Plano Diretor, taxa do lixo e eleições devem movimentar a Câmara Municipal de Fortaleza em 2022

Vereadores da capital retornam do recesso legislativo em sessão híbrida nesta terça-feira (1º)

Os vereadores de Fortaleza retomam nesta terça-feira (1°) os trabalhos legislativos na Câmara Municipal. Entre os temas que irão dominar a pauta em 2022, eles apontam dois projetos que devem ser prioritários: o Plano Diretor e a regulamentação do Programa de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos da Capital, aprovado no final do ano passado e que inclui a cobrança de tarifa pela coleta do lixo

Além disso, a disputa eleitoral em outubro também deve dominar os debates no plenário da Casa, mesmo no primeiro semestre. Além do fato de que vários vereadores são pré-candidatos a deputado estadual ou federal, os parlamentares lembram que a Câmara Municipal conta com a representação de diferentes grupos políticos que estão em embate direto tanto a nível estadual como federal. 

O retorno dos trabalhos legislativos ocorre nesta manhã, em sessão híbrida na Câmara Municipal. A previsão é de que o prefeito José Sarto (PDT) participe da solenidade, inclusive com leitura de mensagem sobre as prioridades da Prefeitura de Fortaleza e quais projetos devem ser enviados ao Legislativo em 2022. 

Um dos destaques é a proposta que acrescenta 22,34% de reajuste no salário dos professores da Capital, a ser somado com os 11% aprovados em 2021, igualando assim o percentual ao piso nacional do magistério. O projeto foi protocolado na segunda-feira (31) na Câmara, segundo o prefeito.

Regulamentação da taxa do lixo

Um dos assuntos que os parlamentares devem se debruçar ainda neste primeiro semestre é a regulamentação do Programa de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos da Capital, aprovado no final de 2021. Intitulado de ‘Fortaleza, Cidade Limpa’, o plano inclui, dentre outras iniciativas, a criação de tarifa pela coleta do lixo urbano.  

Segundo a Prefeitura de Fortaleza, o objetivo do projeto é obedecer às determinações do Marco Legal do Saneamento. Na regra aprovada em 2020, fica estabelecido que as prefeituras devem, por exemplo, garantir a sustentabilidade econômico-financeira dos serviços prestados. 

"O Marco trazia a obrigatoriedade de se adequar ou os municípios corriam risco dos gestores incorrerem em improbidade administrativa", argumenta o vereador Lúcio Bruno (PDT). O texto aprovado pela Câmara Municipal ano passado já estabelecia que a Prefeitura teria que enviar a regulamentação do plano ainda no primeiro semestre de 2022.  

Segundo o líder da Prefeitura na Câmara, Gardel Rolim (PDT), existe um compromisso do Executivo municipal em "entregar um novo serviço" nesta área. O novo projeto, continua ele, deve "definir qual trabalho a Prefeitura irá fazer". "Como vai ser a parceria com catadores, qual será a política de compensação, como os ecopontos podem se inserir dentro desse plano", detalha. 

Presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Lúcio Bruno aponta ainda outros detalhes que a regulamentação deve trazer, principalmente sobre a taxa do lixo: "qual será o público cobrado e quem vai estar isento, qual a previsão de arrecadação e em que vai ser investido", cita.

"Isso vai ter uma grande discussão na Casa, como qualquer outra proposta polêmica, já que sempre criação de taxa é polêmica", afirma.

Críticas à nova tarifa

Parte da oposição na Casa, o vereador Guilherme Sampaio (PT) afirma que ainda tem expectativa de que a "Prefeitura tenha o bom senso de recuar" na criação da nova tarifa. "Não temos nenhum critério ainda sobre como será feita a instituição de mais essa conta que vai onerar o orçamento familiar em um momento em que as pessoas estão enfrentando desemprego, inflação e pandemia", critica.

Co-vereadora pelo mandato coletivo Nossa Cara, Adriana Geronimo (Psol) afirma que uma das prioridades é garantir a isenção da taxa à população de baixa renda da capital.

"Temos (para esse primeiro semestre) a expectativa de desenho desse método. Estamos com desafio de pautar a isenção da população de baixa renda, porque não é possível que, vivendo a pandemia, essa população que não tem nem para comer, tenha que pagar a taxa do lixo", ressalta.
Adriana Geronimo (Psol)
Vereadora de Fortaleza

Também crítico à nova tarifa, o vereador Márcio Martins (Pros) aponta que não só esse projeto, mas o pacote de propostas ao final do ano devem continuar a repercutir nesse início de semestre - mesmo antes da chegada da regulamentação do plano  “Fortaleza, Cidade Limpa”.

