A sensível deterioração na saúde com o aumento de casos e internações por Covid-19 não deixava ao Estado outra opção senão intensificar a rigidez das medidas com o novo decreto de isolamento social. No entanto, como bem destacou o colega Inácio Aguiar em sua coluna, houve um claro esforço por parte do governador Camilo Santana em não determinar novamente o lockdown. E a razão para tal é a preocupação com a economia.
Desperta crescente apreensão o desempenho econômico em meio à segunda onda da pandemia, e isto certamente tem sido fator relevante na equação do Estado ao redigir os decretos, os quais, prioritariamente, consideram a preservação de vidas e da integridade do sistema de saúde.
Mas a esta altura, não há como desprezar o panorama socioeconômico. O auxílio emergencial, cujo pagamento cessou em dezembro, deixou órfãos milhões de pessoas que passaram a depender deste dinheiro para sobreviver, diante do contexto de retração financeira. Houve, na virada de 2021, uma ruptura de renda brusca, cujos reflexos têm sido devastadores sobretudo para os mais pobres, ainda mais com a escassez de vagas no mercado de trabalho.
Forçar que estas pessoas, sem renda, sem perspectivas, a geladeira vazia e o horizonte obscuro, tranquem-se em casa, mesmo sabendo que do ponto de vista sanitário seria prudente, teria efeitos sociais implacáveis, entre os quais a ampliação da miséria e da fome.
O "Fique em Casa" cabia de forma massiva no início deste pandemônio. Mas lá se vão 11 meses de crise. Muitos, felizmente, conseguem manter-se em casa, mas há uma multidão que precisa sair por força da necessidade.
Enquanto saúde e economia pioram paralelamente e o volume de vacinas se esvazia, em Brasília estão no topo das prioridades a autonomia do Banco Central, o acesso a armas de fogo e a prisão do deputado Daniel Silveira. Já a data e o formato do novo auxílio emergencial, ninguém sabe.