Enquanto o atual presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) travam uma batalha em busca de aliados cearenses, outros pré-candidatos à Presidência da República correm risco de ficar sem palanque no Ceará nas eleições do próximo ano.
Devido ao amplo arco de aliança do governador Camilo Santana (PT) e à força que os três nomes que lideram as pesquisas de intenção de votos têm no Ceará, há escassez de possíveis aliados no Estado para candidatos alternativos na disputa, como Rodrigo Pacheco (PSD), João Doria (PSDB), Eduardo Leite (PSDB), Simone Tebet (MDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Sergio Moro (Podemos).
Mesmo aquelas siglas que cogitam lançar candidaturas, como o PSDB, o DEM e o MDB, por exemplo, veem suas principais lideranças no Ceará ligadas à base governista se movimentando por chapas comandadas por outras legendas.
Equação eleitoral
Liderado pelo ex-vice-governador Domingos Filho, o PSD no Ceará integra, atualmente, a base governista. O presidente da sigla no Estado já colocou o próprio nome na mesa para encabeçar uma chapa no Estado, mas reconhece que aceita negociar uma composição com aliados.
Neste segundo cenário, à nível nacional, Domingos teria de optar entre petistas e pedetistas. Contudo, o PSD já anunciou que lançará o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, como candidato do próximo ano. Em outubro, o parlamentar inclusive deixou o DEM rumo ao PSD com esse objetivo. A saída do partido ocorreu porque a sigla fará uma fusão com o PSL, resultando no União Brasil.
O futuro do União Brasil
No Ceará, no entanto, o União Brasil é disputado por dois políticos: o deputado federal Capitão Wagner (Pros) e o senador suplente Chiquinho Feitosa (DEM). A queda de braço deve definir os rumos da sigla no Estado. No entanto, em nenhuma conjuntura local há sinalização de apoio aos nomes nacionais do partido.
A ideia de Wagner é trazer a sigla para sua base de apoio estadual. O deputado pretende disputar o Governo do Estado e já foi anunciado como o candidato de Bolsonaro no Ceará. Já Chiquinho é aliado da família Ferreira Gomes. Caso passe a comandar o partido, ele deve levar a sigla para a base de apoio da chapa pedetista.
Prévias tucanas
Já entre os tucanos, o nome mais forte da sigla no Estado é do senador Tasso Jereissati. Enquanto o PSDB realiza uma acirrada disputa nas prévias, o senador apoia o nome de Eduardo Leite para representar o partido em 2022. O cearense, no entanto, defende uma aliança entre diversos partidos para derrotar o ex-presidente Jair Bolsonaro – ainda que isso signifique o PSDB renunciar a liderança da chapa.
Durante a viagem de Lula ao Ceará, o tucano encontrou o petista em um sinal de “resgate da civilidade na política brasileira pelo bem do Brasil”.
O senador também alçou Ciro Gomes à política estadual. Os dois já foram aliados, passaram por distanciamento na relação, mas, atualmente, voltaram a se aproximar. O símbolo dessa aliança foi o apoio do PSDB à eleição de José Sarto (PDT) para a Prefeitura de Fortaleza.
MDB e PT
Há ainda o MDB, partido que deve lançar a senadora Simone Tebet à Presidência da República. No Ceará, no entanto, o ex-senador Eunício Oliveira (MDB) trabalha para integrar uma aliança com o PT. O emedebista já teve pelo menos três encontros com Lula neste ano e ambos prometem apoio recíproco em 2022, já que Eunício deve disputar vaga na Câmara dos Deputados.
Além de Bolsonaro, Lula e Ciro, o candidato que recebe apoio mais declarado no Ceará é o ex-ministro Sergio Moro. O parlamentar se filiou ao Podemos no último dia 10 de novembro. No Estado, o principal nome da sigla é o senador Eduardo Girão. O parlamentar, que tem proximidade com aliados do presidente Jair Bolsonaro no Ceará, participou da filiação do ex-ministro e elogiou o discurso de Moro.
Caso firme o palanque para o correligionário no Estado, Girão terá poucos aliados em seu entorno. Nomes como o do deputado federal Capitão Wagner e do deputado estadual André Fernandes (Republicanos) já anunciaram que estarão juntos ao presidente Jair Bolsonaro.
Leque de aliados
Ao ser reeleito, em 2018, Camilo Santana conseguiu reunir em seu entorno a maior aliança da história do Ceará. Ao todo, foram 24 siglas apoiando sua candidatura. Ao longo dos últimos três anos, a ampla coalizão criou situações contraditórias, como partidos que integram a base governista do PT no Ceará, mas são aliados de primeira ordem do presidente Jair Bolsonaro.