"(No final de 2021) Eles mandaram 17 mensagens em dez dias, é loucura. Esquece o mérito. Logisticamente, não tem como o vereador conseguir estudar isso", critica o parlamentar. "Estou estudando com a oposição se conseguimos apresentar um projeto de revogação. Mas não temos lastro para aprovar. Agora, a depender da pressão popular, a gente observa essa situação", completa.

Prioridade para Educação

Por outro lado, um dos primeiros projetos a ser discutido é a complementação do reajuste salarial para profissionais do magistério na Capital. Na última quinta-feira (27), o prefeito José Sarto anunciou o acréscimo de 22,24% de reajuste salarial para os professores.

O percentual será somado ao reajuste de 11% aprovado no final de 2021, totalizando o montante definido pelo Governo Federal, de 33,24%. A meta é que o reajuste entre na folha de pagamento a partir de março. 

Gardel Rolim afirma que a educação deve ser um dos focos da atuação do Executivo municipal, inclusive por meio de projetos no Legislativo. Apesar de não querer antecipar o conteúdo das propostas, ele explica que algumas das iniciativas devem ser anunciadas pelo prefeito durante a sessão de abertura dos trabalhos na Câmara. 

"(As prioridades são) Desenvolvimento econômico e educação, onde já tem sido feitas ações muito importantes, como pequenos financiamentos e ações de microcrédito. (...) Será um ano produtivo tanto para o Legislativo como para o Executivo como para a cidade", ressalta. 

Para além do reajuste do piso do magistério, Guilherme Sampaio afirma que deve ser dada prioridade a iniciativas para lidar com as consequências da pandemia de Covid-19 sobre a aprendizagem. 

"O impacto disso é gravíssimo. Precisamos nos debruçar sobre as ações emergenciais relativas aos impactos da pandemia para a Educação pública, que seja no âmbito da evasão quer seja no desempenho dos alunos", destaca. 
Guilherme Sampaio (PT)
Vereador de Fortaleza

Discussão do Plano Diretor

Com quase três anos de atraso, a Prefeitura retomou na última semana a discussão sobre o Plano Diretor de Fortaleza. A legislação urbanística deveria ter sido revisada até 2019, quando completou dez anos de vigência da lei atual. 

Contudo, o início da discussão só foi iniciada pela Prefeitura de Fortaleza no segundo semestre de 2019 e acabou adiada em julho de 2020, quando o Ministério Público recomendou a suspensão para garantir a efetiva participação popular. 

A Câmara Municipal possui assento no Núcleo Gestor do Plano Diretor, grupo responsável por coordenadar a elaboração do novo texto ainda no âmbito do Executivo. Apesar de ainda ter que passar por uma série de etapas antes de chegar à Casa, Gardel Rolim afirma que esta deve ser "a matéria mais importante do ponto de vista legislativo" em 2022. 

"Não sei se consegue ainda para esse semestre, mas a meta é chegar nesse ano. Porém, mais importante do que o tempo, é fazer um Plano Diretor que garanta os rumos do município, da forma mais democrática possível", ressalta.
Gardel Rolim
Vereador de Fortaleza

Adriana Geronimo afirma que a movimentação para tratar desse tema pelo legislativo já começou, principalmente pela base aliada do prefeito Sarto. "Deve tomar muito tempo da Câmara, até porque o tema é denso. Estamos nesse trabalho de garantir a participação da população", destaca. 

Impacto do debate eleitoral

Os vereadores são unânimes ao afirmar que o debate eleitoral deve estar presente na Casa desde o primeiro semestre, mesmo com a votação marcada apenas para outubro.

Os motivos para isso vão desde o fato de que muitos parlamentares da Capital devem tentar um cargo nessa votação até o fato de que os diferentes grupos políticos que irão entrar em embate tanto na disputa federal como na estadual estão presentes na Casa. 

Vice-presidente da Câmara Municipal, Adail Júnior (PDT) não acredita, no entanto, que deve haver um esvaziamento na Casa. "Nunca acontece. Quem não quer usar a tribuna da Câmara Municipal da Capital? O parlamento é divulgado e, mesmo que não tenha a intenção, vai deixar a pessoa mais conhecida", afirma. 

