CE segue recebendo águas do São Francisco apesar de bombas paradas; saiba se há risco de suspensão
Desde fevereiro, as águas da transposição voltaram a chegar no Estado a pedido do Governo Estadual
O Ceará segue recebendo as águas da Transposição do Rio São Francisco que, desde fevereiro de 2024, voltaram a chegar na barragem de Jati, no Cariri cearense, a pedido do Governo do Estado, em uma vazão de 6,5 metros cúbicos por segundo (m³/s). As águas continuam chegando mesmo que 2 bombas do sistema da Estação de Bombeamento 3 (EBI-3) do Eixo Norte, em Pernambuco, estejam paradas.
Isso porque na transposição a água percorre o trajeto de duas formas: por gravidade (usando declives) ou com a força de estações de bombeamento. No caso do Ceará, nesse momento, com o volume gerado pelo período chuvoso e os altos níveis dos reservatórios abastecidos pela Estação de Bombeamento anteriormente, a gravidade tem garantido o transporte das águas, segundo informações do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) - responsável pelas bombas - e da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) do Ceará.
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Uma das bombas, a motobomba 2, já está parada desde 2022, segundo o secretário executivo da SRH, Ramon Rodrigues. “Eles estão refazendo toda essa estrutura com essa bomba”, relata se referindo ao Governo Federal, responsável pelo funcionamento e a manutenção das bombas. “Mandamos nossas equipes no Cariri para verificar, e as águas continuam entrando no sistema”, garantiu.
Desse modo, quando a água da Transposição, solicitada pelo Governo do Ceará no início deste ano, voltou a entrar no estado, essa bomba já não estava operando. Segundo o MIDR, essa motobomba passará por uma manutenção e “tem retorno programado de operação para a segunda quinzena de julho, permitindo a plena capacidade de bombeamento da EBI3”. O MIDR diz que ainda está em fase de contratação da empresa que fará a manutenção do equipamento.
Mas, o que, em certo grau, tem gerado alerta, nas últimas semanas, para a possibilidade de uma possível “suspensão” da chegada das águas do São Francisco no Ceará é o fato de outra motobomba, a 1, ter sido paralisada. Porém, o MIDR, em nota, informa que a parada do equipamento é devido a uma “manutenção programada, que deverá ser concluída até o dia 10 de abril”.
Nesse caso, explica o secretário executivo da SRH, Ramon Rodrigues, essa paralisação é um procedimento interno da gestão dos equipamentos. De acordo com ele, essas manutenções são necessárias, pois “essas bombas, com a vibração que emitem, precisam estar sempre niveladas, em equilíbrio. Com o trabalho delas, aos poucos, elas vão se desalinhando. Aí tem que reequilibrar, fazer um rolamento, ou algum outro tipo de manutenção”, explica.
Segundo o MIDR, a manutenção ocorre neste período “levando em consideração os altos níveis dos reservatórios abastecidos pela Estação de Bombeamento e o período chuvoso na região”. O fornecimento de água ao Ceará, informa, “não será interrompido”.
Chegada das águas do São Francisco no Ceará está em risco?
Diante dessa paralisação das bombas, a chegada das águas ao Ceará, e consequentemente à RMF, pode ser comprometida? Conforme o secretário da SRH, o Estado só terá preocupações referentes à entrega das águas da Transposição se a bomba 1 não for consertada até maio.
“Vamos dizer que essa bomba não entre em operação até maio, com certeza vai diminuir essa vazão até ela parar, claro. Só que o Ministério, que é quem detém o controle do equipamento, está nos informando que em 15 dias essa estação volta a bombear. Então, 15 dias não afeta o nosso planejamento. Afetaria a entrega se não tivermos até maio”.
Ele acrescenta que essa disponibilidade de água ficaria comprometida, mas reforça que: “não afetaria o abastecimento de Fortaleza porque temos outras ‘cartas na manga’. Temos o Sistema Metropolitano, o (açude) Aracoiaba, temos bombeamento de poços em Dunas, temos outras alternativas que podem manter o sistema em atendimento”.
Ele explica que essas bombas da Estação de Bombeamento 3 (EBI-3) na cidade de Salgueiro, em Pernambuco, “são as últimas do percurso. Dessa estação para cá não tem mais bombeamento. Ela vem por gravidade. Então, eles enchem uma série de reservatórios que tem antes do Jati e essa água vem sendo drenada por gravidade para nos ofertar”, completa. As estações de bombeamento, segundo o MIDR, são responsáveis por elevar a água de um terreno mais baixo para outro mais alto.
Em fevereiro, o Governo Estadual anunciou que fez o pedido ao Governo Federal e com a liberação das águas do São Francisco a ideia era que eles percorrerem cerca de 300km até o açude Castanhão passando pelo Riacho Seco, Rio Salgado e Rio Jaguaribe, com a finalidade de aumentar a garantia hídrica humana da RMF e água para as atividades produtiva rural do Vale do Jaguaribe.
Se essa água não chegar, aponta o secretário, ainda assim “estamos relativamente tranquilos se ela parar de vir esse ano. A gente sabe que não vai parar. Mas os nossos estoques permitem que a gente possa manter Fortaleza sem problema em 2024 e 2025”.
Isso porque, explica, o pedido feito ao Governo Federal era para garantir estoque de água. “Era para que a gente pudesse transferir do São Francisco para o Metropolitano cerca de 300 milhões de metros cúbicos de água para a gente estocar no sistema Metropolitano. Que é o consumo de Fortaleza por 10 meses”.
Até quando a água vai ser transferida?
O pedido feito pelo Governo do Estado ao Governo Federal, diz Ramon, foi de transferência de 10 m³/s para o estado, tendo em vista que quando as 2 bombas estão em operação na Estação de Bombeamento 3 (EBI-3) do Eixo Norte, a capacidade de transferência é de 25 m³/s. Porém, com uma das bombas já estava parada, a capacidade de transferência fica em 12,5 m³/s e o Governo autorizou 6,5 m³/s para o Ceará.
“Ele disse que ia fornecer 6,5 metros cúbicos por segundo e a partir de fevereiro ele começou a liberar essa água. Essa água é liberada em uma comporta que tem na Barragem de Jati, uma comporta lateral ligada ao Cinturão das Águas do Ceará. Ela está liberando 6,5 metros cúbicos por segundo e estamos transferindo para Fortaleza”.
De acordo com ele, a liberação foi solicitada para o ano todo, contando a partir de fevereiro, pois o pedido não foi exatamente em vazão, mas sim em volume. “Se fizer um cálculo por segundo, precisaria dos 10 meses para armazenarmos uns 280 milhões de metros cúbicos e nós pedimos o máximo de água possível pelo máximo período”. Mas não há garantia que a água será transferida o ano todo. Cabe ao Governo Federal determinar exatamente até quando será o fornecimento.