Legislativo Judiciário Executivo

Bolsonaro entra com ação no STF para proibir corte de abrir inquérito sem aval do Ministério Público

O chefe do Executivo foi incluído no inquérito das fake news no último dia 4 de agosto, o que teria provocado a entrada da ação

Escrito por Matheus Teixeira e Ricardo Della Coletta, Folhapress ,
bolsanaro fake news
Legenda: O presidente passou a ser investigado após insistir nos ataques às urnas eletrônicas
Foto: Alan Santos/PR

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ingressou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) nessa quinta-feira (19) para pedir a anulação do artigo do regimento interno da corte que permite a instauração de inquérito de ofício, isto é, sem pedido do Ministério Público.

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A Advocacia-Geral da União (AGU), órgão que faz a defesa judicial do governo, apresentou o processo como uma reação de Bolsonaro contra as recentes decisões do Supremo e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O chefe do Executivo é investigado por acusar fraude no sistema eletrônico de votação sem mostrar provas. 

Além de questionar a segurança das eleições, Bolsonaro tem atacado Moraes e Luís Roberto Barroso, também do STF. No fim de semana, Bolsonaro chegou a anunciar no Twitter que iria ao Senado para protocolar pedidos de impeachment contra os dois magistrados. Até o momento, ele não cumpriu a promessa.

Ofício

O primeiro inquérito de ofício aberto pelo Supremo foi o das fake news, em 2019. A investigação foi instaurada por ordem do então presidente da corte, Dias Toffoli. A medida foi amplamente criticada, pois a Constituição estabelece que investigações dependem de uma solicitação nesse sentido do Ministério Público.

Também foi contestado o fato de o ministro Alexandre de Moraes ter sido designado relator do caso, sem que houvesse sorteio para distribuição do processo, como ocorre geralmente.

Apesar das críticas iniciais, no entanto, a disseminação de notícias fraudulentas por pessoas próximas de Bolsonaro e a elevação da tensão na relação entre os Poderes levou o Supremo a se unir em favor do inquérito. Mais de um ano depois que ele foi aberto por decisão individual de Toffoli, o plenário da corte referendou a instauração da investigação.

Argumento

No último dia 4 de agosto, após Bolsonaro insistir nos ataques às urnas eletrônicas, o TSE tomou uma decisão similar e também instaurou um inquérito de ofício, desta vez para apurar especificamente as acusações sem provas feitas pelo presidente contra a Justiça Eleitoral.

Na tarde desta quinta-feira (19), Bolsonaro teve uma reunião com o advogado-geral da União, Bruno Bianco, no Palácio do Planalto.

A AGU critica a adoção de medidas sem participação da Procuradoria. "Embora autoridades policiais tenham prerrogativa de requerer diligências para a colheita de elementos de convicção sobre a materialidade e autoria de um fato criminoso, somente o Ministério Público detém a prerrogativa de demandar a decretação das medidas eminentemente investigatórias que demandam autorização judicia", afirma.

Na argumentação, a ação assinada por Bolsonaro e por Bianco também acusa o STF de omissão.

"Afinal, há violação persistente e difusa de direitos fundamentais dos acusados, há uma omissão do Supremo Tribunal Federal em neutralizar os atos destoantes dos preceitos fundamentais e há um claro bloqueio institucional para o aperfeiçoamento da temática, já que alteração regimental é dependente da iniciativa da Suprema Corte, razão pela qual somente ela pode reparar as violações constitucionais em andamento", dizem.

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