Após a vinda da Amazon em outubro deste ano, novos centros de distribuição (CDs) devem chegar ao Ceará em 2022. Segundo o secretário executivo do Comércio, Serviço e Inovação da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará (Sedet), Julio Cavalcante, o Estado está em negociação para a chegada ou ampliação de cerca de 20 complexos logísticos no ano que vem.
Conforme dados da Sedet, os maiores empreendimentos do Ceará geram aproximadamente 4,6 mil empregos diretos.
De acordo com Cavalcante, o governo tem tomado uma postura ativa para atrair empresas de outros estados e multinacionais para o Ceará, no momento em que o Nordeste se mostra como uma região potencial para expansão de negócios. A atração de centros de distribuição também é importante para a geração de emprego local.
Com o avanço do e-commerce, os centros de distribuição se tornaram estruturas ainda mais importantes para que as empresas possam chegar aos clientes de forma mais rápida.
Para o secretário, a chegada da Amazon no Estado deve atrair concorrentes para o Estado, na corrida de entregar produtos o mais rápido possível aos consumidores. Ele afirma também que a Sedet está em conversa com grandes players do mercado que devem instalar estruturas semelhantes a partir do ano que vem.
“Na hora que a Amazon vem para o Ceará, o concorrente, que também queremos atrair, também fica com interesse maior de vir ao Ceará. A gente tem buscado atrair empresas que estejam nos setores priorizados, como logística, tecnologia da informação, cadeia da saúde”, destaca.
O boom do e-commerce
A pandemia acelerou uma mudança de consumo que já ocorria em passos mais lentos. As medidas de isolamento social forçaram o fechamento de lojas presenciais, tornando o online a única forma de realizar compras.
O presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon), Ricardo Coimbra, explica que os centros de distribuição se tornaram ainda mais relevantes para as empresas neste momento. Sem o cliente ter como ir à loja, ter CDs espalhados no país foi uma estratégia para bater à porta do consumidor.
Como o mecanismo de comercialização está muito forte no e-commerce, os estoques não estão tanto nas lojas físicas. Como parte significativa das compras é feita pela internet, fica mais rápido e barato [ter CDs]
É o que também aponta Julio Cavalcante. “Os CDs, ainda mais em um país continental como o Brasil, facilitam o serviço aos consumidores. Não adianta ter CD só em São Paulo e Rio de Janeiro se tem um grande contingente de pessoas no Nordeste”, diz.
Corrida até o cliente
Com as empresas migrando ou se fortalecendo no digital, apenas estar online não é o suficiente. O mesmo produto pode ser encontrado pelo cliente em diversos sites diferentes e em preços semelhantes e, neste momento, o diferencial competitivo é o tempo de entrega.
O gerente divisional de logística para o Nordeste, Norte e Centro-Oeste da Magazine Luiza, Antonio Paiva, conta que a empresa já realizou duas expansões no centro de distribuição no Ceará, sendo uma delas em 2021. Tudo com o objetivo de chegar mais rápido até o cliente.
A Magazine Luiza conta com CD no Ceará desde 2011, quando adquiriu a Lojas Maia e absorveu a estrutura de 7 mil metros quadrados (m²) da empresa. O espaço teve expansão para 19 mil m² em 2019 e para 21 mil m² em 2021.
“O Magalu tem o lema de ser a entrega mais rápida do Brasil. Quanto mais perto do cliente, mais rápida a entrega. Ter o CD no Ceará é importante para o cliente do Ceará ter o produto entregue mais rápido até ele”, coloca.
A Via, responsável pelas bandeiras Casas Bahia e Ponto, tem centro de distribuição no Estado desde 2015 e também realizou em maio deste ano expansão de 60% da capacidade para acelerar o tempo de entrega.
“Eu preciso ter estoque próximo para conseguir oferecer mercadorias em prazo para o cliente, [sem o CD] teria esse prazo de entrega estendido porque teria que vir de outra localidade”, reforça o diretor executivo de logística da Via, Fernando Gasparini.
Também em plena expansão, a RaiaDrogasil inaugurou um CD no Estado para possibilitar o abastecimento pleno de todas as farmácias - estabelecimentos que permaneceram aberto mesmo durante a pandemia.
