O Miss Universo, tradicional concurso de beleza feminina, chega à 70ª edição neste domingo (12), a partir das 21h no horário de Brasília. Estreando em um país do Oriente Médio, a cerimônia será realizada em Eilat, Israel, pela segunda vez neste ano — a edição anterior, que coroou a mexicana Andreza Meza, ocorreu em maio, nos Estados Unidos, com atraso devido à pandemia.
Na ocasião, a representante brasileira, a gaúcha Julia Gama, ficou em segundo lugar, tornando-se vice-Miss Universo. Na edição atual, a cearense Teresa Santos disputa a coroa e o título de mais bela mulher do mundo com outras 79 candidatas.
Natural de Fortaleza e criada em Maranguape, a brasileira é, além de modelo, estudante de Psicologia. Antes dela, a última cearense a conseguir se tornar Miss Brasil foi Melissa Gurgel, em 2014.
Uma das poucas misses Brasil de cabelos loiros na história, Teresa é apontada como uma das favoritas a ser consagrada com a faixa do Miss Universo.
Ieda Maria Vargas e Martha Vasconcellos
O Brasil já teve duas mulheres vencedoras do Miss Universo: a gaúcha Ieda Maria Vargas, em 1963, e a baiana Martha Vasconcellos, em 1968. De lá para cá, o País quase viveu o tricampeonato três vezes: em 1972, com a gaúcha Rejane Goulart; em 2007, com a mineira Natália Guimarães, e em 2020, com Gama.
Ao portal UOL, o moderador do fórum on-line Miss Brazil On Board, João Ricardo Dias, disse acreditar que o concurso esteja buscando um perfil mais clássico, o que elevaria as chances de a brasileira ser agraciada com o título. "Faz tempo que não temos uma Miss Universo loira", afirmou.
No entanto, a brasileira terá outras concorrentes fortes no páreo. O professor venezuelano Jesús Hernández, um dos administradores da página "Arquitecto de Misses", dedicada ao mundo dos concursos de beleza, avalia que os certames têm buscado se adaptar às mudanças sociais — o fato de Israel sediar o concurso neste ano é um indicativo disso.
"Temas político-sociais são introduzidos nos concursos de beleza. Inclusive vemos, saindo um pouco do Miss Universo, que no Miss Grand International 2021 a candidata brasileira [Lorena Rodrigues] denunciou o presidente Jair Bolsonaro e disse que ele não estava fazendo seu trabalho. Os concursos estão mudando, os temas políticos estão inclusos nos certames", explicou ele ao UOL.
O entusiasta de misses indicou à publicação candidatas que têm recebido destaque na edição deste ano.
Confira algumas concorrentes:
Kedist Detour, da Bélgica
A Miss Bélgica, Kedist Deltour, teve uma história de vida surpreendente: nasceu na Etiópia, sobreviveu a um ataque a bomba, ficou em situação de rua na infância, perdeu a mãe e foi adotada, com os irmãos, por um casal belga.
Valeria Ayos, da Colômbia
Nascida em Cartagenas de Indias, a Miss Colômbia trabalha na área de Relações Internacionais e intenta ser ministra da Educação do país de origem — ela vem de uma família em que apenas duas de 11 pessoas puderam ter acesso a uma boa escola. Ela também é ativista ambiental.
Sarah Loinaz, da Espanha
Outra ativista ambiental, a Miss Espanha já fundou uma campanha em prol do meio ambiente e atualmente trabalha ensinando métodos de reciclagem contra poluição marinha a crianças. Ela também se voluntariou a ajudar a comunidade afetada pela erupção do vulcão Cumbre Vieja, em La Palma.
Harnaaz Sandhu, da Índia
A participante indiana seguiu os passos da mãe, que se voltou contra o patriarcado para se tornar ginecologista, e cresceu trabalhando com a mãe a favor da saúde feminina e da higiene menstrual. Ela advoga pelos direitos e pelo empoderamento da mulher.
Nadia Ferreira, do Paraguai
Conhecida modelo em solo paraguaio, a concorrente não passou por concurso — ela foi indicada pelo país de origem. A Câmara dos Deputados do Paraguai declarou que a participação de Ferreira é de interesse nacional e cultural da nação. Ela também é CEO de uma marca que ajuda no desenvolvimento sustentável de mulheres vítimas de violência doméstica.
