Matemática do voto: partidos no Ceará calculam expectativa de sucesso nas urnas para formar chapas

Diferente da disputa majoritária, nem sempre o candidato com maior número de votos para a Assembleia Legislativa ou para a Câmara Federal é o eleito

Os preparativos para outubro continuam se intensificando, com aumento das agendas de pré-candidatos nos municípios cearenses, nas inaugurações de obras, além das movimentações para mudanças partidárias. No caso do Legislativo, outro fator é essencial para aumentar as chances de conquistar um mandato: a matemática.

Com a mudança de regras eleitorais, legendas projetam o número de vagas a serem conquistadas e articulam a formação das chapas de acordo com o potencial de votos previsto para cada candidatura. 

O Legislativo exige cálculos mais complexos do que para cargos majoritários. No caso de presidente, governador e senador, vence aquele com maioria absoluta de votos. Já para as cadeiras da Câmara dos Deputados e da Assembleia Legislativa, entram em cena também os quocientes eleitoral e partidário - o que possibilita que, nem sempre, sejam eleitos os candidatos mais votados do pleito. 

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Com mais de 6,2 milhões de eleitores aptos a votar no Ceará, os dirigentes partidários e futuros candidatos já fazem as contas para calcular o valores dos quocientes eleitorais e partidários para 2022. 

Na matemática feita pelos partidos, até agora, se projeta quociente eleitoral entre 80 mil e 100 mil votos para a Assembleia Legislativa e entre 190 mil e 200 mil para a Câmara dos Deputados.

A projeção, contudo, pode flutuar de acordo com quantos eleitores cearenses decidam ir às urnas e com o número de votos brancos e nulos. 

Mudanças eleitorais

A primeira mudança para outubro é o fim das coligações partidárias. Essa será a primeira vez em que partidos não poderão formar, para as eleições, alianças para a disputa a deputado estadual e federal. O novo formato exige das legendas um maior trabalho para preencher as chapas. 

Para 2022, cada partido poderá apresentar até 47 candidaturas para deputado estadual e 23 para federal. Presidente estadual do PSB, o deputado federal Denis Bezerra aponta que essa mudança alterou as estratégias das legendas. 

"Em 2018, por exemplo, a cota de indicação do PSB foram 3 para a nossa coligação para deputado federal. Para deputado estadual, foram cinco candidatos que o partido indicou dentro da proporcionalidade das chapas", detalha. 

Com a desistência de integrar a federação com PT, PCdoB e PV, o PSB irá formar a chapa apenas com filiados do próprio partido e projeta ampliar as bancadas tanto na Câmara como na Assembleia. 

Para estadual, Bezerra aponta que a primeira vaga deve ser conquistada com votação entre 30 a 35 mil votos. "A segunda e terceira viriam decrescendo, podendo chegar a 25 mil votos. Mas vai depender da conjuntura", projeta. Com isso, a meta seria fazer entre 3 e 4 deputados estaduais, completa. 

Projeção de votação

Em outras legendas, dirigentes partidários falam sobre a projeção de quantos votos toda a chapa deve alcançar e como isso se refletiria na quantidade de cadeiras conquistadas no parlamento. 

Presidente do PL no Ceará, o prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves considera que o partido deve alcançar entre 750 mil e 800 mil votos para a Câmara Federal. Para a Assembleia Legislativa, a projeção é de 500 mil. "Nós pretendemos (eleger) 4 deputados federais e de 5 a 6 deputados estaduais, contando com as sobras", afirma. 

Com a recente filiação do deputado federal Célio Studart - segundo mais votado em 2018 -, a projeção do PSD é de conquistar 1 milhão de votos à Câmara Federal, o que proporcionaria ao partido conquistar 5 das 22 vagas a deputado federal do Ceará. 

A projeção da legenda também é conseguir 1 milhão de votos para a Assembleia Legislativa, o que somaria oito cadeiras no parlamento estadual - uma ampliação em relação aos 2 deputados do partido na atual legislatura. 

