O óleo de melaleuca é um produto fototerápico também conhecido como óleo de tea tree (árvore-de-chá, em tradução livre). Principalmente usado pela medicina tradicional, ele possui um elevado número de propriedades e aplicações, o que lhe confere uma versatilidade.
É possível utilizar a substância no tratamento de diversos problemas, desde condições dermatológicas até mesmo ginecológicas. No mercado, ela é facilmente encontrada em lojas que vendem produtos naturais.
O que é
O óleo de melaleuca é um óleo essencial extraído através da destilação das folhas da espécie de arbusto Melaleuca alternifolia Cheel, de origem australiana, também conhecido como árvore-de-chá (tea tree, em inglês), conforme detalha a pesquisadora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenadora do Programa Farmácias Vivas da instituição, Mary Anne Medeiros Bandeira*.
A substância possui propriedades antimicrobianas, atuando tanto como um antifúngico quanto como um antibacteriano, devido aos principais compostos químicos presentes na fórmula — terpinen-4-ol (70%), além de terpineno e da baixa concentração de 1,8-cineol —, que lhe garantem importância comercial há mais de 60 anos.
Para que serve o óleo de melaleuca
Combater caspa
Como explica o dermatologista Guilherme Holanda*, devido à ação antifúngica, característica do óleo de melaleuca, ele melhora a dermatite seborreica, conhecida também como caspa, — doença inflamatória crônica que acomete as áreas seborreicas do corpo, como o couro cabeludo e está relacionado com alguns fungos como a Malassezia furfur.
Auxiliar no tratamento da candidíase
A candidíase, como explica a ginecologista Rayanne Pinheiro*, é uma infecção fúngica da vulva e da vagina causada, em geral, por um fungo chamado Cândida — microrganismo presente na flora íntima feminina, mas em pequena quantidade. O quadro patológico acontece quando há um desequilíbrio na quantidade dele, ou seja, uma proliferação.
A condição é comum, segundo a médica, cerca de 75% das mulheres devem desenvolvê-la pelo menos uma vez durante a vida, dentre elas 5% devem sofrer com a doença recorrentemente, podendo apresentá-la várias vezes ao ano.
A especialista listou os principais sintomas relacionados à candidíase. São eles:
- Coceira vaginal (prurido);
- Sensação de ardor, principalmente em contato com a urina e água;
- Microfissuras;
- Inchaço e vermelhidão (casos graves);
- Desconforto durante a relação sexual;
Existem ainda determinadas condições que aumentam o risco de sofrer com um quadro de candidíase, detalha a profissional. São fatores de riscos:
- Uso de antibióticos: a substância pode provocar o desequilíbrio da flora vaginal, causando a proliferação da cândida;
- Imunidade baixa;
- Uso de corticoides e moduladores da imunidade;
- Paciente com rinite, sinusite e asma crônicas.
Devido ao ativo antifúngico, o óleo de melaleuca é indicado para auxiliar no tratamento da candidíase, mas, como esclarece Rayanne Pinheiro, é necessário que o quadro seja avaliado por um especialista, que deverá indicar o melhor óleo essencial a ser usado na situação — já que ele não é único que possui essa propriedade —, conforme as características da paciente.
Combater acne
Por ser eficaz no extermínio de microrganismos, devido às propriedades antimicrobianas, o uso tópico do óleo de melaleuca auxilia no tratamento da acne e cravos. Como explica Guilherme Holanda, a condição, comum durante a adolescência, está associada a alteração da flora bacteriana da pele com a presença da bactéria Propionibacterium acnes.
Segundo Mary Anne Medeiros Bandeira, além de diminuir a irritação da pele e ter uma atividade comedolitica e anti-inflamatória apropriada, o composto apresenta menos efeitos colaterais que outros medicamentos para tratar o problema.
A substância age contra a atividade microbiana através da inibição da respiração do microrganismo e o aumento da permeabilidade das membranas, levando a uma perda do controle quimiosmótico, como detalha a pesquisadora.
Melhorar rosácea
A rosácea é uma afecção vascular inflamatória crônica da face que acomete principalmente adultos, entre os 30 e 50 anos, provocando vermelhidão e presença de pequenos vasos no rosto (teleangiectasias). A origem da condição é desconhecida, segundo o dermatologista, mas, muitas vezes, está associada a infestação pelo ácaro Demodex folliculorum.
Estudos demostraram o benefício do uso tópico do óleo de melaleuca em pacientes com rosácea, e, conforme o especialista, isso acontece devido ao efeito anti-inflamatório e inseticida característico do produto natural.
Prevenir e tratar pelo encravado
A pesquisadora da UFC ainda indica que o óleo pode ser usado para tratar e prevenir a pseudofoliculite, condição conhecida como pelo encravado. A substância pode ainda minimizar as lesões instaladas na região da barba e o desconforto causado pelo pós-barbear.