Conforme o diretor-adjunto de operações do centro de distribuição da empresa, César Silveira Anicet Junior, mensalmente, 4 milhões de produtos passam pela estrutura no Ceará.
“O objetivo do CD é aproximar os estoques de produtos e medicamentos dos clientes, mantendo as farmácias sempre abastecidas. Estamos sempre trabalhando para abastecer nossas farmácias com rapidez e eficiência”, evidencia.
Foco no Nordeste
Para além do Sul e Sudeste, o Nordeste se mostra para as empresas como uma região estratégica para expandir operações. É o que percebe o diretor de operações da Amazon Brasil, Ricardo Pagani.
A multinacional já tinha centro de distribuição na Bahia e em Pernambuco antes de inaugurar a estrutura no Ceará.
A região é de extrema importância para a Amazon, tanto que inauguramos o nosso terceiro centro no Nordeste e o segundo nos últimos meses de 2021. O intuito da nova operação é aumentar a capilaridade logística da empresa no Brasil, melhorando a experiência dos clientes, por meio da maior quantidade e reduzindo o tempo de entrega em nível nacional
Em nota, a Americanas também chamou atenção para o potencial de crescimento de negócios na região. A empresa possui um centro de distribuição no Ceará desde outubro de 2020 e o espaço teve expansão de 60% ainda em 2021.
“O Nordeste é uma das regiões com maior potencial de vendas do e-commerce brasileiro e a segunda região mais populosa do Brasil, com mais de 57 milhões de habitantes. Essa economia pulsante, somada a estudos sobre o perfil de consumo da população local, direcionou nossos investimentos logísticos na região nos últimos anos, como inauguração e também a ampliação de centros de distribuição”, considera.
Diferencial cearense
Dentro do Nordeste, o Ceará tem algumas vantagens competitivas para sair na frente dos outros oito estados da região. A localização geográfica, o Porto do Pecém, o Aeroporto Internacional de Fortaleza, administrado pela Fraport Brasil, e mesmo o capital humano são alguns pontos que fazem a diferença, conforme Julio Cavalcante.
O fato de termos o Porto do Pecém em crescimento constante, o fato de termos uma costa larga com vários pontos de cabotagem é interessante. A Fraport nos coloca em relevância porque é uma operadora que mexe com carga e nos ajuda a fazer atração de empresas de logística que trabalhem com produtos que têm que ser transportados por avião
Segundo Ricardo Coimbra, o crescimento econômico do Estado também é visto pelas empresas como sinal de solo fértil para crescimento.
“O Ceará vem se destacando, a economia do estado do Ceará vem em um ritmo de crescimento maior que o resto do Nordeste. Vem maior que a média de crescimento nacional e da região. Isso acaba sendo um ponto extremamente positivo para a atração desses equipamentos”, diz.
O equilíbrio fiscal possibilita uma maleabilidade maior na hora da concessão de benefícios, o que ajuda na concorrência entre os outros estados. Mas, conforme Julio, essa não é a estratégia mais utilizada no momento da negociação.
“Os estados tentam dar atrativos e benefícios de redução ou isenção de impostos para atrair. A gente faz, mas não consideramos que esse seja um caminho sustentável, a gente não pode dar benefícios maiores do que outros estados do Nordeste. A gente tem dado ênfase a vantagens mais sustentáveis e uma delas é o posicionamento geográfico”, destaca.
A posição do Estado é estratégica tanto para empresas da América do Norte como da Europa – mais até do que o sudeste do Brasil. Ao mesmo tempo, a malha rodoviária, marítima e aérea possibilita a distribuição para o resto do País de forma facilitada.
Girando a economia
Além de terem uma importância logística para as empresas, os centros de distribuição causam uma boa reviravolta na economia local. Conforme o economista, Ricardo Coimbra, os efeitos podem ser percebidos antes mesmo da implantação da estrutura.
“Há a atração de atividades que possam ser complementares ao CD, empresas que trabalham com prestações de serviço de frete, por exemplo, motoristas. Empresa de manutenção de caminhões, pneus. Cria setores de atividades que são complementares, fortalece novas cadeias ao redor, alimentação, infraestrutura”, contextualiza.
Julio Cavalcante acrescenta que os centros de distribuição são equipamentos importantes para a geração de riqueza, contribuindo inclusive para o crescimento de pequenos negócios. A chegada de empresas de outros estados e países no Ceará está vinculada a investimentos de melhoria em rodovias e na malha marítima e aérea.
