Ciro cumpre primeira agenda como candidato em Fortaleza e fala em traição: 'é uma coisa amarga'

Pedetista participa de atos ao lado do candidato ao Governo Roberto Cláudio

O candidato à presidência Ciro Gomes (PDT) cumpre, neste domingo (20), sua primeira agenda oficial como candidato a presidente no Ceará, seu berço político. Ao lado do candidato ao Governo pelo PDT, Roberto Cláudio, Ciro visita o Mercado São Sebastião e lançará comitê de campanha do partido em Fortaleza.

No São Sebastião, Ciro destacou uma de suas propostas para o combate à fome, o programa de renda mínima Eduardo Suplicy: "Mil reais, começa o valor, em cada domicílio onde tiver uma pessoa ganhando igual ou menos que 417 reais por mês".

O pedetista também tratou da relação com o Ceará. "Esse Estado é o lugar que me deu tudo e a quem devotei minha vida. Há um tempo em que a gente tem que passar a bola pra juventude mais preparada, procurei fazer isso a vida inteira", pontuou.

Ciro também falou sobre os desgastes recentes com ex-aliados e voltou a falar em "traição" ao ser questionado entrevista no programa Roda Viva, em que mencionou "entregar o Ceará para Capitão Wagner (...) para dar valor ao que se tem".

"Hoje, meus sentimentos pessoais no Ceará são muito sofridos, o que eu fiz por determinadas pessoas, dei tudo que eu pude dar, criei a condição pra essas pessoas brilharem... E hoje sentir o espinho da traição é uma coisa amarga, mas não estou aqui para mimimi, o que esta em jogo não é meu coração"
Ciro Gomes
Candidato a presidente pelo PDT

Campanha

O ex-governador do Estado tem uma campanha marcada por desafios, como um isolamento político, concorrendo em chapa pura, e tem eventos no Ceará após uma série de tensões, como: a escolha do candidato do PDT ao governo - que garantiu seu palanque local -, a quebra da aliança PDT e PT, e as próprias declarações sobre o candidato ao Senado, Camilo Santana (PT), tratado por ele como “desleal”. 

Ciro disputa pela quarta vez a Presidência da República (1998, 2002, 2018 e 2022) e, nesta eleição, a candidatura foi lançada de forma isolada pelo PDT, sem alianças nacionais (assim como em 2018) e poucos acordos estaduais. No Ceará, o importante palanque foi garantido com a candidatura de Roberto Cláudio ao Governo, após o PDT o escolher em detrimento da atual governadora Izolda Cela (sem partido). 

No atual cenário de busca pelos votos, Ciro, além dos desafios do processo em si, se depara com uma realidade adversa no próprio Estado. Ao que indicam as pesquisas eleitorais, assim como ocorre no âmbito nacional, ele tem ficado em terceiro lugar nas intenções de voto, atrás de Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

Em eleições anteriores, vale ressaltar, Ciro sempre teve bom desempenho no Estado e foi o mais votado entre os presidenciáveis no Ceará em todos os pleitos que disputou para o cargo. Em 2018, por exemplo, teve 40,95% dos votos no primeiro turno, enquanto Haddad (PT) teve 33,12% e Bolsonaro 21,74%.

Nesta eleição, em chapa pura, Ciro escolheu a vice-prefeita de Salvador, Ana Paula Matos (PDT), como vice na disputa ao Planalto. 

Racha PDT e PT

No cenário político, Ciro fará campanha no Ceará em meio a quebra da aliança estadual, que durou 16 anos, entre PDT e PT. A definição da candidatura ao Governo do Estado, fato, que também envolvia a garantia ou não de um palanque local para Ciro, impulsionou a crise que culminou no rompimento e no lançamento de candidaturas distintas dos dois partidos. 

Na pré-campanha, em meio ao processo de escolha de Roberto Cláudio como candidato ao Governo e à ruptura PDT e PT,  Ciro declarou não saber se Camilo Santana era ou não aliado e afirmou que Lula teria feito um suposto convite para que o ex-governador assumisse um ministério. "Era nosso aliado (Camilo), ou é nosso aliado. Ainda não sei direito como é que vai desdobrar isso lá", destacou. 

Na época, Camilo, em resposta, publicou uma foto ao lado do senador Cid Gomes (PDT) e de Izolda Cela reforçando os “laços de amizade". "Amigos que a vida me deu e que ninguém separa. Respeito, carinho e união sempre", escreveu, à época, nas redes sociais. As demonstrações de gratidão e estima de Camilo para Cid foram reiteradas outras vezes na pré-campanha e também nos primeiros dias de campanha eleitoral. 