"Temos um compromisso de que passe pelo crivo dos pré-candidatos uma possível nova filiação. (...) No fundo, a concorrência é com os correligionários, a partir dos votos dados nominalmente, se divide o número de vagas. É absolutamente justo fazer dessa forma transparente", explica o presidente do PSD Ceará, Domingos Filho. 

Força da bancada parlamentar

Com as maiores bancadas cearenses na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal - atualmente com 6 federais e 14 estaduais -, o PDT tem como meta ampliar o número de parlamentares nas duas casas legislativas.

Segundo o presidente do diretório estadual da legenda, o deputado federal André Figueiredo, as projeções ainda dependem dos diálogos em andamento com pré-candidatos. 

"Quem vier para o PDT, sabe que a linha de corte é mais alta. (Mas) Temos expectativa de eleger muitos deputados. Quem está na suplência, tem uma maior possibilidade de exercer mandato, diferente de um partido que só elege um", ressalta. 

Figueiredo afirma que é necessário "aguardar o fim do prazo da janela partidária e novas filiações", que encerra no começo de abril, para ter "um número mais preciso" de quantos votos seriam necessários individualmente para se eleger. Nos bastidores, pedetistas projetam que pré-candidatos com 50 mil votos para deputado estadual, por exemplo, conseguiriam conquistar a cadeira. 

Alinhamento ideológico

Para o presidente estadual do PT, Antônio Conim, as chapas da legenda devem ser formadas mais pelo alinhamento com o projeto político partidário do que pelos cálculos eleitorais. 

"Estamos conversando com lideranças que tenham afinidade com o projeto que estamos apresentando para o Brasil. São aqueles que já votam no Lula, já votam nos deputados PT, já participam de gestões petistas. Estamos indo pelo critério de afinidade política". 
Antônio Conim
Presidente do PT Ceará

Apesar disso, o partido tem realizado projeções de quantos petistas irá eleger em outubro: seriam 7 ou 8 deputados estaduais e cerca de 4 federais. Número que pode ser ainda maior com a federação entre PT, PCdoB e PV, se for firmada, segundo o presidente.

Os três partidos não são os únicos que devem usar o novo mecanismo político-eleitoral já em 2022. Com debates nacionais avançados, PSDB e Cidadania também devem fechar a aliança, o que terá reflexos para o Ceará.

Federações partidárias

As conversas entre os presidentes estaduais das duas legendas, Luiz Pontes (PSDB) e Alexandre Pereira (Cidadania), já estão ocorrendo, mas os dois partidos também já se organizam separadamente. 

Um dos dirigentes do Cidadania no estado, o vereador licenciado Michel Lins fala, por exemplo, do processo de formação da chapa para deputado estadual, que vem sendo liderada pelo líder do Governo na Assembleia, Júlio César Filho (Cidadania) - que vem liderando articulação de bloco de pré-candidatos "que podem desembarcar aqui no Cidadania", explica Lins. 

Ele afirma ainda que a projeção de vagas conquistadas pode aumentar com a formalização da federação. "Mas (os pré-candidatos) ainda estão circulando para ver o que vai ocorrer. Tem uma turma interessada só vai se definir mais próximo", explica. Luiz Pontes também ressalta a possibilidade de fortalecimento das chapas com a federação entre os dois partidos. 

Ele aponta que uma das forças do PSDB são os votos de legenda, "sempre entre 35 mil e 40 mil votos". Apesar de projetar a eleição de 3 deputados federais e 4 estaduais, ele admite que o cálculo ainda deve oscilar muito e depende das definições de filiação dos pré-candidatos, o que deve ficar para última hora. 

"As pessoas esperam até a última hora para ficar 'xeretando' a chapa. Saber a distribuição de recursos, quem está na chapa, com quantos votos se elege. Ficam atrás de qual partido que vai em que se elege mais facilmente, não sabe ideologia nem nada", critica.