Qual cenário eleitoral dos deputados estaduais do Ceará campeões de voto em 2018 para 2022

Com novas regras e com impactos das eleições municipais de 2020, parlamentares começam a se movimentar para a disputa pela reeleição

Às vésperas do ano eleitoral, as movimentações de deputados estaduais em busca de novo mandato em 2022 já iniciaram, ainda que fora dos holofotes. Para aqueles que foram eleitos com folga em 2018, repetir o feito passa por diversos fatores, como as alianças construídas ao longo destes quatro anos e as perdas e ganhos sofridos nas eleições municipais de 2020

Dentre os dez deputados estaduais mais votados no Ceará em 2018, segundo dados da Justiça Eleitoral, a maioria se movimenta em busca da reeleição para a Assembleia Legislativa. Outros, no entanto, devem tentar assumir novos cargos, como uma cadeira na Câmara dos Deputados ou mesmo o comando do Governo do Estado. 

Com a proibição das coligações proporcionais - e uma indefinição sobre as federações partidárias -, especialistas apontam que parlamentares ainda estão diante de incertezas sobre a formação das chapas e o tamanho exato de qual deve ser o desafio para as eleições de 2022. 

"Dependendo do partido, (o deputado) ainda vai ter noção do tamanho do desafio dele, ou seja, da quantidade de votos que vai precisar e da estrutura que vai ter à disposição. Vai ser uma disputa muito competitiva, mais do que nas eleições anteriores", aponta o cientista político Cleyton Monte, pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia da Universidade Federal do Ceará (Lepem-UFC). 

Ampliação das bases eleitorais

Também pesquisadora do Lepem, a socióloga Paula Vieira aponta que, para conseguirem boas votações na próxima eleição, é importante que os parlamentares tenham inserção não só na Capital e na Região Metropolitana de Fortaleza, mas também em municípios estratégicos no interior. 

"O capital político dos deputados mais votados tende a ter continuidade nos municípios em que têm uma base eleitoral forte. A estratégia será para manter ou crescer essa base eleitoral". 
Paula Vieira
Pesquisadora do Lepem-UFC

Ex-vereador da Capital, Salmito Filho (PDT) conquistou o primeiro mandato como deputado estadual em 2018, quando ocupava a presidência da Câmara Municipal. Apenas em Fortaleza, ele teve 59,1% dos 91,2 mil votos recebidos - naquele pleito, foi o quinto deputado estadual mais votado no Ceará. 

O parlamentar explica que, nas últimas eleições, já tinha aliança com prefeitos de outras regiões - caso de Ubajara e Aquiraz. "Mas, em virtude de, desde o início do mandato, começarmos esse trabalho marcando presença nos municípios, ampliamos o apoio", afirma. 

"É uma construção permanente do nosso mandato, mas obviamente o nosso trabalho é mais global. A gente acompanha as principais demandas do município, do governo municipal, que são demandas da população".
Salmito Filho
Deputado estadual

Agora, Salmito afirma ter, pelo menos, sete prefeitos de municípios cearenses como aliados políticos, o que pode impactar diretamente no apoio eleitoral para 2022. Além da própria Capital, onde é correligionário do prefeito José Sarto (PDT). 

Para além das Prefeituras. 

Com forte base eleitoral na Região Norte do estado, Romeu Aldigueri (PDT) aponta que "essa questão de 'ter tantos prefeitos' não é um fator determinante". Para ele, muitos elementos entram nesse cálculo, como o número de eleitores de cada cidade e a força de lideranças de oposição, por exemplo. 

"Se tiver a capilaridade de ter os votos da oposição... Às vezes, o prefeito tem dois, três deputados estaduais, enquanto a oposição tem só um", argumenta. 
Romeu Aldigueri
Deputado estadual

Sexto deputado estadual mais votado em 2018, Aldigueri afirma que "desde o primeiro dia trabalha pensando no próximo mandato". "Estou muito presente nos municípios. O que vou fazer ano que vem é o que faço todo ano", ressalta. 

A pesquisadora Paula Vieira aponta que, pela lógica da representação, costuma existir um revezamento entre grupos políticos nas prefeituras. Ou seja, quem está na oposição em uma cidade, muitas vezes já ocupou o Executivo municipal anteriormente e vice-versa. "Então, essa oposição vai ter um peso e pode gerar outro capital político para o deputado", completa. 

