Após afirmar que as questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) começavam a ter a "cara do governo", o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse durante viagem ao Catar, nesta quarta-feira (17), não ter visto as questões das provas deste ano. As informações são do G1.
Jornalistas perguntaram ao presidente se ele tinha visto as questões. "Não, não vi. Eu não vejo, não tenho conhecimento", respondeu Bolsonaro.
O Enem começa a ser realizado neste domingo (21), após uma crise nas últimas semanas. A primeira declaração de Bolsonaro veio após diversos servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pelo exame, realizarem demissão coletiva. Pelo menos 37 servidores deixaram seus cargos.
"O que eu considero muito também: começam agora a ter a cara do governo as questões da prova do Enem. Ninguém precisa ficar preocupado. Aquelas questões absurdas do passado, que caíam tema de redação que não tinha nada a ver com nada. Realmente, algo voltado para o aprendizado", disse Bolsonaro na última segunda-feira (15) na Expo 2020, em Dubai.
Ministro presta esclarecimentos
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, foi chamado para dar esclarecimentos sobre a fala do presidente na Comissão de Educação da Câmara e disse, nesta quarta-feira, que o Enem tem a cara do governo "no sentido de competência, honestidade e seriedade".
Ribeiro foi à comissão por iniciativa própria, após os deputados aprovarem um requerimento para ouvi-lo sobre a crise no Inep. O ministro explicou ter ido nesta quarta porque irá viajar a partir de quinta e não conseguiria comparecer à Câmara antes da aplicação do Enem.
Interferências
Os servidores do Inep que deixaram os cargos relataram ter sofrido pressão psicológica e vigilância velada na formulação da prova deste ano.
A debandada em massa se deu dias depois dos pedidos de exoneração do coordenador-geral de exames para certificação, Eduardo Carvalho, e do coordenador-geral de logística da aplicação, Hélio Junio Rocha Morais
O motivo, de acordo com o grupo, era para questões polêmicas, que eventualmente incomodariam o governo Bolsonaro, serem evitadas.
Parte dos 37 servidores públicos que entregaram os cargos conversou com o programa Fantástico, da TV Globo. O grupo detalhou tentativas de interferência no conteúdo das provas e situações de intimidação, além de ter acusado o presidente do órgão, Danilo Dupas, de despreparo.
Posição de Bolsonaro
Sobre as saídas dos servidores, Bolsonaro afirmou, em Dubai, ter conversado "muito rapidamente" com o ministro da Educação, Milton Ribeiro. "Seria bom vocês conversarem com eles, o que levou àquelas demissões. Não quero entrar em detalhes, mas é um absurdo o que se gastava com poucas pessoas lá. Um absurdo, tá?", disse.
O presidente classificou o titular da Pasta como uma "pessoa séria", e a situação como "inadmissível". "Ele [Milton Ribeiro] mandou mensagem para mim agora há pouco, diz que a prova do Enem vai correr na mais absoluta tranquilidade", ressaltou.
Banco Nacional de Itens
O Enem, marcado para os próximos dois domingos, 21 e 28 de novembro, é elaborado todos os anos. As 180 questões do exame são retiradas do Banco Nacional de Itens, formado por milhares de questões redigidas por professores escolhidos por meio de edital.
A equipe técnica do Inep escolhe as 180 questões considerando o nível de dificuldade adequado a cada edição.
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