Até a véspera do 1º turno das eleições, com 46 dias de campanha oficial nas ruas - desde 16 de agosto - pelo menos 113 (61,4%) dos 184 municípios cearenses foram visitado por pelo menos um dos três principais candidatos ao Governo do Ceará: Elmano de Freitas (PT), Capitão Wagner (União Brasil) e Roberto Cláudio (PDT).
Por outro lado, 71 cidades não contaram com a presença de nenhum deles no decorrer da campanha oficial, embora possam ter sediado ações com apoiadores e representantes dos postulantes ao Palácio da Abolição, incluindo os candidatos a vice.
Carreatas, caminhadas nos centros, nas feiras, em pontos turísticos, comércios e residências, eventos com setores específicos, encontro com apoiadores, entrevistas e gravações. Nas 113 cidades visitadas, em algum momento, as típicas atividades de campanha foram realizadas em comitivas lideradas pelos próprios candidatos.
Neste sábado (1º), último dia de campanha, Elmano fará carreata em Fortaleza e no Cariri, nas cidades do Crato, Juazeiro e Barbalha. Já Capitão Wagner fará carreatas em Baturité, São Gonçalo do Amarante e Fortaleza. Roberto Cláudio vai percorrer ruas também em Fortaleza, Tauá e Juazeiro do Norte.
Para traçar os percursos feitos por cada um dos três, o Diário do Nordeste cruzou informações das agendas de campanha divulgadas diariamente por cada equipe (desde o dia 16 de agosto) com os registros (fotos, vídeos e postagens) feitos nas redes sociais de cada candidato.
A partir disso, foi possível mapear quais e quantas cidades foram percorridas por cada um. As informações foram coletadas até o dia 30 de setembro. Cada candidato foi informado, via assessoria, sobre o levantamento e, para garantir maior assertividade no mapa, as equipe puderam reiterar ou contestar as informações cruzadas.
Trajetos realizados
Conforme levantamento do Diário do Nordeste, dos 184 municípios cearenses, 31 foram visitados pelos três candidatos. Essa lista, conforme esperado, inclui viagens aos maiores colégios eleitorais que, além da Capital, inclui, dentre outras, as cidades de Caucaia, Juazeiro do Norte, Maracanaú, Sobral, Itapipoca, Crato, Iguatu e Aquiraz.
Das 31 cidades que tiveram a presença dos três, 23 têm mais de 40 mil eleitores, o que evidencia o investimento comum das três candidaturas na garantia da presença dos postulantes nos territórios nos quais o eleitorado é mais numeroso.
Nesse tempo, os deslocamentos para algumas cidades como Juazeiro do Norte, Sobral, Icó e Caucaia ocorreram mais de uma vez.
Outro ponto evidente no levantamento é a presença nas cidades da Região Metropolitana de Fortaleza. Dos 19 municípios, somente 4 não foram visitados pelos postulantes. E do total, 8 receberam os três.
Na região, somente Eusébio (que tem mais de 40 mil eleitores), Itaitinga, Pindoretama e São Luís do Curu não foram percorridos pelos postulantes.
Em termos absolutos, a Região do Cariri tem o maior número de cidades não visitadas, embora o trio Crato, Juazeiro e Barbalha tenha sido percorrido pelos três candidatos. Outras 17 cidades da região não foram priorizadas nas viagens de campanha.
No Sertão dos Inhamuns, somente Tauá recebeu a visita dos candidatos. Já as outras quatros cidades da região não ocuparam a agenda presencial de nenhum deles. Na outra ponta, o Litoral Leste, com 6 municípios, dentre eles, Beberibe, Fortim e Icapuí, teve todas as cidades visitadas. Aracati, inclusive, foi percorrida pelos três candidatos.
Confira as cidades visitadas por cada candidato
Elmano de Freitas (PT)
O candidato do PT, desde o início oficial da campanha, esteve em 69 cidades. Nessa lista, ao menos, 20 cidades visitadas pelo petista têm mais de 40 mil eleitores cada.