Nesse processo, Ciro também fez ataques a Lula, a quem responsabilizou pelo racha histórico no berço político dos Ferreira Gomes. Ciro alega que o convite de Lula a Camilo teria produzido a crise. 

"É uma disruptura desagradável que foi produzida por falta de escrúpulos do Lula, convidando Camilo para ser ministro do governo que ele já ganhou", disse Ciro durante evento em Salvador, na Bahia. "Sei o que eu fiz pelo Camilo. (...) Francamente, não acho que eu merecesse do Camilo essa deslealdade de nem sequer me comunicar, sabe, coragem de dizer assim: 'mudei de ideia, agora eu vou com Lula", ressaltou Ciro, acrescentando que teria respondido: "seja feliz", acrescentou na mesma ocasião.

Formação de palanques

Para o professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Emanuel Freitas, o desafio de Ciro é lidar com o "progressivo esvaziamento da sua candidatura".

O cientista político ressalta que, entre os estados, Roberto Cláudio oferece o principal palanque de Ciro. “Além do rompimento, que já tinha provocado um esvaziamento, no Ceará, tem a querela do PSDB, que não compõe a coligação, a retirada do Amarílio Macêdo, a retirada do segundo nome que iria substituir Amarílio e, agora, uma outra candidata é lançada. O Ciro vai pegar esse cenário adverso para ele”, acrescenta. 

O professor enfatiza que isso mostra certa repetição do que tem sido a campanha nacional. “Sem parcerias importantes. No Ceará, talvez o Roberto Cláudio deva sua votação muito mais a dois fatores: a si mesmo e ao Domingos Filho”. 

No processo de definição das candidaturas, o PDT teve entraves para consolidar acertos mais expressivos e garantir um rol de palanques mais robustos para Ciro.

A chapa pura do pedetista tem 11 palanques regionais, e desses, 10 são candidatos do próprio partido. Mas Ceará, Maranhão e Rio de Janeiro é que concentram as candidaturas do PDT, de fato, mais competitivas. Em Minas Gerais, Ciro é apoiado por Marcos Pestana (PSDB).

Para Emanuel, Ciro “amarga o que foram seus últimos quatro anos, sem nenhuma parceria política, e o resultado disso é o rompimento aqui no Estado”. 

A ausência de nomes de peso agregando nas campanhas, lembra Emanuel, pode trazer desafios inclusive aos candidatos ao Legislativo, que podem sentir os impactos no decorrer do processo e isso afetar os apoios. 

Presença dos irmãos

Na passagem pelo Ceará, Ciro tem ainda outro ponto de destaque que é a presença dos irmãos Cid e Ivo Gomes. Ivo, prefeito de Sobral e irmão mais novo, já anunciou apoio à candidatura de Camilo ao Senado e disse que não fará campanha para o PDT na sua cidade. A convenção que homologou o nome de Roberto Cláudio já não contou com a presença nem de Ivo nem de Cid.

Durante as definições das candidaturas, Ivo, em entrevista ao Diário do Nordeste, atribuiu ao irmão Ciro e a Roberto Cláudio a responsabilidade pelo rompimento da aliança governista no Ceará. Ele disse que Cid Gomes foi “atropelado” no processo de escolha da candidatura. Ivo defendeu o nome de Izolda ao governo e disse que Cid pensava da mesma forma. 

No final de julho, na convenção do PDT em Fortaleza, Ciro tratou a declaração de Ivo como "fuxicalhada" e, à época, enfatizou que não iria falar de "problema de família" pelos jornais.  

Cid Gomes, até o momento, não deu declarações públicas sobre o assunto. Mas também não contestou as manifestações de Ivo. Desde o impasse entre as pré-candidaturas de Roberto Cláudio e Izolda, Cid está afastado da discussão eleitoral no Estado.

Nas redes sociais, Cid tem feito campanha para Ciro e para a irmã, Lia Gomes, candidata a deputada estadual, mas não tem se manifestado sobre a sucessão local. 

Confira a agenda de Ciro Gomes em Fortaleza:

8h30h - Café da manhã no Mercado São Sebastião. Rua Gen. Clarindo de Queiroz, 1.745. Centro

10h - Lançamento da campanha de Antônio Henrique a deputado estadual pelo PDT-CE. Colégio Castro Alves, Rua Tulipa Negra, 2.319, Parque Santa Rosa (esquina com Av. Cônego de Castro)

17h - Inauguração do Comitê Central de Roberto Cláudio e Ciro Gomes em Fortaleza. Av. Sebastião de Abreu, 180, Cocó