Perdas nas eleições de 2020

Para o cientista político Cleyton Monte, no entanto, ainda é importante a aliança com gestores municipais. "Para se eleger deputado estadual tem que ter votação expressiva, e faz diferença ter uma relação com a máquina administrativa municipal", afirma.

Ele cita o caso da deputada Érika Amorim (PSD), sétima deputada mais votada em 2018. No ano passado, um dos seus principais aliados e marido, Naumi Amorim, perdeu a disputa pela Prefeitura de Caucaia

"Se ela não tiver conseguido contato com outros municípios, ampliar a base dela, vai ter dificuldade", pondera, ao analisar que, ao perder o comando de uma gestão municipal, um grupo político também pode ter acesso dificultado "a toda a rede de apoio, que tem capilaridade inclusive entre os vereadores".

Para Erika Amorim, o trabalho realizado durante o mandato deve pesar mais do que a perda na eleição municipal. "Acredito na força do trabalho, de representar bem a população. Tenho me dedicado e vou para a campanha com essa expectativa, que o resultado vem no reconhecimento através do voto", explica.

Apesar disso, ela admite que a conjuntura política para 2022 pode "representar ameaças". "O nosso grupo político, ligado ao meu marido Naumi Amorim, tem sofrido perseguição política, o que pode tentar que se reflita na minha imagem", projeta. 

Contudo, a deputada afirma que acredita que terá o "reconhecimento da população". Ela aponta, ainda, que a ligação do mandato com outras frentes, como o combate à violência de gênero e a defesa da infância e da adolescência, além do apoio do partido, devem ser essenciais para a disputa em 2022. 

O deputado Moisés Braz (PT) também teve, em 2020, perda eleitoral em uma das suas principais bases políticas, o município de Forquilha. Apesar disso, ele afirma ter conseguido ampliar o apoio de prefeitos, somando agora quatro gestores municipais aliados, além de seis vice-prefeitos.  

O petista cita também o apoio de vereadores e vereadoras, além de outros gestores do PT. Com forte ligação com a agricultura familiar e movimentos sindicais, Moisés Braz teve a oitava maior votação para a Assembleia Legislativa em 2018. Para 2022, no entanto, ele tem visto a disputa "com cautela". 

Alianças fortalecidas para 2022

O deputado Guilherme Landim (PDT) diz que, para o próximo ano, tem buscado "recompor possíveis perdas" nas últimas eleições municipais. Apesar de admitir que há impacto, ele considera que existem outras formas de se fazer presente nesses municípios.

"É importante a manutenção do grupo, mesmo quando não temos prefeito, temos a oposição", afirma. Décimo deputado estadual mais votado em 2018, Landim cita que a ligação com as bases eleitorais nas cidades é muito importante. 

"O voto de deputado é um voto muito ligado a lideranças municipais", sustenta. Para ele, parte do trabalho de "recompor" tem ligação com mostrar o trabalho realizado nos últimos quatro anos, principalmente como "ponte entre municípios e Governo". 

Terceiro deputado estadual mais votado em 2018, Sérgio Aguiar (PDT) tentará conquistar o quinto mandato na Assembleia Legislativa em 2022. Ele reforça a importância de se manter a aliança com lideranças, seja na situação ou na oposição.

A perspectiva do parlamentar é de alcançar resultado semelhante ao das últimas eleições, tendo como um dos pilares a ampliação da base política. "Chega a 30 municípios. Em nove deles somos representados pelos prefeitos municipais. Mas nos outros, tenho as oposições, o que mantém a parceria com grupos políticos tanto de uma forma como de outra", detalha. 

Para Aguiar, outros dois pilares devem ser importantes na disputa pela reeleição: o fortalecimento da presença nas redes sociais e o reconhecimento de eleitores ligados a bandeiras que defende no mandato. 

"Além dos municípios de interior que defendo, tenho atuação ligada ao turismo, a micro e pequena empresa e a atividades econômicas ligadas à indústria e comércio. (O resultado) É uma mistura de representação dos municípios com a representação de segmentos".
Sérgio Aguiar
Deputado estadual

Vantagens para a reeleição

Paula Vieira aponta que, por outro lado, deputados estaduais que já exercem mandato podem ter vantagens nas eleições de 2022 - que serão as primeiras em que serão proibidas coligações para a disputa pela Assembleia, por exemplo. 

