Formado no Ceará, médico potiguar é um dos pioneiros da acupuntura no País

A história do Dr. Evaldo Leite se embrenha ao percurso da acupuntura no Brasil, da década de 1950 até hoje

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@diariodonordeste.com.br
Legenda: O médico Evaldo Leite fundou a Associação Brasileira de Acupuntura
Foto: Foto: Camila Lima

Aos 90 anos, Dr. Evaldo Martins Leite impressiona pela disposição de uma vida entregue aos cuidados com o ser humano. Por ele, passa a evolução da prática da acupuntura no País. Restrita, até a década de 1950, às comunidades orientais radicadas no Sudeste, a terapia com agulhas ganhou respaldo social a reboque do fôlego do médico.

Natural de Areia Branca (RN), o acupunturista veio morar em Fortaleza em meados dos anos de 1940, e foi aluno da terceira turma de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC). "Fiquei aqui de 1946 a 1955. Sou mais cearense do que potiguar. Transformei-me em gente aqui. A faculdade era muito rigorosa: queria ser exemplar, porque era um curso novo. Eram 60 vagas abertas, mas só passaram 10 alunos", recorda.

Pesquisa

Ainda na faculdade, Evaldo conheceu a acupuntura lendo uma revista francesa. "Fiquei curioso sobre aquela possibilidade terapêutica. Colocar uma agulha ali pra tratar do fígado, que história é essa? Daí comecei a pesquisar. Aqui no Ceará, não achei nada em bibliotecas, na faculdade de Biologia, nada", conta.

O médico "peregrinou" atrás de referências mais sólidas sobre a prática chinesa e encontrou uma base no Rio de Janeiro (RJ). "Teve a Segunda Guerra, e os orientais em São Paulo, naquele tempo, eram muito fechados. Uma tia no Rio, então, descobriu um médico alemão que também praticava, Frederic Spaeth. Ele tinha vindo para o Brasil fugido da perseguição nazista", lembra.

Evaldo passou a acompanhar Frederic nos atendimentos em São Paulo e desenvolveu uma pesquisa própria. Além da fundação da Associação Brasileira de Acupuntura (ABA), em 1958, a acupuntura aplicada em vegetais, por exemplo, é uma de suas descobertas. De início, Evaldo Leite foi processado três vezes. Era médico e ensinava acupuntura, um conhecimento "não-médico".

De acordo com ele, a perseguição na época foi muito grande.

Hoje, mudou bastante aquela visão de que a acupuntura é um procedimento de charlatão. Ano passado, o SUS reconheceu o reiki, a homeopatia, e outras práticas integrativas como terapêuticas para a saúde das pessoas", sustenta.

Na jornada pela acupuntura, o médico esteve no caminho de outras referências solidárias. Em São Paulo, teve como paciente o líder espírita Chico Xavier (1910-2002)."Ele morava em Minas (Uberaba). Mas quando tinha condições de viajar, ia para São Paulo e recebia acupuntura. Cliente nota 10 (risos)", brinca.

Para chegar aos 90 anos com tanta vitalidade, o médico conta que já atravessou os "quatro períodos físicos" compreendidos pela prática que abraçou por vocação. "Para a acupuntura, dos 0 aos 30 anos você tem o período da juventude; do 30 aos 60, é a mocidade; dos 60 aos 90, a maturidade; e o último período é dos 90 aos 120. É a viagem que eu farei agora", reflete com sabedoria.

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