O que o encontro do PDT na Região Metropolitana indica sobre a sucessão de Camilo Santana

Após medir forças em área de maior apelo político de Roberto Cláudio, PDT vai para a Sobral, terra de Izolda

Após dias de disputa interna explícita no PDT sobre quem irá encabeçar a chapa majoritária da sigla no Ceará, o partido reuniu as principais lideranças da Capital e Região Metropolitana de Fortaleza para tratar das eleições de outubro deste ano. No encontro, em Pacajus, na noite de sexta-feira (11), os quatro pré-candidatos da sigla demonstraram estar em harmonia e em busca de fortalecer o “projeto governista”. 

No entanto, primeiro apoiador declarado publicamente de um dos pré-candidatos, o prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), não participou da reunião. No último dia 3 de março, o pedetista defendeu o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) como aquele que “representa, encerra e traduz (...) o melhor nome do PDT” na disputa. A declaração gerou reação na sigla e até o governador Camilo Santana (PT) precisou minimizar o peso da fala de Sarto.

Nos bastidores do evento desta sexta-feira, prefeitos, vereadores e secretários de diversos municípios pedetistas também revelavam suas preferências e até brincavam sobre cargos que iriam ocupar em uma eventual gestão estadual. Além de Roberto Cláudio, o partido tem como pré-candidatos o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, a vice-governadora Izolda Cela e o deputado federal Mauro Filho.

“Não vou pedir que ninguém aqui diga a preferência para não submeter ao constrangimento nenhum dos pré-candidatos, mas é importante dizer que o PDT está unido em qualquer situação. Dos quatro nomes aqui, o que for escolhido poderá contar com o empenho dos outros três”, declarou o senador Cid Gomes (PDT), que comandou a reunião ao lado do presidente estadual do PDT, André Figueiredo. O deputado federal Eduardo Bismarck e o deputado estadual Sérgio Aguiar também participaram.

De Fortaleza, partiu a maior comitiva de parlamentares. Mais de dez vereadores, incluindo o presidente da Câmara, Antônio Henrique (PDT), foram à Pacajus participar do evento, todos sinalizando apoio ao ex-prefeito de Fortaleza. “Já tem vereador suficiente para fazer quórum”, brincou Cid.

Também estavam presentes no evento os prefeitos de Chorozinho, Dr. Júnior; de Pacajus, Bruno Figueiredo; de Horizonte, Nezinho Farias; e de Guaiúba, Izabella Fernandes – todos pedetistas. Além de Pacajus, o grupo cumpriu agenda, neste sábado, em Paracuru. Há ainda reuniões regionais da sigla previstas para os próximos dias 26 e 27 deste mês em Sobral e Itarema. 

Os desafios na Região Metropolitana

Porém, a Região Metropolitana é uma área em que, historicamente, o grupo governista tem dificuldade de formar e manter alianças. Nas eleições de 2020, por exemplo, a oposição conseguiu eleger representantes em municípios estratégicos. 

Em Maracanaú, os eleitores escolheram Roberto Pessoa (PSDB), já em Caucaia, o eleito foi Vitor Valim (Pros). Em São Gonçalo do Amarante, a oposição saiu vitoriosa com Professor Marcelão (Pros), assim como em Paraipaba, com Ariana Aquino (Republicanos). 

Apesar de, dois anos depois do pleito municipal, parte desses prefeitos já terem se aproximado da base governista, o que preocupa o grupo pedetista é justamente a ameaça de desembarque de um aliado, o prefeito do Eusébio, Acilon Gonçalves (PL). 

O mandatário comanda o diretório estadual do PL, partido que, nacionalmente, passou a abrigar o presidente Jair Bolsonaro (PL) desde novembro do ano passado. No Ceará, Acilon sofre pressão de parlamentares aliados ao presidente para que deixe o comando da sigla e saia do partido. Para evitar a derrota interna, o prefeito aceitou fazer campanha pró-Bolsonaro.

Cid Gomes lamentou a situação enfrentada pelo aliado no PL. “É uma situação que eu não queria estar. O Acilon é um querido amigo nosso e não é de hoje, ele compôs a base de apoio quando o Ciro foi prefeito em 1989, então é uma relação de muito tempo. Agora, o presidente Bolsonaro se filiou ao partido dele, isso criou uma situação constrangedora”, disse o senador.

“Tenho certeza que a situação dele é absolutamente desconfortável. O Acilon não tem nada de bolsonarista, pelo contrário, ele acredita na ciência, é um médico, acredita na boa gestão, mas está nessa sinuca de bico”, concluiu Cid. Além de chefiar a Prefeitura do Eusébio, Acilon exerce influência sobre aliados em quase dez prefeituras na região próxima à Capital, o que torna esse desembarque potencialmente mais danoso para o grupo governista.