A utilização do produto pode melhorar a aparência e a irritabilidade da pele do indivíduo, tratando as lesões já instaladas e reduzindo o desconforto desencadeado por elas.
Acelerar a cicatrização
O óleo de melaleuca é conhecido historicamente pelas propriedades cicatrizantes, conforme a coordenadora do Programa Farmácias Vivas da UFC. Muito usado em queimaduras, a substância tem um efeito imunomodulador que controla o processo inflamatório e a reorganização celular.
Devido a essas características, o produto pode ser usado para auxiliar nos tratamentos estéticos faciais em associação a dermocosméticos, como na forma de um sérum de alta absorção e fácil aplicação, por exemplo, favorecendo o processo de cicatrização e eliminando reações indesejadas pós-tratamento.
Como usar
Por ser uma substância superconcentrada, o óleo de melaleuca exige cuidado ao ser utilizado, como adverte Rayanne Pinheiro. Ele não pode ser aplicado diretamente na região a ser tratada, antes disso deve ser diluído em uma base neutra, como o óleo de coco ou até mesmo outros produtos específicos.
Na pele
Como indica Guilherme Holanda, o óleo de melaleuca pode ser utilizado no tratamento da acne em forma de gel, na concentração de 5%, diariamente a noite. A mistura deve ser usada em quantidade suficiente para cobrir toda a face.
Já no caso da rosácea, o médico recomenda que a substância também seja usada em gel, mas em associação, por exemplo, com a permetrina tópica duas vezes ao dia.
Nas partes íntimas
Mucosas, como a região íntima, não possuem proteção de queratina como o restante da pele, explica Rayanne Pinheiro, então o cuidado ao usar o óleo nessas áreas deve ser redobrado. Ela desaconselha o uso direto dele, sem ter sido diluído em alguma base, tanto externamente (vulva) quanto internamente (vagina).
Apesar de preferir usar as fórmulas manipuladas por farmácias especializadas, devido à precisão e segurança desse tipo de formato, a ginecologista sugere dois modos de usar também seguros. São eles:
- Banho de assento: usar de cinco a até dez gotas de óleo para cada um litro de água — o ideal é iniciar com as cinco gotas e ir aumentando, gradativamente, conforme a tolerância da pele. A paciente deve preparar a mistura e se sentar sobre ela, de uma maneira onde a região íntima tenha contato com o líquido. O processo pode ser repetido diariamente pelo período de sete a dez dias, conforme a médica.
- Cápsula de óleo: nesta receita a proporção de óleo essencial de melaleuca deve ser uma gota para cada colher de sopa de óleo vegetal, como o de coco. A mistura deve ser colocada em pequenas formas — a ginecologista indica o uso de drágeas de medicamentos antigos, lavadas e secas —, que devem ser levadas ao refrigerador, onde permanecem até a substância líquida ficar sólida. Em seguida, basta introduzir a espécie de cápsula na vagina à noite, após deitar.
No cabelo
O dermatologista recomenda que o óleo de melaleuca pode ser utilizado no tratamento da dermatite seborreica, também conhecida como caspa, na forma de shampoo, com concentração de 5%, diariamente, massageando o couro cabeludo e deixando agir por alguns minutos.
*Mary Anne Medeiros Bandeira possui graduação em Farmácia pela Universidade Federal do Ceará - UFC, Mestrado e Doutorado em Química de Produtos Naturais pela UFC. Atualmente é Professora das Disciplinas de Farmacognosia e de Fitoterapia da Universidade Federal do Ceará. Membro do Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da UFC, do Programa de Pós-Graduação em Inovação e Desenvolvimento Tecnológico em Medicamentos e do Mestrado e Doutorado Profissional em Saúde da Família - Rede Nordeste em Saúde da Família, Nucleadora UFC em parceria com a Fiocruz. Diretora do Horto de Plantas Medicinais Professor Francisco José de Abreu Matos, Coordenadora do Programa Farmácias Vivas da UFC.
*Dr. Guilherme de Medeiros Holanda é médico, com residência médica em dermatologia pela Universidade de São Paulo (USP), especialização em dermatologia oncológica e cirúrgica na USP; e especialização em cirurgia micrográfica de Mohs na USP.
*Dra. Rayanne Pinheiro é médica Ginecologista e Sexóloga, com CRM 15060. É graduada pela Universidade Federal do Ceará, com Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia pela Maternidade Escola Assis Chateaubriand - UFC. Tem pós-graduação em Sexologia Clínica pelo CESEX e Escola Bahiana de Medicina. Atualmente atua principalmente com Contracepção Feminina e Terapia Sexual.