O senador Cid Gomes (PDT) é uma das mais importantes lideranças do grupo governista no Ceará, mesmo após o rompimento que opõe PT e PDT nas eleições do Estado. Não à toa, o silêncio dele no período de definição da candidatura do PDT foi, provavelmente, o fato mais marcante do processo que levou à quebra da aliança. Por isso mesmo, a declaração pública dada por ele no último sábado (3) teve tanta repercussão no mundo político e na sucessão estadual.
Das declarações do parlamentar, além dos recados diretos que agitaram os bastidores principalmente das campanhas de Roberto Cláudio (PDT) e Elmano (PT), há interpretações possíveis sobre a leitura que faz do momento e as possíveis repercussões disso no cenário eleitoral.
A primeira delas é em relação ao rompimento da aliança entre PT e PDT. O fato ocorreu por conta dos desentendimentos entre as duas legendas na escolha do candidato pedetista.
O petismo, sob liderança de Camilo Santana, defendeu a reeleição da governadora Izolda Cela. Já uma outra parte do PDT e dos aliados preferiam o ex-prefeito Roberto Cláudio, que acabou vencendo a disputa internamente.
A escalada de tensão no processo comandado pelo irmão de Cid, Ciro Gomes, acabou por rachar os aliados e tornar impossível uma reconciliação imediata. Cid, diante do cenário, acabou por se afastar.
Quase quatro meses depois, o senador resolveu falar e demonstrou que discorda da versão dada pelo irmão Ciro para a motivação do racha. O presidenciável falou o tempo inteiro em “traição” e apontou a artilharia contra Camilo Santana.
Cid, entretanto, ao dizer que o rompimento ocorreu “contra a sua vontade” e ao anunciar apoio à candidatura de Camilo, vai no sentido oposto ao do irmão. Ao anunciar apoio ao petista, inclusive, Cid contraria uma determinação do PDT que tem questionado deputados que apoiam nomes de outra coligação.
Cenário de segundo turno
Outra leitura com repercussão na sucessão é em relação ao cenário da disputa de governador. Cid avaliou que haverá segundo turno no Ceará e disse que vai trabalhar para reconciliar os partidos após o rompimento.
Com essa declaração, ele deixa implícito que, na sua avaliação, Capitão Wagner (União) deverá estar no segundo turno e que apenas Elmano ou Roberto Cláudio irão à fase decisiva.
Diante disso, na compreensão dele, haverá mais um confronto entre governismo e oposição no Estado. E, além disso, reforça uma das teses defendidas no período de pré-campanha de que o grupo partidário alinhado ao governo Izolda deveria partir unido diante do cenário de consolidação do candidato da oposição, tese que acabou sendo ignorada.
Por fim, ao ser questionado se a ausência dele no primeiro turno colocaria em risco a candidatura do PDT ao governo, Cid foi taxativo ao mudar a rota na resposta: “não quero colocar em risco é a aliança que, infelizmente, apartou-se. Tenho esperança de que ela se renove no segundo turno”.
Em uma leitura simples, o parlamentar considerou ser mais importante reatar a aliança do que não colocar em risco a candidatura do PDT no primeiro turno.