Em crise de Cid com Elmano, o que dizem os presidentes dos partidos aliados da base do Governo

Base aliada ao Governo Elmano possui oito partidos, incluindo o PSB e o PT

O impasse entre o senador Cid Gomes (PSB) e o governador Elmano de Freitas (PT) — que foi citado por aliados de Cid inclusive como um rompimento político entre os dois — repercute em toda a base aliada ao Governo do Ceará, formada por oito partidos.  

Apesar disso, os presidentes das siglas preferem ter cautela ao comentar a crise entre as duas lideranças políticas. O principal argumento é que a questão envolve dois partidos — PSB e PT — e que não cabe a eles interferir em uma situação interna de outras siglas, ainda que aliadas. 

A perspectiva é de que o impasse, no entanto, não gere uma ruptura em toda a base governista, sendo tratada como um problema pontual — postura semelhante a que tem adotado lideranças petistas quando indagadas sobre o assunto. 

O diálogo entre os líderes do "projeto" também é elencado como importante para restaurar a harmonia, inclusive ressaltando a importância do envolvimento do ministro da Educação, Camilo Santana (PT), na resolução do problema. 

'Torcendo pela harmonia'

Presidente do PSD Ceará, Domingos Filho afirma estar "torcendo para ter harmonia". "Evidente que é uma relação que não cabe ao PSD e a nenhum partido estar sobre ela tentando interferir ou ter opinião", completa. 

Ele cita a divisão recente sofrida pela base governista por conta das eleições de 2022 — quando o PDT decidiu lançar a candidatura de Roberto Cláudio (PDT) e o PT optou por ter a candidatura própria, com Elmano de Freitas (PT). E, por isso, diz que torce para que "haja um entendimento entre senador e governador". 

Além de Elmano e de Cid, ele também cita o ministro Camilo Santana como importante para esse entendimento. Mas pontua que não acha que deve acontecer um rompimento na base por conta do impasse. "Eu não creio, sinceramente, que haja uma ruptura", destaca. 

Presidente do MDB Ceará, Eunício Oliveira é mais sucinto ao ser indagado sobre o impasse vivido pelos aliados. "Não quero falar muito sobre isso", disse o deputado federal. "Já tenho problema demais no meu partido para me meter no partido dos outros", reforçou. 

Pivô da desavença entre PT e PSB, a chapa governista ao comando da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) também pode ter o MDB em posição de destaque. Segundo Eunício, o seu sobrinho Danniel Oliveira, atual 1º secretário, deve ser indicado como 1º vice-presidente da Casa, que é quem normalmente guia os trabalhos em plenário enquanto o presidente faz seus despachos no gabinete. 

O próprio deputado estadual confirmou essa articulação. Danniel afirmou que já existiam tratativas para manter o seu espaço na chapa, mas como o Regimento Interno não permite a reeleição dentro da mesma legislatura, ele foi "convidado" a subir de cargo. 

"Acho que esse biênio da Assembleia é importante, vamos começar a tratar de eleições de 2026, e ter meu nome colocado é sempre uma honra. Fiz e estou fazendo o meu papel como 1º secretário e acredito que isso tem sido reconhecido pela atual gestão e pelo Estado do Ceará. [...] Não houve nenhum tipo de rejeição ao meu nome participando da chapa diretória", pontuou.

O Diário do Nordeste também entrou em contato com as presidências do Republicanos e do PP, mas não obteve retorno. O espaço continua aberto a manifestações. 

O que dizem os partidos envolvidos?

O presidente do PSB, Eudoro Santana, e do PT, Antônio Conin, falaram a respeito do impasse envolvendo duas das principais lideranças de seus partidos. 

Eudoro pontuou, na última segunda-feira (18), que "houve erro tanto de Elmano como de Cid". O ex-deputado afirmou que o PSB não foi consultado antes da decisão sobre quem iria ser o candidato governista a Assembleia Legislativa — a escolha de Fernando Santana (PT) foi 'gota d'água' para Cid Gomes. 

"O PSB não foi consultado. Aliás, nenhum outro (partido) foi consultado até onde sei. Isso é uma coisa que precisa ser avaliada pelo próprio PT. (...) Não pode ser tomada uma decisão sem ouvir, sem consultar minimamente", disse. 

Do lado de Cid, Eudoro disse que o erro "foi de tomar a decisão pessoal, sem ouvir os companheiros, os demais partidos, o próprio partido dele". Cid e Eudoro estiveram reunidos na última terça-feira (19), com a Executiva estadual do PSB. 

Na ocasião, Eudoro disse que o papel da legenda é "encontrar caminhos para pacificação" entre os partidos aliados. Cid Gomes, por sua vez, disse que "não tem decisão" sobre rompimento e que "tem ritos que têm que ser cumpridos" antes de haver uma comunicação sobre eventual saída da base do Governo Elmano.

Presidente do PT Ceará, Antônio Conin disse que Cid Gomes "é muito importante para o governo", portanto é momento de "corrigir o que tiver que corrigir, dialogar mais". "Quando acontece algo assim, temos que dar a devida atenção e tratar para conseguir superar esse episodio", disse.

Contudo, o petista disse que a indicação de Fernando Santana para a presidência da Alece está "pacificada" e que acredita que "houve um exagero na interpretação dos interlocutores" de Cid sobre a sua saída da base.