Depois de meses de incertezas e desgastes, o PDT definiu nesta segunda-feira (18), o ex-prefeito Roberto Cláudio como pré-candidato do partido ao Governo do Ceará. Sem consenso, a decisão só veio depois do voto de pedetistas em reunião do diretório estadual.
O impasse que arrastou a decisão por meses pode ter deixado sequelas no núcleo do partido e também em aliados. Agora, o PDT precisará de muito diálogo para evitar rupturas e manter a base coesa para uma eleição que será dura contra o pré-candidato da oposição Capitão Wagner (União Brasil).
Veja quais são os focos de crise que o partido precisará apaziguar para manter o grupo unido para as eleições de outubro.
Fator Camilo
Principal articulador da pré-candidatura de Izolda Cela, o ex-governador Camilo Santana (PT) está mais petista do que nunca.
Na vida pública sempre busquei ser justo e leal. Meus irmãos e irmãs cearenses são testemunhas da minha história. Defender que seja dado à governadora Izolda Cela, do PDT, o direito a buscar a reeleição, por sua seriedade e competência, é questão de justiça. (Cont.)
— Camilo Santana (@CamiloSantanaCE) July 8, 2022
Antes visto com certa desconfiança por correligionários mais ligados à deputada federal Luizianne Lins, o ex-governador conquistou liderança interna em mais de uma ala da sigla e tem trabalhado por mais autonomia no partido.
Com o veto do PT ao nome do ex-prefeito Roberto Cláudio, o ex-governador tem liderado esse sentimento dentro da agremiação. Convencer uma aproximação de Camilo com a candidatura do ex-prefeito parece ser um dos maiores desafios do grupo.
Candidatura própria do PT
O ex-governador Camilo Santana tem, inclusive, trabalhado nos bastidores pela possibilidade de o partido ter candidatura própria ao Governo do Estado.
A demanda dos petistas é justificada também para a construção de um palanque forte para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Ceará.
Abordei também a questão eleitoral no Ceará e defendi a formação de um palanque leal e forte em torno do projeto de resgate da esperança dos brasileiros, representado pelo presidente Lula, tendo o PT como protagonista desse processo. [+]
— José Airton Cirilo (@JoseAirtonPT) July 13, 2022
Nomes como José Airton, Luizianne Lins, Fernando Santana e José Guimarães chegaram a ser ventilados para a empreitada. Pesquisas qualitativas e quantitativas foram contratadas pela legenda.
Uma provável candidatura petista com apoio de Lula e Camilo pode dividir os votos da ala governista. O desafio do PDT é buscar diálogo com o principal aliado desde 2006, evitando a fragilidade no palanque.
Rompimento de aliados
Outro desafio dos pedetistas é evitar que em uma eventual candidatura do PT antigos aliados do grupo desembarquem do governo.
Reunião nos últimos dias entre PT, PV, PCdoB, PP e MDB foi vista nos bastidores como o ensaio de uma aliança eleitoral em caso de ruptura entre PT e PDT.
O PDT é um partido que tem poucos recursos financeiros para tocar a campanha, além do curto tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão. A fuga de legendas pode colocar em dificuldade a campanha do ex-prefeito.
Esses partidos possuem estrutura financeira e prefeituras no interior do Estado – o que pode fazer diferença em uma disputa que tem tudo pra ser acirrada com a oposição liderada por Capitão Wagner.
Unificar a base
Depois que mais de 60 prefeitos defenderam que a governadora Izolda Cela disputasse a reeleição, o núcleo do PDT no Ceará precisará realinhar os esforços com lideranças do Interior.
Muitos deles estão ligados ao ex-governador Camilo Santana. O próprio prefeito de Caucaia, Vitor Valim, liderança no segundo maior colégio eleitoral do Estado, se comprometeu a apoiar a reeleição da governadora, mas se recusa a apoiar o ex-prefeito Roberto Cláudio.
A capacidade de diálogo será fundamental para que a estrutura governista não se desmembre a ponto de colocar em risco a continuidade do grupo no comando do Palácio da Abolição.