Há um Nordeste que tem virado cada vez mais cool nos últimos anos lá pelas terras baixas sudestinas. Já faz uns anos que eu e outras amigas cearenses e baianas observamos o fenômeno na nossa bolha um tanto quanto santa cecilier - como ficaram conhecidos os moradores descolados dos bairros paulistanos Santa Cecília e Vila Buarque. Mas o Nordeste que entrou na moda entre a classe média descolada que adora usar expressões em inglês ainda parece bem distante do pé no chão da nossa região.
“O Nordeste tá na moda desde que você não seja nordestino morando em São Paulo. Na moda mesmo é ter ancestrais nordestinos”, resumiu uma amiga que vive há uma década na megalópole. Ok. Não vamos generalizar. Como bem lembrou outra amiga baiana, tem muita gente que tem se aberto para pisar o Nordeste e conhecer de fato as complexidades e as diferenças dos nove estados da região.
Estamos falando especificamente de uma peculiar parcela sudestina. Do progressista que romantiza que o Nordeste carrega o país nas costas nas eleições; que depois de rodar os vários países europeus, agora resolveu criticar o turista internacional e se conectar com o tal do "Brasil profundo” e conhecer para além das capitais nordestinas. Lembro de uma conhecida que postou no Instagram uma longa legenda sobre como estava sendo especial se conectar com o sertão do Ceará. Na foto, um jumento em pleno litoral de Jericoacoara.
Nosso ponto é com a turma boa que senta na mesa de bar do Largo de Santa Cecília ou da Vila Madalena para falar de como o Nordeste é rico, cheio de potencial e… O que estou fazendo aqui que ainda não fui embora para o Nordeste? “Mas pergunta se esse povo que acha o máximo ser Nordeste me contrata para fazer um trabalho? Me acham grossa, sem traquejo. No fim das contas, eles se fortalecem entre eles”, diz uma cearense. “Me contratar não querem, mas vivem falando que querem conhecer minha cidade no sertão”, emenda.
A moda cool paulistana do Nordeste já foi parar até nas páginas das revistas. Não faz muito tempo que saiu uma matéria falando sobre a incrível tendência na maior metrópole brasileira de armar rede dentro de casa. Claro que ninguém comentou que este é um costume das famílias numerosas que passavam “precisão” e tinham que acomodar muitos filhos em poucos cômodos. Melhor nem falarmos daquela capa que apontava São Paulo como a “capital do Nordeste” e provocou uma reação bem-humorada de várias prefeituras de capitais nordestinas no Twitter.
Mas voltemos à turma do Nordeste cool. Estamos falando dos eternos apaixonados pela mística da energia da Bahia. Sim, porque não importa se o turista está em Salvador, Moreré, Caraívas ou na Chapada Diamantina. Tudo é Bahia, quando não é um grande Nordeste. “É como se a Bahia fosse um grande carregador USB universal”, gargalha minha amiga soteropolitana. O que não falta é turista tirando férias para se recarregar com a mística esotérica baiana.
Pois vejam só minha surpresa quando soube que o nosso Cariri também vem atraindo cada vez mais a turma do eixo Rio-São Paulo. Um conhecido que vive na região conta que tem percebido a presença de muitos turistas interessados em conhecer o Geopark Araripe e as culturas tradicionais, como o reisado. Que venha mais gente valorizar essa riqueza! São muito bem-vindos. Aqui ninguém quer dividir o Brasil. O nordestino faz parte. Só estamos exaustos de sermos fetichizados mesmo.