Agora, a menos de um ano da disputa da eleição, essas siglas se veem em uma encruzilhada. O caso simbólico mais recente envolve o PL. Nacionalmente, o partido chegou a anunciar a filiação de Jair Bolsonaro. Lideranças regionais da sigla também já deram “carta branca” para que o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, atenda às exigências do presidente da República estabelecidas para sua filiação.
No Ceará, no entanto, o PL é presidido por Acilon Gonçalves, prefeito do Eusébio e aliado do governador do Ceará. O deputado Júnior Mano (PL) mantém boa relação tanto com o Governo Federal quanto com o Estadual. Já nomes como o deputado federal Dr. Jaziel (PL) e a deputada estadual Dra. Silvana (PL) são aliados de Bolsonaro e fazem oposição a Camilo Santana.
Esse cenário diversificado foi um dos impasses apontados por Bolsonaro como entrave para sua filiação à sigla. Ele quer que em todos os estados o PL apoie sua candidatura e a de seus aliados.
Cenário semelhante ocorre com o PP no Ceará. A sigla é comandada pelo deputado federal AJ Albuquerque, aliado tanto de Camilo quanto de Bolsonaro. Nos bastidores, a sigla também é liderada por Zezinho Albuquerque (PDT), pai de AJ e aliado dos irmãos Ciro e Cid Gomes (PDT). O pedetista também é secretário das Cidades do Governo do Ceará. Neste caso, a tendência é de que o PP respeite as alianças regionais, o que pode garantir a permanência do grupo na base governista do Estado.
Um caso peculiar envolve o Republicanos. O partido, liderado no Estado pelo vereador Ronaldo Martins, já integrou a base governista, mas se aproximou da ala mais bolsonarista no Estado. Um dos principais aliados do presidente no Ceará, o deputado André Fernandes, inclusive é filiado à sigla.
Nas articulações rumo à oposição ao Governo do Ceará, Martins também filiou Dayany Bittencourt, esposa do deputado federal Capitão Wagner. Ela pretende disputar a Câmara Federal.
Nos bastidores, porém, o vereador tem participado de articulações que o aproximam novamente do grupo governista, que deve estar com Lula ou Ciro. Já nacionalmente, o Republicanos, sigla ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, é uma das bases de apoio de Bolsonaro, sendo inclusive um dos destinos cotados para filiação do presidente.
Em nova frente
Enquanto essas siglas ainda ponderam sobre que rumo seguir no próximo ano, há os que abandonaram de vez a base governista e se uniram ao grupo bolsonarista no Ceará, é o caso do PTB. O partido já foi comandado pelo ex-prefeito de Juazeiro do Norte, Arnon Bezerra (PDT), e por seu filho, o deputado federal Pedro Augusto Bezerra.
Mas, após uma manobra interna, a sigla está, atualmente, nas mãos do deputado estadual Delegado Cavalcante (PTB), um dos principais aliados de Bolsonaro no Ceará. Com a mudança de lado, o PTB se junta a siglas como PRTB, PSC e Pros, por exemplo, que abrigam nomes de aliados a Bolsonaro.
Lula x Ciro
Ao mesmo tempo em que aliados se veem numa encruzilhada, a base governista também está em outra com a pré-candidatura de Lula e Ciro. Entre pedetistas, a expectativa é de que a aliança se mantenha, já que seria a “vez” de a sigla indicar um cabeça de chapa e assim garantir palanque para Ciro Gomes.
O impasse na base aliada surge principalmente no PT. Os petistas do Ceará se dividem em duas alas: aqueles que defendem uma chapa própria da sigla e outros que articulam a manutenção da aliança com o PDT.
O primeiro grupo é encabeçado pelos deputados federais José Airton Cirilo e Luizianne Lins. A dupla já colocou o nome à disposição para liderar a chapa e defende que o palanque da sigla no Estado deve ser estar integralmente a favor da candidatura de Lula.
Eles argumentam que os constantes ataques de Ciro contra Lula mostram que a manutenção da aliança com o PDT no Ceará é “insustentável” e, se ocorrer, será prejudicial para os petistas.
A outra ala do partido, mais ligada ao deputado federal José Guimarães (PT), argumenta em favor da aliança com os pedetistas. Postura que também é defendida pelo governador Camilo Santana.
Frequentemente, Camilo diz acreditar que os dois partidos estarão juntos em 2022. No ano passado, o petista chegou a articular um encontro entre Ciro e Lula para que os dois pudessem conversar.
Enquanto as siglas se articulam para 2022, PDT reforma suas bases no Interior do Ceará, ao mesmo tempo em que Lula e Bolsonaro também intensificam agenda na região.