Ao mesmo tempo em que lidera as articulações da montagem da chapa petista para o Governo do Ceará, o ex-governador Camilo Santana (PT) vem promovendo uma ofensiva para manter o apoio de prefeitos aliados em torno de seu grupo e atrair mandatários que apoiam – ou integram partidos que apoiam – a candidatura do ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), de quem o petista era aliado há poucas semanas.
Em uma eleição que tem tudo para ser acirrada, o ex-chefe do Executivo Estadual busca fortalecer as bases eleitorais no Interior, o que pode ser decisivo no pleito. Ainda na semana passada, nas vésperas de Camilo anunciar a escolha de Elmano de Freitas como candidato a governador pelo PT, sete prefeitos e ex-prefeitos estiveram no escritório do ex-mandatário, na Aldeota.
“Recebi os prefeitos Átila Câmara (Solidariedade), de Maranguape; Saul Maciel (PDT), de São Benedito; Gadyel Gonçalves, ex-prefeito de São Benedito; Felipe Pinheiro (PT), de Itapipoca; Júnior Castro (PDT), de Chorozinho, e Cícero de Deus (PDT), prefeito de Araripe”, disse o petista.
No dia seguinte, Camilo recebeu ainda o prefeito de Caucaia, Vitor Valim (Pros), eleito pela oposição, mas que agora é aliado do ex-governador e da atual mandatária, Izolda Cela (PDT).
Aliados pedetistas
Além de Valim, a lista de mandatários que esteve com Camilo incluiu integrantes do PT, do Solidariedade e até do PDT. À época da reunião, os anúncios de rompimento entre PT e PDT já haviam sido feitos, assim como a decisão do diretório pedetista de lançar a candidatura de Roberto Cláudio havia sido firmada.
De acordo com Átila Câmara, prefeito de Maranguape, a conversa incluiu “o assunto eleitoral”.
“Ele explicou como estava se dando o processo, que o processo de união entre PT e PDT não havia sido possível, mas que ele havia tentado muito. Ele disse que a maioria dos partidos que participavam e participam dessa aliança que governa o Estado estava disposto a lançar um candidato”
“Eu já tinha me comprometido com ele, como candidato a senador, e me comprometi que vou acompanhar o grupo dele. Também conversei antes com o meu grupo, comuniquei essa conversa e tive sinal verde, então decidi ficar com Camilo”, concluiu o prefeito filiado ao Solidariedade.
Risco de debandada
Entre os pedetistas, há um sinal de alerta que está ligado há algumas semanas, já que parte dos prefeitos integrantes da sigla mantêm-se mais próximos a Camilo. O risco é de que tais mandatários não embarquem efetivamente na campanha em prol de Roberto Cláudio.
O que aumenta ainda mais a preocupação nesse sentido é que o racha interno na sigla durante a disputa entre o ex-prefeito e a atual governadora Izolda Cela (PDT) também chegou aos municípios.
Conforme o Diário do Nordeste mostrou, 60 prefeitos saíram em defesa da candidatura à reeleição da governadora, que acabou preterida pelo diretório local do PDT. Desses prefeitos que levantaram a bandeira pró-Izolda, 17 são do PDT. A manifestação desses políticos, inclusive, causou um mal-estar com a direção estadual do PDT.
“Achamos uma intromissão indevida. Não podemos concordar de maneira nenhuma que nossos prefeitos sejam coagidos a externar posição por A, B, C ou D. Todos os prefeitos que me ligaram para saber qual seria o posicionamento do partido, eu disse: ‘Olha, sugiro que você não declare acordo a nenhum dos quatro’”
Até esta segunda-feira (25), um dia após a convenção homologar a candidatura de Roberto Cláudio, nenhum desses prefeitos fez qualquer menção de apoio a Roberto Cláudio nas redes sociais. Em alguns casos, a última postagem ainda é o texto em apoio à governadora.
Ofensiva ao PSB
Essa divisão também se reflete no PSB. O partido fechou apoio à candidatura de Roberto Cláudio, mas, na noite do último domingo (24), cinco dos oito prefeitos da sigla no Ceará manifestaram interesse em rever a posição do partido, abrindo caminho para apoiar a chapa liderada pelo PT.
“Diante do novo cenário que se apresenta, inclusive com importante protagonismo do PSB na aliança nacional, que eleva fortemente o nome e as propostas do nosso partido, solicitamos a abertura da discussão para avaliarmos a nossa política de alianças no Ceará", escreveram em manifesto os prefeitos Zé Maria Lucena, de Limoeiro do Norte; Ana Flávia, de Acaraú; Adail Melo, de Groaíras; Izabella Fernandes, de Guaiúba; e Marcos Silva, de Ibiapina.
O texto foi minimizado pelo presidente estadual da sigla, o deputado Denis Bezerra. Nas redes sociais, ele disse que a prefeita Izabella Fernandes não integra mais os quadros do PSB. Já os prefeitos Zé Lucena e Adail Melo não teriam autorizado a utilização do seus nomes na nota.
"Dos quatro que lideram este movimento, todos convocados para a reunião do diretório estadual, apenas dois participaram da reunião. Ambos votaram favoravelmente à decisão do PSB Ceará de apoiar a autonomia do PDT independentemente do candidato escolhido ao Governo do Estado", disse Denis.