Entenda como funciona a tecnologia capaz de identificar a variante Ômicron no Ceará

Fiocruz e Secretaria da Saúde afirmam que Estado tem capacidade para identificar qualquer variante, mas alertam para importância da realização dos testes RT-PCR

Escrito por André Costa , andre.costa@svm.com.br
Legenda: A nova variante ainda está em estudo pela comunidade científica
Foto: Shutterstock

A pandemia da Covid-19 se aproxima dos dois anos de existência e, neste período, o vírus tem se mostrado resistente e com ampla capacidade de mutação, apresentando diversas variantes. Ao todo, cientistas já identificaram sete em todo o mundo - sendo quatro as principais Alfa, Beta, Gama e Delta.

No Ceará, segundo a Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado, três variantes já foram confirmadas: Alfa, Delta e Mu. Mas, como e onde é feito esse processo de identificação? O Ceará dispõe de tecnologia para identificar todas as variantes já identificadas?

Diário do Nordeste conversou com especialistas para explicar essas e outras questões relacionadas ao vírus que já matou mais de 22 mil pessoas no Estado.  A secretária executiva de Vigilância e Regulação da Sesa, Ricristhi Gonçalves, garante que o Estado conta com "totais condições para identificar qualquer variante" da Covid-19.

O coordenador da Rede Genômica da Fiocruz Ceará, Fábio Miyajima, também afirma que "o ecossistema da vigilância estadual, formado pela Sesa, laboratórios de diagnósticos e Fiocruz" consegue identificar qualquer cepa.

No caso da Ômicron, a mais recente variante identificada na África que representa "risco muito elevado" para o mundo, Ricristhi acrescenta que "ela ainda não foi identificada no Ceará".

Como ocorre a identificação? 

O processo de identificação de novas variantes, conforme a Sesa, é feito pela rede genômica comandada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e cujo o Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen) integra. Essa rede "tem dados de sequenciamento genético de todas as variantes que são compartilhadas entre as redes genômicas de todo o mundo e também pela OMS".

No Ceará, apenas essa rede tem tecnologia para identificar as novas variantes. Laboratórios particulares, segundo explica a Sesa, "não têm capacidade para realizar sequenciamento genético" e, portanto, não conseguem identificar novas variantes.

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"Esses locais fazem o teste RT-PCR e conseguem identificar a positividade da doença, mas não é possível identificar qual a cepa ou variante aquele paciente foi infectado", detalha a Pasta. A identificação ocorre através do sequenciamento genômico da variante. 

As mutações ocorrem quando o vírus faz cópias nas células humanas. Durante este processo, ele está sujeito a erros que acabam gerando mutações no código genético. Quando uma linhagem vírus Sars-CoV-2 reúne mutações distintas em comum, passa a ser chamado de variante. 

Apesar dessa alta capilaridade que lhe confere uma complexidade ímpar, a identificação da variante Ômicron "pode ser feita em um curto intervalo de tempo, em casos específicos, em poucos dias. É um processo feito com uma velocidade mais rápida quando comparado ao início da pandemia", observou a Sesa.

Alta capacidade de transmissão 

Fábio Miyajima explica que a Ômicron pôs o mundo em alerta devido ao "número de mutações ser mais que o triplo, principalmente na spike". A spike é a proteína vírus, uma parte considerada preponderante para entrar na célula humana. Das 50 alterações genéticas identificadas na nova variante, 32 estão na spike. 

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"No aspecto quantitativo e de qualidade, essas mutações são relevantes a tal ponto de a OMS ter escalonado direto a Ômicron para a [classificação de] variantes de preocupação, chamadas de VOCs [sigla em inglês para o termo variants of concern]. Ela não passou pela fase de monitoramento. Em questão de dias já foi considera uma variante de preocupação devido a quantidade de assinaturas moleculares e pela capacidade de transmissão", explica o especialista da Fiocruz.

A classificação na VOCs diz respeito a variantes que podem resistir à imunidade adquirida (por vacina ou infecção natural) e provocar versões mais graves da Covid-19. Apesar desse detalhamento, Fábio Miyajima adverte ainda não ser possível afirmar se a Ômicron é mais letal "e se ela vai suplantar a Delta". 

Legenda: Eficácia das vacinas contra a a nova variante do coronavírus ainda estão em estudo, mas já se sabe que ela tem potencial para interferir negativamente.
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Importância da testagem e da vacinação

Ricristhi Gonçalves e Fábio Miyajima são unânimes ao destacaram a vital importância do processo de testagem em todos aqueles que sintam qualquer tipo de sintoma. Apenas ter tecnologia - como ocorre no Ceará - para identificar a variante não adianta.

A secretária executiva de Vigilância e Regulação da Sesa alerta ser "preciso realizar o teste RT-PCR. Suspeitou de alguma síndrome gripal, vá imediatamente a uma unidade de saúde, nós temos testes disponíveis. É importante a testagem para que possamos identificar a possível entrada de novas variantes no Ceará". 

"Não adianta só os órgãos de segurança sanitária atuarem, a população tem que colaborar. A realização dos exames RT-PCR é indispensável, pois se fizer apenas o teste rápido, nós da Fiocruz não temos condições de fazer o sequenciamento", acrescentou Miyajima.

Outro ponto observado além da testagem, é ampliar o leque de pessoas vacinadas. Embora os três casos de infecções pela nova variante registrados no Brasil tenham se vacinado, de modo geral, as mutações dos vírus ocorrem em corpos que não estão imunizados.

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"Quanto mais gente sem imunização, maior a chance de o vírus ir se mutando. Enquanto houver a transmissão, haverá chance do surgimento de novas variantes", pontua o médico infectologista e professor da UFC, Ivo Castelo Branco.

O Ceará aplicou 13.387.993 doses da vacina contra o novo coronavírus, segundo dados do vacinômetro da Sesa, atualizado às 17h de quarta-feira (1º). Deste universo, pouco mais de 5,8 milhões são referentes à segunda dose (D2) e 166.354 à dose única, ou seja, cerca de 64% da população cearense está completamente imunizada. Especialistas alertam que para atingir a chamada imunidade de rebanho, é preciso completar o ciclo vacinal em mais de 75% da população. 

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