Mais da metade dos cearenses está descontente com o serviço prestado pela Enel Distribuição Ceará. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Opnus e divulgado com exclusividade pelo Diário do Nordeste nesta quinta-feira (25), 61% dos moradores do Ceará estão "insatisfeitos" ou "muito insatisfeitos" com os serviços da concessionária de energia elétrica.
Esse número se divide entre os 33% que estão "muito insatisfeitos" com a qualidade do serviço da empresa e os 28% que estão se dizem "insatisfeitos". Somente 20% estão "satisfeitos", enquanto outros 3% se enquadram em "muito satisfeitos". Outros 14% declararam estar "nem satisfeito, nem insatisfeito".
O levantamento foi realizado presencialmente com 1.700 pessoas com 16 anos ou mais em todo o estado do Ceará entre os dias 11 e 18 de abril de 2024. A margem de erro sobre os resultados totais da amostra é de 2,4 pontos percentuais, para mais ou menos.
Rejeição é maior na Região Metropolitana de Fortaleza
Quem mora na Região Metropolitana de Fortaleza é quem apresenta o maior grau de insatisfação contra a concessionária italiana. Ao todo, 69% dos cearenses que moram na RMF declararam estar "insatisfeitos ou muito insatisfeitos". Entre a população no Interior e na Capital também predomina o descontentamento do serviço prestado: 61% e 59%, respectivamente.
CEARENSES QUEREM OUTRA EMPRESA NO LUGAR
De acordo com a pesquisa do Instituto Opnus, 63% dos cearenses entendem que o "serviço deveria ser concedido a outra empresa". Os que acham que a "Enel deve continuar no Ceará" são 32%.
O atual contrato de concessão de energia da distribuidora italiana é válido por 30 anos e vence em 2028. Em 2024, a empresa completa oito anos de atuação no Estado, desde que assumiu os ativos da antiga Companhia de Energia Elétrica do Ceará (Coelce).
No ano passado, a empresa chegou a ventilar a possibilidade de vender sua participação no Ceará, assim como em Goiás, o que não prosperou. Atualmente, além do estado nordestino, a Enel atua no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde também acumula inúmeras reclamações.
INSATISFAÇÃO GERAL
Com o alto volume de reclamações, a realização da pesquisa, segundo Pedro Barbosa, cientista político e diretor do Instituto Opnus, dá uma maior dimensão aos problemas envolvendo os serviços prestados pela Enel Ceará aos moradores do Estado.
"A partir desses resultados, comprova-se que os episódios de má prestação de serviço e as críticas à empresa não são fatos isolados, mas uma percepção generalizada da população cearense", destaca.
Pedro Barbosa ainda ressalta que a insatisfação independente do segmento social, de gênero ou de renda. Para ele, assim como vem acontecendo nos últimos meses, com as cobranças do Poder Público, o levantamento dá maiores instrumentos para cobranças contra a concessionária de energia.
"Sem dúvidas, esses dados conferem ainda mais força à pressão que o Estado do Ceará, por meio das instituições governamentais e da sociedade civil, vem fazendo junto às autoridades do governo federal e Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] para a melhoria na prestação do serviço no estado", observa o cientista político.
Histórico negativo
Somente em 2024, o serviço de energia no Ceará passou por reiteradas reclamações. Já no Réveillon, diversos moradores em todo o Estado reclamaram do longo período sem eletricidade, situação que demorou a ser normalizada e ficou marcada pela desigualdade no território cearense. A empresa foi multada pelo Decon-CE em R$ 10 milhões pelo episódio.
No Carnaval, as fortes chuvas que atingiram Fortaleza e Região Metropolitana também trouxeram à tona os mesmos problemas. Bairros como Fátima ficaram mais de um dia inteiro sem energia, e alguns locais ficaram ainda mais tempo no escuro.
Em março, foi a vez de os municípios da Região Metropolitana do Cariri sofrerem com a interrupção no serviço de energia elétrica. Vários comerciantes tiveram prejuízos com a queda de luz, e muitos moradores tiveram de sair de casa devido ao calor, reclamação similar aos dos residentes no Porto das Dunas, na Grande Fortaleza.
Já em abril, o Beach Park, também no Porto das Dunas, ficou um dia inteiro sem funcionar ocasionado pela falta de eletricidade. Foi o estopim para entidades ligadas ao setor turístico explanarem que a situação é mais recorrente do que o normal.
A CPI da Enel, instaurada na Alece em agosto de 2023, tramita há oito meses com o objetivo justamente de apurar a qualidade do serviço prestado pela companhia italiana. Nesta quarta-feira, foi a primeira vez em que o diretor-presidente da distribuidora esteve na sabatina com os deputados para prestar esclarecimentos.
O que diz a Enel Ceará?
Questionada pela reportagem sobre os dois apontamentos da pesquisa, quanto à insatisfação e desejo de não continuidade da distribuidora, a Enel Ceará, por meio de nota, informou que está trabalhando para melhorar continuamente o serviço prestado na rede elétrica no Ceará, e enfatizou a mudança na gestão da companhia, ocorrida no início de abril.
Ainda nesta quarta-feira, inclusive, o diretor-presidente da empresa, José Nunes de Almeida Neto, depôs para a CPI da Enel na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece).
A distribuidora também ponderou que realizou investimentos próximos dos R$ 7 bilhões em expansão de rede elétrica, adoção de novas tecnologias e melhorias na rede de infraestrutura.
Confira a nota da Enel Ceará:
"A Enel reitera seu compromisso com os consumidores cearenses e informa que segue trabalhando na melhoria contínua da qualidade do fornecimento e na modernização do sistema elétrico do Estado.
No início do mês, a empresa anunciou a mudança de gestão no Ceará e informa que seguirá investindo fortemente no estado.
Nos últimos seis anos, a companhia investiu cerca de R$ 6,7 bilhões, principalmente na expansão da rede elétrica, inclusão de novas tecnologias, adequação da infraestrutura e construção de novas subestações. Apenas em 2023, foi investido R$ 1,6 bilhão, o maior investimento da série histórica da companhia.
Como resultado, a distribuidora registrou avanços expressivos nos índices de qualidade medidos pela agência reguladora do setor elétrico, a ANEEL. De 2020 para 2023, a empresa reduziu em 41% o DEC e em 38% o FEC. Os dois índices estão melhores do que os limites estabelecidos pela Aneel para o nível de qualidade no atendimento".