Michelle Marie Colon, de Porto Rico
A candidata porto-riquenha está concluindo especialização dupla em Biologia e Medicina, com a esperança de seguir carreira em Medicina, especializando-se em Dermatologia. Presidente da associação estudantil internacional da universidade em que estuda, ela já fez trabalho voluntário em instituições contra o câncer.
Luiseth Materán, da Venezuela
Caçula de sete irmãos, a candidata da Venezuela se formou com honras em Comunicação e trabalha domo diretora da área em um aplicativo internacional de inovações em aprendizagem. Atualmente, ela treina teatro e já fez participação em séries de TV.
Conforme o jornal Folha de S. Paulo, as participantes do concurso tiveram de se submeter a testes PCR a cada 48 horas, além de outras medidas de precaução. Em razão da variante Ômicron do coronavírus, há restrições na entrada de estrangeiros em território israelense, mas o ministro do Turismo do país, Yoel Razvozov, destacou que as candidatas receberam isenções.
Transmissão
O Miss Universo 2021 é transmitido oficialmente pelas emissoras Telemundo e Fox, sem atuação no Brasil. Pela internet, porém, os interessados podem acompanhar o evento pelo serviço de streaming DirecTVGo, segundo o portal UOL.
Israel sedia final do Miss Universo apesar dos pedidos de boicote
Mulheres de 80 países competem neste domingo (12) pela coroa do Miss Universo na cidade israelense de Eilat, ignorando os pedidos de boicote em apoio à causa palestina. A 70ª edição deve levar em conta a pandemia do coronavírus, e especialmente a emergência provocada pela variante ômicron.
Entre as participantes estão a Miss Marrocos, Kaouthar Benhalima, e a Miss Bahrein, Manar Nadeem Deyani, cujos países normalizaram as relações com Israel no ano passado.
O ministério sul-africano dos Esportes, Cultura e Artes tinha exortado sua candidata a não ir a Eilat, argumentando "as atrocidades cometidas por Israel contra os palestinos".
Apesar destes apelos, Lalela Mswane viajou para o balneário do Mar Vermelho, onde se celebra a cerimônia.
Organizações palestinas também pediram para as candidatas não participarem do evento.
"Exortamos a todas as participantes a se retirarem para evitar qualquer cumplicidade com o regime de apartheid de Israel e sua violação dos direitos humanos dos palestinos", pediu a Campanha palestina para o boicote acadêmico e cultural de Israel.
Em entrevista à AFP em Jerusalém em novembro, a Miss Universo que ostenta o título atualmente, Andreza Meza, do México, afirmou que o concurso deveria ser realizado fora da política.
"O Miss Universo não é um movimento nem político, nem religioso", declarou.
Indonésia e Malásia, países que não têm relações diplomáticas com Israel, não enviaram candidatas, mas alegaram dificuldades ligadas à pandemia.
Os Emirados Árabes Unidos - que também normalizaram as relações com Israel e aonde o primeiro-ministro, Naftali Bennett, chegou neste domingo para uma visita histórica, tampouco enviaram representante "por problemas de tempo" durante a seletiva da Miss nacional.
Críticas
As participantes chegaram a Israel no fim do mês passado e desde então visitaram locais, sofrendo críticas por sua falta de sensibilidade cultural.
Durante visita à cidade beduína de Rahat, usaram vestidos com bordados palestinos tradicionais, enquanto enrolaram folhas de videira, o que a miss Filipinas, Beatrice Luigi Gomez, descreveu em um tuíte como um "dia na vida de um beduíno".
Em Israel, os beduínos, povo tradicionalmente nômade, pertencem à comunidade dos palestinos cidadãos do Estado hebreu, que se queixa há tempos de discriminação por parte das autoridades israelenses nas áreas de habitação e educação.
"O colonialismo, o racismo, a apropriação cultural, o patriarcado, o embranquecimento, tudo em um só lugar", criticou em um tuíte Ines Abdel Razek, do grupo de defesa Instituto Palestino de Diplomacia Pública.
As participantes do concurso devem ter entre 18 e 28 anos.
Segundo cálculos dos organizadores, a cerimônia de coroação será assistida por 600 milhões de telespectadores em 172 países.