Dos 43 vereadores, pelo menos 17 avaliam candidatura para a eleição deste ano. Pré-candidato a deputado estadual, Guilherme Sampaio aponta que "não existe pré-campanha melhor do que um bom mandato". "E, à medida que a temperatura desse debate (eleitoral) for elevada, é possível que isso se traduza nas discussões do plenário", ressalta.  

Adail Júnior afirma ainda que não são apenas os vereadores que serão pré-candidatos que devem intensificar o debate eleitoral, mas todos os parlamentares da Casa.

"O debate em relação às eleições vai intensificar. Isso acontecia mais no segundo semestre, mas esse semestre que antecede já é bastante intenso. A Câmara Municipal está muito envolvida, temos três vias, quatro vias (para o governo federal) e todas com representação na Câmara", ressalta. 
Adail Júnior (PDT)
Vereador de Fortaleza

Para Márcio Martins, o debate nacional tem repercutido desde 2021 e é uma tendência natural de todas as casas legislativas terem essa discussão em ano eleitoral.

"O vereador é o político mais próximo do povo, tem a obrigação de emitir a sua opinião para as pessoas que o seguem, que o acreditam. O vereador não pode se furtar. Agora, esses debates não podem sob nenhuma ótica atrapalhar a produção legislativa", pondera. 
Márcio Martins (Pros)
Vereador de Fortaleza

Lúcio Bruno concorda que é importante não deixar que as discussões eleitorais atrapalhem o debate legislativo.  "Mesmo não sendo eleição presidencial, esse debate já iniciou-se ano passado. Várias vezes, falei que a gente fica discutindo um assunto que não está na hora de ser discutido e esquece de fazer debates que são importantes para a cidade de Fortaleza", argumenta.

Passaporte da vacina

Uma das discussões que ficou para 2022 após polêmica foi a exigência de passaporte da vacina na Capital. Após pressão de vereadores da oposição, a Câmara Municipal decidiu suspender a análise do projeto que trata do tema e esperar a volta dos trabalhos para retomar as discussões. 

Contudo, a vereadora Adriana Geronimo considera que o "tempo político dessa pauta passou". "Essa aprovação (no ano passado) poderia ter evitado muito o contágio. O passaporte sanitário teria evitado muito dessa transmissão. Mas não temos muita expectativa de que isso volte", afirma. 

Projeto de autoria do prefeito Sarto, o projeto sofreu críticas, principalmente, de vereadores ligados à bancada bolsonarista na Casa. Líder da Prefeitura na Câmara, Gardel Rolim considera que a discussão sobre o enfrentamento à pandemia de Covid-19 deve ser mais ampla em 2022. 

"No cenário de 2022, nós vamos voltar a discutir o passaporte. Seria muito importante que não precisasse discutir a necessidade do passaporte, se conseguíssemos superar a Covid-19. Mas isso não depende só da Câmara ou da Prefeitura", afirma. Ele aponta que, caso necessário, o passaporte poderá sim ser discutido ainda no primeiro semestre. 

À espera das investigações

Outra discussão que deve ficar em compasso de espera é a respeito do vereador licenciado, Ronivaldo Maia. 

O parlamentar foi declarado réu no dia 8 de dezembro após a Justiça do Ceará aceitar denúncia contra ele por tentativa de feminicídio. O cárcere dele completou dois meses no último sábado (29), apesar dos pedidos da defesa em prol da soltura ou de transferência para o quartel do Corpo de Bombeiros.

Contudo, na Câmara o momento é de cautela, apontam os vereadores. Enquanto alguns preferem não comentar o assunto, outros falam que é preciso esperar a conclusão do processo penal antes de avaliar o caso no Conselho de Ética da Casa. O próprio regimento não prevê nenhuma punição mais severa - como a cassação de mandato - antes da condenação e trânsito em julgado para casos criminais. 

Projeto de lei apresentado pelo mandato coletivo Nossa Cara pretende mudar essa regra, pelo menos para casos futuros. Apresentado ainda em 2021, a proposta cria "mecanismos para impedir que pessoas que estejam sob medidas cautelares, investigadas, processadas ou condenadas por crimes de violência doméstica possam tomar posse em cargos públicos municipais".