O secretário afirma que o impacto positivo dos CDs na economia é um dos motivos de o Estado buscar ativamente empresas que tenham interesse na região.
“O que a gente tenta fazer é mapear e analisar quais empresas são mais interessantes para vir para o estado do Ceará e tentar ter acesso a pessoas de decisão para mostrar que é importante estar no estado do Ceará”, explica.
Segundo ele, a Sedet mantém conversa com grandes players que demostraram interesse em vir ao estado. Não é possível, contudo, divulgar nomes até o fim da negociação.
Geração de emprego
Um dos pontos em destaque para a atração de investimentos em complexos logísticos é a geração de empregos. Julio Cavalcante estima que cada centro de distribuição gera, em média, 300 empregos entre diretos e indiretos.
Mas, para além do número, um ponto importante são os valores salariais mais altos. Isso ajuda a melhorar a renda média do Estado e o consumo.
O primeiro emprego do operador de máquinas do CD da Magazine Luiza, Ronaldo Alcântara, de 25 anos, foi em um centro de distribuição. Esse primeiro passo possibilitou uma carreira que o jovem pretende seguir na área da logística.
“Minha mãe trabalhava na loja e me disse que precisava de funcionário no depósito. Eu comecei como auxiliar, fui para conferente e de conferente para operador de máquinas hoje em dia”, conta.
Ele afirma que percebeu o impacto do e-commerce nas atividades do dia a dia, com o crescimento do CD. Para Ronaldo, ele também teve a oportunidade de crescer.
Originalmente da área de RH, a supervisora de logística da Via, Bárbara Karida, encontrou seu lugar no centro de distribuição quando estava desempregada. Mesmo sem nunca ter pensado em trabalhar com logística, o dia a dia agitado e dinâmico logo virou rotina.
A profissional cresceu rápido, passando de auxiliar de logística para assistente e, ano passado, para supervisora de operações, cargo que ocupa hoje. Mulher, ela fica feliz em estar em uma posição de liderança.
Eu amo trabalhar aqui, como mulher a gente vê que outras empresas têm certo preconceito. Meus gestores me incentivam e me capacitam para eu ser mais do que eu já sou
É o que também percebe a gerente de logística do CD da Raiadrogasil Ceará, Pryscila Lemes. Goiana, ela veio para o Ceará assumir o cargo e todos os dias trabalha para que a produção diária de 175 mil unidades chegue nas lojas de seis estados nordestinos no tempo correto e da melhor forma possível.
“Ser uma gestora mulher dentro desse segmento que predomina a figura masculina, fazer parte disso sendo gestora de um CD no Nordeste me causa muito orgulho”, ressalta.
Baixa vacância
O movimento de crescimento no número de centros de distribuição no Estado reflete na baixa vacância de condomínios logísticos. De acordo com o CEO da SiiLA - empresa que monitora o mercado imobiliário na América Latina -, Giancarlo Nicastro, a taxa de vacância no Ceará está em 0,33%.
No Ceará, o monitoramento começou em 2018, quando a taxa de vacância era de 6%.
Nicastro explica que o mercado de condomínios logísticos do Estado não é grande, mas é “bom”, com baixa rotatividade. A maior procura por condomínios logísticos tem acontecido em todo o País.
“A pandemia acelerou a forma como se consome grande parte das coisas, hoje se compra até pilha na internet. Coisas que são mais do dia a dia estão migrando para o mercado online. Automaticamente sai das lojas físicas para os imóveis logísticos”, frisa.
A vacância próxima de zero é explicada pela expansão de empresas e a chegada de novas. A Amazon ocupou 30 mil m², 10% de todo o mercado cearense, segundo ele.
Giancarlo detalha que ainda há espaço para crescer, mas as empresas que vierem para o Ceará podem ter de esperar um período de tempo maior para começar a instalação.
“A gente tem monitorado para o ano que vem mais 50 mil m² que devem ser entregues e até 2025 mais 75 mil m². Tem para onde crescer, tem terrenos, mas não adianta construir tudo de uma vez porque quando tem mais oferta que demanda afeta a rentabilidade dos ativos. Vai indo conforme o mercado vai aceitando”, justifica.