Se analisada a presença por região, o mapa percorrido por Elmano, em termos proporcionais têm mais lacunas no Sertão dos Crateús (das 13 cidades, 11 não foram visitadas) Maciço de Baturité (das 13 cidades, 11 não foram visitadas) - Baturité, cidade natal de Elmano foi visitada - e Sertão dos Inhamuns (das 5 cidades, 4 não foram visitadas).
Capitão Wagner (União Brasil)
O candidato do União Brasil, durante a campanha, esteve em 70 municípios. No trajeto, Wagner garantiu presença nas 14 cidades que têm mais de 40 mil eleitores cada.
Quando analisada a presença por região administrativa, de forma proporcional, a área menos visitada por Wagner também foi o Sertão dos Crateús (das 13 cidades, 11 não foram visitadas), seguidas de Sertão dos Inhamuns (das 5 cidades, 4 não foram visitadas) e Litoral Oeste / Vale do Curu (das 12 cidades, 9 não foram visitadas).
Roberto Cláudio (PDT)
O candidato do PDT, desde o dia 16 de agosto, percorreu 68 cidades. No percurso, Roberto Cláudio esteve presente em 26 cidades, cujo eleitorado em cada uma supera as 40 mil pessoas.
Na análise da presença por região do Estado, as áreas que, proporcionalmente Roberto Cláudio menos frequentou foram: o Sertão de Canindé (das 6 cidades, não foram visitadas), o Sertão dos Inhamuns (das 5 cidades, 4 não foram visitadas) e Cariri (das 29 cidades, 23 foram visitadas).
Municípios não visitados
Os municípios que têm menos de 10 mil eleitores predominam entre os que não foram escolhidos nos percursos traçados pelos candidatos. Cidades com o menor número de eleitores como Baixo e Ererê que, conforme o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), têm os menores número de eleitores no Estado, com respectivamente 5,6 mil e 5,7 mil eleitores, não foram visitados.
Em números absolutos, a Região do Cariri tem o maior quantitativo de cidades não visitadas, com 17 municípios.
A professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres, destaca algumas aspectos que devem ser considerados para análise dos percursos realizados, são eles:
- O tamanho do eleitorado da cidade;
- Se o candidato tem um “palanque”, com lideranças locais que possam garantir uma boa visibilidade na passagem pela cidade;
- Se já são ou não redutos eleitorais históricos dos candidatos ou dos apoiadores;
- Se são pólos que podem irradiar a campanha para cidades vizinhas;
- Se são áreas cujas pesquisas de intenção de voto internas dos partidos apontam maior ou menor rejeição aos candidatos.
A professora destaca que o tamanho do eleitorado da cidade não é o único fator que determina que serão priorizadas ou não. Nesses casos, pondera ela, “uma das estratégias que eles utilizam é mandar outras pessoas que representem a chapa”.
Além disso, destaca, “antes deles irem, eles precisam de alguém com força e capital político para preparar o campo para chegada dele. Um candidato não vai visitar uma cidade se ele não tem uma base eleitoral minimamente articulada que possa gerar um movimento, que possa atrair os olhares de quem está no município”.
Monalisa também destaca que, em geral, as campanhas priorizam os próprios redutos históricos, pois, perder nesses locais “é demonstração de fraqueza”.
Reforço da presença
Embora as campanhas eleitorais tenham diversas dimensões e usem distintas estratégias para alcançar o eleitorado, a presença dos candidatos nas cidades, reforça Monalisa, é um fator extremamente relevante.
“É importante porque a política também é performática. O político não é só aquele que está ali exercendo o mandato, cumprindo a sua função num lugar distante fisicamente do público, ele precisa entregar, chegar, mostrar para a população”.
Em um eventual segundo turno, argumenta, haverá uma “reorganização dos aliados” e esses percursos também devem ser alterados. Um dos fatores diferenciados, indica ela, são os candidatos a deputados (estadual ou federal) que, após saírem vitoriosos, podem também atuar para traçar novos ou reiterar os percursos. Além dos votos consolidados indicarem em quais locais esses candidatos tiveram mais êxito ou fracassaram.