"Facilita porque esses parlamentares vão ter projetos iniciados, vão ter orçamento direcionado para os municípios", destaca. Uma vantagem que pode facilitar a reeleição, por exemplo, de Queiroz Filho (PDT) - segundo deputado estadual mais votado - e Fernando Santana (PT) - quarto mais votado. 

Deputados de primeiro mandato buscam a reeleição em partidos que obtiveram crescimento no número de prefeituras conquistadas em 2020. Enquanto o PDT foi de 48 para 66, o PT cresceu de 15 para 18.

A soma disso com a atuação desses parlamentares durante estes primeiros anos na Assembleia Legislativa deve ser primordial para alcançar apoios políticos para a próxima votação. 

"O que mantém aliança: é a possibilidade, é quantidade de recursos de emendas, de ações de secretaria, é o trabalho que foi feito naquela base. Se houve aquele entendimento, a aliança continua".
Cleyton Monte
Cientista político

Fortalecimento para a campanha 

Nono deputado estadual mais votado em 2018, Evandro Leitão (PDT) se fortaleceu nesta legislatura. Líder do Governo no primeiro mandato de Camilo Santana, foi eleito para a Mesa Diretora no início deste mandato, em 2019. 

Com a eleição de José Sarto para a Prefeitura de Fortaleza, acabou assumindo a presidência da Assembleia em 2020. Durante o mandato, a Casa iniciou sessões itinerantes em direrentes cidades cearenses.  

Além disso, em outubro, assumiu, pela primeira vez, o Governo do Ceará durante viagem oficial do governador Camilo Santana (PT) e da vice-governadora Izolda Cela (PDT). 

"Tem cargos que são assumidos no Legislativo que dão projeção e poder. Quando um deputado lidera, faz parte da Mesa Diretora, preside, tem muitos recursos à sua disposição", explica Cleyton Monte. 

Ele cita que muitas lideranças que viriam a assumir cargos no Executivo exerceram antes o cargo de presidente da Assembleia, como José Sarto e o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT). Evandro Leitão é, inclusive, um dos pré-candidatos do PDT ao Governo do Ceará, sendo um dos poucos deputados estaduais mais votados em 2018 que pode optar por não concorrer à reeleição. 

Cadeira na Câmara Federal

Com quase 110 mil votos em 2018, André Fernandes (Republicanos) não tem como meta voltar à Assembleia Legislativa em 2023. Na próxima eleição, ele pretende concorrer a uma cadeira na Câmara dos Deputados - uma disputa na qual buscará ampliar a votação conquistada nas últimas eleições. 

O deputado aponta que não encontrou, até hoje, "nenhum eleitor que tenha se arrependido do voto" e que muitos prometem, inclusive, "fazer campanha de graça''. Ele aponta ainda outros dois fatores que devem contribuir para a votação em 2022: o crescimento nas redes sociais e uma menor competição pelo cargo, em comparação ao de deputado estadual. 

"Iremos disputar uma vaga na Câmara Federal, onde cai a concorrência e naturalmente a votação aumenta. Todos os prefeitos têm um deputado estadual, mas raramente um prefeito tem um deputado federal, o que deixa a disputa pelo voto mais fácil".
André Fernandes
Deputado estadual

Os resultados obtidos pela oposição em 2020, tanto em Fortaleza como no Ceará, também são uma aposta para o próximo pleito. "2020 foi importante para termos uma base de como será 2022. Em Fortaleza, por exemplo, o grupo dos Ferreira Gomes quase perdeu a eleição", argumenta Fernandes. 

Para Paula Vieira, é possível que Fernandes consiga repetir o feito de 2018, quando foi campeão de votação apesar de estar disputando ainda vaga para o primeiro mandato, sem experiências anteriores em eleições. 

"Ele faz parte de uma oposição barulhenta, além de ser ligado ao (presidente Jair) Bolsonaro", destaca. 

Cleyton Monte acrescenta que as próximas eleições proporcionais - seja para deputado estadual ou federal - devem ser muito influenciadas pelas majoritárias. "Os candidatos vão ter que ter muita clareza de quem apoiam no estadual e no federal", diz.