Justiça mantém prisão de familiares de Marcola e PMs acusados de formar organização criminosa no CE

O colegiado de juízes que atua na Vara de Delitos de Organizações Criminosas também decidiu desmembrar o processo contra 22 réus

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Operação Primma Migratio apreendeu cartelas do jogo do bicho no Ceará
Legenda: Operação Primma Migratio apreendeu cartelas do jogo do bicho no Ceará
Foto: Reprodução

A Justiça Estadual decidiu manter a prisão preventiva de 22 acusados de integrar uma organização criminosa ligada à facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) no Ceará, que realizaria lavagem de dinheiro através do jogo do bicho. Entre eles, estão familiares do número 1 da facção, Marcos Willians Herbas Camacho, o 'Marcola', e dois policiais militares.

O grupo foi alvo da Operação Primma Migratio, deflagrada pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado do Ceará (Ficco/CE), no dia 24 de abril deste ano. Depois de três meses e meio, a Vara de Delitos de Organizações Criminosas reanalisou as detenções e entendeu por manter as prisões preventivas, em decisão assinada no último dia 9 de agosto. 

O colegiado de juízes que atua na Vara considerou que "a gravidade em concreto do crime imputado indica que a liberdade dos acusados coloca em risco a ordem pública, pelo que necessita ser retirado do convívio social, não só pelos fatos ensejarem a possível participação em organização criminosa pelos acusados, mas também de possíveis entreveros que estes vem causando à sociedade em virtude da disputa por território com facções rivais, causando graves riscos a ordem pública".

Além de manter as prisões, a Justiça Estadual decidiu desmembrar o processo contra 22 réus. Dois novos processos criminais foram gerados, com 17 acusados que já apresentaram resposta à acusação do Ministério Público do Ceará (MPCE). A ação penal original segue com cinco acusados, que ainda não apresentaram defesa.

Confira como ficaram os processos:

- Réus do processo original:

  • Edglei Da Silva Lima
  • Francisca Alves da Silva (cunhada de 'Marcola')
  • Henrique Abraao Goncalves Da Silva
  • Menesclau de Araujo Souza Júnior
  • Ricardo Andrade Ferreira

- Réus do segundo processo:

  • Cristian Souza Sampaio
  • Dayanne Vitoria De Freitas Silva
  • Edijakson Fernandes de Araujo Júnior
  • Francisco Erivaldo Carvalho Moreira
  • José Cléber Almeida Sampaio
  • Levy Sousa Paixão
  • Pedro Coelho Da Silva Júnior
  • Roberio Nunes De Sousa (policial militar)

- Réus do terceiro processo:

  • Cintia Chaves Gonçalves
  • Francisco Julienio Lima Vasconcelos (policial militar)
  • Geoma Pereira De Almeida
  • Leonardo Alexsander Ribeiro Herbas Camacho (sobrinho de 'Marcola')
  • Marcelo Anderson Alves da Silva
  • Maria Aldenia de Lima
  • Matheus Victor Saboia Moreira
  • Paulo Monteiro Da Silva
  • Renato Ramos

As defesas dos réus que apresentaram resposta à acusação sustentaram que os clientes não integram a organização criminosa ou que a denúncia do Ministério Público não tem provas do crime. Alguns advogados alegaram que não tiveram acesso aos autos da investigação policial. Outros defensores prometeram à Justiça que os clientes irão colaborar com as investigações.

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Como funcionava o esquema criminoso

Segundo as investigações da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado, a organização criminosa voltada para realizar lavagem de dinheiro do PCC no Ceará era liderada por Francisca Alves da Silva, que é cearense. Ela foi presa com a deflagração da Operação Primma Migratio, no último dia 24 de abril, em um condomínio de luxo no Arujá, em São Paulo.

Para comandar o jogo do bicho e a lavagem de dinheiro da facção no Ceará, 'Pretinha' dividia as decisões do esquema criminoso com dois homens, que também viraram réus na Justiça: o cearense Geomá Pereira de Almeida ficou conhecido dentro do PCC como um especialista na estrutura dos jogos de azar, que voltou de São Paulo para o Ceará para liderar o jogo do bicho da facção; enquanto Menesclau de Araújo Souza Júnior era responsável por coordenar a estrutura de lavagem de dinheiro da quadrilha, com a compra de bens luxuosos e com o uso de uma loteria em Fortaleza, segundo as investigações.

Organização criminosa praticava jogo do bicho no Ceará
Legenda: Organização criminosa praticava jogo do bicho no Ceará
Foto: Divulgação/ PF

Geomá foi preso no bairro da Mooca, em São Paulo, na posse de cinco veículos de luxo: um Porsche Cayenne, um Toyota Rav4, dois Toyota Corolla e um Volkswagen Jetta. Quatro automóveis foram liberados pela Justiça para incorporar a frota da Ficco, até o julgamento do processo. Ao ser interrogado, o acusado admitiu que administra a loteria em Fortaleza, mas negou que a empresa é envolvida com jogo do bicho, como também negou pertencer à facção paulista.

Já Menesclau foi detido no bairro Joaquim Távora, em Fortaleza, na posse de três aparelhos celulares e um caderno com anotações. A esposa de Menesclau, Dayanne Vitória de Freitas Silva, que também foi presa, negou que o casal tenha envolvimento com facção criminosa e com o jogo do bicho.

Leonardo Alexander Ribeiro Herbas Camacho, o filho de 'Marcolinha', foi capturado em Itajaí, Santa Catarina. Ele seria o responsável por uma casa de apostas esportivas na internet, utilizada para a lavagem de dinheiro da facção. Leonardo foi transferido para o Presídio de Segurança Máxima do Ceará, no último dia 18 de junho.

As investigações da Ficco apontaram ainda que quatro homens, que viraram réus no processo, integravam um "núcleo de segurança e transporte" da organização criminosa: os policiais militares Robério Nunes de Sousa e Francisco Julienio Lima Vasconcelos, além de Marcelo Anderson Alves da Silva e Edijakson Fernandes de Araujo Junior. Os PMs organizavam a logística e a segurança da loteria que promovia o jogo do bicho e lavava o dinheiro da facção no Ceará.

Na residência do subtenente Julienio, no bairro Bom Jardim, em Fortaleza, foram apreendidas cinco armas de fogo, sendo um fuzil calibre 5.56, uma carabina Ponto 40 e três pistolas (duas calibre 9mm e uma, Ponto 380). As armas estavam devidamente registradas, mas os investigadores alertaram à Justiça Estadual que as armas estavam em um imóvel localizado em "área dominada por facções e não tinha em sua residência qualquer sistema de segurança, tal como cofres, para guarda segura destas armas".

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