prefeituras e às demais repartições envolvidas, bem como aos proprietários dos imóveis selecionados; mas, ainda assim, uma parcela da sociedade não sabia da existência do material. Tornar esse acervo público estimulou docentes e discentes a organizar um livro a ser lançado neste sábado (23).
"A memória humana é seletiva e recorda com regozijo e nitidez os tempos passados, felizes e fugazes. Com justa razão, no grupo dos participantes do programa, hão de aflorar reminiscências amáveis dos dias estudantis dedicados à elaboração dos levantamentos gráficos, reminiscências nascidas da certeza de um dever cumprido, deliberada e prazerosamente", escreve o professor Liberal de Castro no texto introdutório do livro.
Ainda de acordo com ele, "as medições e os rascunhos dos desenhos quase sempre eram realizados coletivamente, ao longo de seguidos dias, fora dos recintos universitários e, tantas vezes, em paragens distantes". As cidades de São Luiz e Alcântara, no Maranhão; e Almofala, Aquiraz, Aracati, Barbalha, Caucaia, Fortaleza, Icó, Jaguaribe, Maranguape, Pacoti, Quixeramobim, Sobral e Viçosa do Ceará foram as visitadas para esses registros, conforme explica o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento Ceará (IAB-CE) Custódio Santos Neto.
"Nessa época a gente fazia tudo à mão, o que hoje é basicamente feito no computador. Na capa do livro, por exemplo, temos o Theatro José de Alencar. Para fazer o desenho daquela estrutura metálica, o pessoal ficava nas escadas, tirando medida, era um trabalho grande", lembra.
Organização
Segundo o presidente do IAB-CE, a organização do livro começou há quatro anos, numa tentativa de materializar um sonho. "Batalhamos para conseguir recurso e firmamos parceria com Grupo M. Dias Branco, que tornou viável esse projeto. Essa é uma forma de homenagear nosso professor", analisa.
Ao lado de Custódio, trabalharam os colegas Beatriz Helena Nogueira Diógenes, Delberg Ponce de León, Francisco Augusto Veloso, José Alberto de Almeida e Margarida Júlia Andrade. A arquiteta Beatriz Diógenes recorda com carinho dos tempos de estudante. "O professor Liberal foi meu orientador em pesquisas, numa dissertação de mestrado, tenho aproximação grande com ele desde a universidade". No trabalho da disciplina de História da Arquitetura, sua turma visitou a cidade de Icó.
"Eu acho que isso é um legado que a gente deixa para todos os interessados no tema, não só para alunos que participaram, mas para aqueles que enxergam e valorizam essa arquitetura antiga, do período colonial. É um documento muito importante, não só para a comunidade arquitetônica, mas para a sociedade em geral. Fica para a posteridade", avalia.
O artista plástico Totonho Laprovitera também teve a oportunidade de realizar levantamentos arquitetônicos de uns casarões na cidade do Icó, no primeiro semestre de 1981. "Sempre atento a ensinos e exemplos, com essa preciosa experiência acadêmica, me encontrei no inolvidável princípio de que, assim como as pessoas, os prédios necessitam de alma para viver", escreve.
Declarações como essa são, por si próprias, homenagens ao professor Liberal de Castro, que assim responde no livro: "O coordenador dos trabalhos se contenta em saber que pôde oferecer à geração profissional, seguinte à sua, um pouco do que recebeu de seus antecessores e do que conseguiu amealhar, sempre buscando transmitir o amor ao trabalho e a curiosidade insaciável de ampliar conhecimentos, tanto para gáudio pessoal como para redistribuição àqueles de que os carecem e os solicitam".
Arquitetura, Memória, Registro - Levantamentos gráficos da arquitetura antiga no Ceará e no Maranhão"
Coordenação: José Liberal de Castro
Editado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil 2019, 266 páginas R$100
Serviço
Lançamento do livro
Hoje (23), às 17h, na Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco (R. Manuel Dias Branco, 80 - Cais do Porto). Tel: (85) 3263.4596. Os livros poderão ser adquiridos na sede do Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento do Ceará (Av. Carapinima, 2425. Tel: (85) 3283.5454.