Harmonia pedetista

Já em Fortaleza, desde que Sarto anunciou apoio a Roberto Cláudio, o nome do ex-prefeito ganhou força entre os mandatários, indo de encontro ao que defende publicamente lideranças como Cid Gomes, André Figueiredo e os próprios pré-candidatos, de que não é o “momento de definir nomes”. 

Um dos efeitos dessa conjuntura na Capital é a ênfase com que lideranças pedetistas têm ressaltado que o grupo segue em harmonia e não sofreu abalos com a campanha mais explícita em torno do ex-prefeito de Fortaleza.

“Fico honrado, recebo com gratidão e carinho, claro que anima e estimula (esse apoio), mas é importante registrar que essa decisão, muito certamente, só se dará mais à frente, à luz de mais conhecimento do cenário nacional e estadual”
Roberto Cláudio (PDT)
Ex-prefeito de Fortaleza

“O mais importante é entender que o nosso adversário é esse bolsonarismo mais radical, que tem uma expressão e uma candidatura que irá representá-lo no Ceará”, disse o pedetista. Em Pacajus, todos os pré-candidatos ressaltam qualidades dos correligionários na disputa, o que foi reforçado pelas lideranças nacionais. 

Fortaleza concentra a maior base eleitoral de Roberto Cláudio, que foi eleito duas vezes prefeito da Capital. Na disputa pela sucessão do pedetista, a oposição avançou e, com Capitão Wagner (Pros), chegou a 48,31% dos votos na disputa contra Sarto em 2020.

Diante dessa conjuntura, o encontro regional dos pedetistas também serviu para que as lideranças ressaltassem a importância de arregimentar aliados. Roberto Cláudio, que enfrenta resistência do PT para encabeçar a chapa governista, usou seu tempo de discurso para atacar o presidente Jair Bolsonaro.

“A democracia do Brasil aplicou um remédio amargo demais, mas isso pode nos ensinar que o caminho não pode ser apenas o da negação, de votar em alguém para negar o outro. É preciso que a gente busque e reflita, o caminho da solução é complexo e exige coragem. Esse que está aí vende coragem para brigar com jornalista, para ofender as mulheres e, de longe, ameaçar os poderes, mas não teve coragem para enfrentar os barões que dominam o Brasil e produzem pobreza e desigualdade”, disse. 

Papel das alianças

O aceno de Roberto Cláudio ao PT também traz como plano de fundo a aproximação protagonizada por Izolda Cela com a ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins (PT). A ex-mandatária lidera o principal foco de resistência à manutenção da aliança PT-PDT no Ceará. 

Mesmo com as sinalizações do partido em prol da parceria entre as duas siglas na disputa majoritária deste ano, Luizianne se mantém irredutível e usa como argumento a oposição feita pelo ex-ministro Ciro Gomes (PDT) ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ambos pré-candidatos à Presidência.

Em um movimento que também pegou de surpresa petistas e pedetistas, as duas se reuniram por cerca de duas horas, no último dia 21 de fevereiro, para tratar de assuntos relacionados ao Estado.

Dentre os nomes cotados, o de Izolda também é um dos que enfrentam menor resistência de aliados do PDT. Ao assumir o Governo e caso seja escolhida pela sigla para liderar a chapa eleitoral, a vice-governadora enfrentará, na verdade, uma disputa pela reeleição neste ano. Essa possibilidade agrada alguns partidos governistas, que vêem neste cenário a possibilidade de fazer a “fila da sucessão andar” mais rapidamente.

Chegar ao comando do Executivo do Estado no próximo dia 2 de abril, conforme informou o senador Cid Gomes, também é visto como uma vantagem para aliados de Izolda. Ela irá assumir a vaga após a desincompatibilização do governador para disputar vaga no Senado Federal.

Desde o início do ano, a vice-governadora passou a acompanhar Camilo em todos os eventos públicos e a receber elogios do mandatário por suas “habilidades políticas”. Também ficará para ela a responsabilidade de inaugurar diversas obras e comandar os últimos meses de uma gestão que é bem avaliada pela população, tudo isso em meio às articulações para a montagem da chapa. 

Por outro lado, a vice-governadora afirma que não se vê com vantagem na corrida eleitoral.

"Nós integramos um projeto político que se desenvolve no Ceará e que vem mostrando bons resultados. Essas definições ficam dentro dessa composição de alianças e a escolha vai ser pelo que houver de convergência"
Izolda Cela (PDT)
Vice-governadora

Fator PT

Quem também fez questão de destacar o papel de aliados na disputa pela sucessão de Camilo Santana – com destaque para o PT –, foi o atual deputado federal Mauro Filho. Tanto ele quanto Roberto Cláudio enfrentam resistência da base petista mais alinhada a Luizianne. O ex-prefeito é adversário municipal de sua antecessora na Prefeitura e o deputado é um nome próximo a Ciro Gomes, adversário de Lula.

