A fusão entre o DEM e o PSL vem sendo discutida, há algumas semanas, pelos dirigentes nacionais dos dois partidos. Com as articulações avançadas - e uma previsão de oficializar a união ainda em outubro -, a junção das duas legendas pode gerar um impasse no Ceará.
De um lado, o DEM, presidido no Estado pelo ex-deputado Chiquinho Feitosa, faz parte do arco de alianças do governador Camilo Santana (PT). Do outro lado, o PSL integra a oposição ao petista e ao grupo político comandado pelo ex-ministro Ciro Gomes e pelo senador Cid Gomes, ambos do PDT - posição reforçada após aliado do deputado federal Capitão Wagner (Pros) assumir a presidência estadual do partido.
Parlamentares estaduais e municipais das duas siglas apontam que acordo sobre se o novo partido irá para a base governista ou para a oposição deve ser determinante - inclusive, para definir quem fica e quem sai da nova legenda a ser criada.
Por enquanto, contudo, as discussões em âmbito estadual estão em compasso de espera: qualquer definição só irá começar a ser debatida pelas lideranças no Ceará quando o martelo for batido nacionalmente.
A Executiva nacional do DEM aprovou, no último dia 21 de setembro, dar o pontapé inicial à união entre as legendas. Na terça-feira (28), a deliberação sobre o assunto também chegou ao PSL. A executiva nacional do partido aprovou, por unanimidade, a fusão. Agora, a decisão precisa ser aprovada por convenção conjunta, prevista para o dia 6 de outubro.
Disputa pelo comando do novo partido
Membro da executiva nacional do PSL e presidente do diretório municipal do partido em Fortaleza, o deputado federal Heitor Freire afirma que o diálogo no Ceará deve ser iniciado após o "sinal verde" dos dirigentes nacionais.
"O Chiquinho Feitosa é uma pessoa experiente, com quem tenho bom relacionamento. Não podemos desconsiderar. Esse diálogo vai quer que acontecer".
Além de Feitosa e Freire, a conversa sobre o novo partido também deve envolver Capitão Wagner. Ainda no Pros, ele assumiu extra-oficialmente o comando do PSL no Ceará. Em agosto, Rafael Rocha, aliado de Wagner, passou a ocupar a presidência estadual da legenda.
A intenção é de que Wagner e todo o grupo político comandado por ele migrem para o PSL em 2022 - de olho na disputa eleitoral. Com a fusão, no entanto, a discussão sobre o comando da legenda precisará ser feita.
"O PSL estabeleceu junto com DEM critérios para definir quem vai ficar com o partido em cada estado e um deles é a força política", explica Capitão Wagner.
Na semana passada, Feitosa esteve em Brasília, onde se reuniu com o presidente nacional do DEM e ex-prefeito de Salvador, ACM Neto. A organização do partido para as eleições esteve na pauta.
Ampliação da bancada
Parlamentares das duas legendas apontam a ampliação das bancadas na Câmara Municipal de Fortaleza e na Assembleia Legislativa como um aspecto positivo de uma possível fusão entre DEM e PSL.
No Congresso Nacional, por exemplo, se o novo partido for concretizado, ele terá a maior bancada da Câmara, com 81 deputados, além de sete senadores e três governadores.
"A bancada vai ficar maior e, sendo uma fusão, outros parlamentares também podem ingressar", afirma a vereadora de Fortaleza, Cláudia Gomes (DEM). Ela é a única vereadora do DEM na Capital, enquanto o PSL também possui um representante no legislativo municipal.
Além de dobrar a bancada, uma nova legenda também poderia atrair novos parlamentares, já que, pelas regras eleitorais, deputados e vereadores podem trocar de partido sem perder o mandato se a nova legenda escolhida for resultado de uma fusão.
Outro efeito da fusão destacado é o fortalecimento das legendas para as eleições do próximo ano.
"Hoje, temos uma fragilidade muito grande com a proibição das coligações, para cumprir o coeficiente. Com a fusão, terá o interesse de candidatos a deputados estaduais e federais. A tendência é que haja uma migração dessas candidaturas de outros partidos".
Se a união das legendas for concretizada, o novo partido terá o maior tempo de rádio e televisão na campanha de 2022 e os maiores fundos eleitoral e partidário.
Divergência de posicionamento
Vereador de Fortaleza, Marcelo Lemos (PSL) concorda com o fortalecimento da bancada como ponto positivo, mas se preocupa com qual posicionamento o novo partido pode assumir quanto à Prefeitura de Fortaleza - sob o comando de José Sarto (PDT).
"Eu sou da base do governo e quero permanecer. Não sei como vai ficar, mas não vou deixar a base. Se for (para a oposição), vou ser obrigado a deixar o partido", afirma.
Cláudia Gomes também levanta a possibilidade de "atrito" por conta do assunto, mas considera que é necessário esperar a decisão nacional. "Primeiro tem que ser decidido a questão nacional, depois é que serão decididos os problemas regionais. Não adianta discutir antes da fusão", concorda João Jaime.
Heitor Freire reafirma a posição como oposição tanto dele como de Wagner, mas minimiza a possibilidade de um impasse por conta disso - apesar do DEM ser base aliada tanto em âmbito estadual como em Fortaleza.
"Nós queremos a mesma coisa: um Ceará melhor, mais próspero, mais desenvolvido. Toda eleição é uma nova eleição e os diálogos reiniciam", afirma, ao falar sobre a possibilidade de Chiquinho Feitosa e outras lideranças do DEM no Estado quererem apoiar o candidato governista à sucessão do Governo do Estado.
Capitão Wagner, pro sua vez, já lançou a pré-candidatura ao Palácio da Abolição. "Tudo se resolve no diálogo e na conversa", finaliza.