No entanto, Mauro Filho garante que essa resistência ao seu nome não existe. O pedetista afirmou que, caso seja escolhido, assegura a manutenção da aliança com o PT, sigla com quem tem mantido conversas constantes.

“De todos os pré-candidatos, eu sou quem mais circulou. Já visitei 76 municípios (...) Agora, tudo isso é feito dentro de uma harmonia, todo mundo com o mesmo discurso. Tenho conversado muito com o PT, muito, com diversos segmentos do partido, então é apoio popular e construção de alianças, é o que tenho procurado fazer para dar sustentação a esse projeto”.
Mauro Filho (PDT)
Deputado federal

“A manutenção com o PT está totalmente garantida, graças, não só ao nosso trabalho, mas também ao trabalho da grande maioria das pessoas que compõem o PT e está trabalhando para essa unidade”, finalizou Mauro.

Mandatos legislativos

Ao mesmo tempo em que buscam captar o nome que pode atrair mais aliados e eleitores, as lideranças do PDT no Ceará tentam ampliar a base nas casas legislativas. Atualmente, a sigla conta com seis deputados federais e 13 estaduais. 

Além do peso que uma bancada federal ampla tem nas votações e na capilaridade que isso garante ao partido nas bases regionais, a quantidade de parlamentares eleitos para a Câmara é fundamental na hora de receber recursos para financiar a campanha e definir o tempo de propaganda eleitoral. 

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Parlamentares é a meta do PDT para as eleições deste ano

A expectativa do presidente do PDT no Ceará, André Figueiredo, é atingir a marca de 7 deputados federais e 16 estaduais. “Temos a necessidade e a responsabilidade de elegermos uma bancada na Câmara e na Assembleia que seja realmente representativa, de resistência e luta. Para isso, precisamos de cada um de vocês, dos nossos 63 prefeitos, dos 34 vices e dos 592 vereadores” ressaltou.

Mesmo cotado para disputar o mandato no Executivo, dentre todos os pré-candidatos do PDT, Evandro Leitão é o único que admite ter como foco renovar o mandato no Legislativo. Atual presidente da Assembleia do Ceará, ele tenta o terceiro mandato no parlamento estadual. 

“Estou trabalhando para renovar meu mandato, é meu foco, mas, claro, me coloco à disposição do partido. Acredito em projeto e faço parte de um grupo, então, estarei com o grupo para o que for definido acredito e confio” 
Evandro Leitão (PDT)
Presidente da Assembleia Legislativa do Ceará

Evandro tem sido presença constante em eventos ao lado do governador Camilo Santana. No fim do ano passado, o parlamentar inclusive assumiu o comando do Executivo estadual durante viagem de Camilo e Izolda à Europa. 

À época, o pedetista adotou um ritmo de campanha ao curto período em que estava chefiando o Palácio da Abolição. Conforme levantamento do Diário do Nordeste, Evandro percorreu 23 municípios em poucos dias, passando por 10 das 14 regiões do Ceará.

“Não sei nem quem me colocou nisso, eu não me coloquei, não sei quem me colocou”, brincou o deputado durante o discurso em Pacajus. “Mas as coisas não acontecem por acaso, com Deus no coração e sabendo que é consequência do trabalho, óbvio que temos que ter talento, mas temos que respeitar o momento de Deus”, acrescentou.

Encontros regionais

Em meio a essa disputa mais explícita entre aliados de Roberto Cláudio, os movimentos de Izolda Cela e as articulações de Mauro Filho e Evandro Leitão, o PDT parte para aqueles que devem ser os dois últimos encontros regionais. 

Um dos destinos da sigla será Sobral, berço político do grupo liderado por Cid e Ciro Gomes. O município é a base política de Izolda Cela.

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Encontros regionais do PDT estão previstos para o fim do mês

Ao todo, o partido fará 12 encontros regionais. As reuniões, que ocorrem desde setembro do ano passado, foram adotadas como forma de apresentar e aproximar os possíveis candidatos ao Governo do Ceará às bases pedetistas, além de medir a aceitação dos nomes no Estado.

Até agora, a comitiva pedetista passou por dez cidades. Os encontros começaram em Brejo Santo e Barbalha, depois incluíram São Benedito, Russas e Redenção. Neste ano, o grupo já esteve em Jucás, Quixeramobim e, mais recentemente, em Pacajus e Paracuru.